Daniel Knupp é médico de família e comunidade com atuação em Belo Horizonte (MG) e Secretário-Geral da SBMFC.
SBMFC: A SBMFC atua na representatividade dos médicos de família e comunidade. Os cenários político e econômico atuais são favoráveis para a especialidade?
Daniel: Vivemos um cenário político e econômico de muita incerteza, instabilidade e insegurança. Com algumas exceções, estados e municípios vivem um momento de escassez de recursos, o que afeta muito o nosso sistema de saúde. Em tese, em um cenário de crise como esse, a aposta na atenção primária e nos médicos de família e comunidade é uma boa alternativa para os sistemas de saúde. Entretanto, muitos gestores dão sinais de que ainda não compreendem isso muito bem. No campo da saúde suplementar, por exemplo, no qual se notam reflexos dessa crise, tem sido comum que as operadoras procurem estruturar serviços de atenção primária e voltem seus interesses para os médicos de família e comunidade. Esperamos que os gestores no SUS, principalmente nos municípios, façam o mesmo.
Além disso, é um ano de eleições para presidente da república, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Isso torna o cenário ainda mais turbulento e turvo. Mas há um lado bom nessas transições no executivo e no legislativo, que é a possibilidade de que se criem novas alianças e novos projetos em prol da MFC e da APS. Claro que é preciso estar muito atento, entender as propostas nas entrelinhas, pois há sempre o risco de propostas retrógradas, populistas, que enfraquecem a APS e a participação do MFC no sistema.
SBMFC: Na defesa da atuação dos MFCs titulados em concurso, como será a atuação da Sociedade para que todos os organizadores cumpram essa orientação?
Daniel: A SBMFC por meio de sua Diretoria de Exercício Profissional tem procurado monitorar e atuar junto às intuições que promovem concursos para vagas que possam ser ocupadas por médicos de família e comunidade, tanto no campo da assistência, em sua maioria para concursos para os serviços de saúde municipais, como no campo da docência, para professores em cursos de graduação em medicina de disciplinas ligadas à atenção primária ou aos campos de atuação do MFC.
Contamos sempre com os sócios da SBMFC e com as nossas associações estaduais para nos auxiliarem nesse monitoramento, sempre que possível nos informando sobre concursos relevantes em suas regiões. Esse fluxo tem trazido resultados interessantes, particularmente junto às instituições de ensino superior. Acredito que esse seja um caminho exitoso, e a cada concurso que oferece vagas para MFC acaba estabelecendo tendência à concretização desses campos. Basta lembrar que até a não muitos anos atrás praticamente não se viam concursos oferecendo vagas para médicos de família e comunidade.
SBMFC: Sobre residência, haverá novidades de acordo com a matriz da Comissão Nacional de Residência Médica?
Daniel: A CNRM, em sua última reunião plenária do ano passado, em dezembro, aprovou a matriz de competência para a residência em MFC. A matriz aprovada se baseou na matriz elaborada pela SBMFC, sendo feitos apenas poucos ajustes para adequar o formato ao que a CNRM pretende adotar para todas as especialidades. Certamente foi um momento de fortalecimento da MFC na CNRM e perante outras especialidades, pois ainda não estava claro para muitas instituições representadas na CNRM quais as competências esperadas de um MFC, o que levava a preconceito e resistências que não necessariamente tem fundamento.
Com a aprovação da matriz de competências para a residência em MFC podemos esperar que se diminua a heterogeneidade excessiva entre os programas de residência na especialidade, algo que ainda é um problema atualmente, e que se formem médicos de família e comunidade mais qualificados. O reflexo que se espera disso é que mais e melhores médicos de família ocupem espaço em diversas áreas e, com isso, novas portas sejam abertas para a especialidade.
SBMFC: Seis eventos com abordagens da especialidade estão programados para o primeiro semestre. Por que o MFC deve sempre se atualizar e participar?
Daniel: A quantidade e a multiplicidade de temas abordados nos eventos são a imagem da MFC atual no país, que busca contemplar e se aprimorar nas diversidades no campo do conhecimento e no campo dos fenômenos na saúde. Acredito muito que esse patamar que se alcançou é fruto da participação dos sócios da SBMFC, algo que historicamente temos estimulado. Nós médicos de família e comunidade devemos procurar participar dessas atividades sempre que possível, pois além de serem excelentes ofertas de aprendizado e atualização, o que é fundamental considerando que o conhecimento sabidamente tende a decair com o tempo, também são espaços de definições do rumo da MFC no país, uma vez que nossos eventos buscam ser sempre o mais participativos possível.
A agenda dos eventos programados está disponível no link: https://goo.gl/Kbpxyo.
SBMFC: Por que ser membro da SBMFC é importante para toda a especialidade?
Daniel: Mesmo numa óptica financista, vale a pena se associar. O valor da anuidade que temos praticado é um dos mais baixos entre as sociedades de especialidades, e só o valor de desconto em um congresso pode ser suficiente para cobrir o custo da anuidade. Sem mencionar os descontos em cursos, oficinas e editoras parceiras.
Mas o que me parece de maior valor mesmo são a condição de pertencimento, o fato de se ver como um profissional de uma especialidade diferenciada por ter o compromisso com o paciente com um de seus princípios, de participar de uma sociedade que está na vanguarda no mundo em nossa especialidade. Lembrando sempre que as ações da SBMFC são majoritariamente custeadas pelas anuidades dos sócios, uma vez que, por uma questão de princípios, não contamos com apoio da indústria de medicamentos, alimentos ou materiais médicos, algo que é quase a regra para as outras sociedades.