Atual presidente da SBMFC, Thiago Trindade traça um balanço do último biênio da Sociedade e fala sobre as perspectivas para a próxima gestão, com destaque aos novos médicos de família e comunidade
Por Danielle Menezes
Os últimos dois anos da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) trouxeram muitos pontos positivos para os especialistas da área e para a especialidade como um todo. Nos últimos dois anos, vários números ganham relevância e tendem a continuar na próxima gestão.
Um dos principais destaques foi o aumento do número de vagas para residência em MFC: em 2014, eram mil vagas; para o ano seguinte, 2015, o número passou a 1.500 vagas e, para 2017, as projeções ultrapassam as 2.700 vagas. Isso só foi possível graças ao apoio da Sociedade à qualificação dos residentes em MFC no Brasil. Segundo o presidente da SBMFC no biênio (2015-2016), Thiago Trindade, essa elevação foi um dos focos prioritários da gestão, que trabalhou na execução dos editais dos processos de expansão, incluindo a vistoria de novos programas. Aproximadamente 800 residentes estão fazendo o curso atualmente. Em 2014, eram 200, e em 2015, 400.
Esse aumento do número de vagas e de alunos na residência também se deve a outro motivo: a construção e o lançamento de um currículo baseado em competência, contexto em que a SBMFC teve um papel pioneiro e fundamental. “Com esse currículo, pudemos homogeneizar a qualidade dos programas de residência e da formação dos alunos”, afirma Trindade. Ainda de acordo com o especialista, o método só foi possível graças ao apoio de um grupo de professores do Canadá, que prestou consultoria à Sociedade. “Ao final, nosso produto foi adotado pelo próprio Ministério da Educação (MEC). Entrou como anexo da Resolução da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), que regulamenta todos os programas de residência de medicina de família e comunidade. Passou a ser um documento oficial dessa comissão.”
Aumentar e melhorar os programas de preceptoria também foi um dos pontos positivos da última gestão, com destaque para um novo modelo de formação que a diretoria da Sociedade está lançando. Em parceria com o Ministério da Saúde e com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a SBMFC preparou um modelo de treinamento a distância para todos os residentes de MFC do Brasil. O curso tem dois anos de duração e está previsto para iniciar em agosto deste ano. “Estamos apostando bastante nesse curso. Esperamos que, ao final, tenhamos mil residentes que serão médicos de família e comunidade, mas já com a especialização em preceptoria, e que vão atuar em novos programas de residência”, prevê Trindade.
A formação de preceptores está ganhando mais uma novidade: a SBMFC fechou uma parceria com o Ministério da Saúde, com a participação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para a realização de um mestrado profissional em rede para a formação de preceptores em MFC. “São dois projetos de grande porte, que estão agregando na formação dos preceptores e vão impactar diretamente a qualidade do ensino da MFC, tanto da residência quanto da graduação”, completa o presidente da SBMFC.
Encontros
A realização de eventos de medicina de família e comunidade e de áreas relacionadas é essencial para o reconhecimento da especialidade. O 13º Congresso Brasileiro de MFC, realizado em 2015 na cidade de Natal (RN), não foi diferente. Mais de quatro mil pessoas estiveram presentes no evento e aproximadamente 1.500 trabalhos foram apresentados, trazendo uma discussão científica importante para a especialidade. “O foco do Congresso costuma ser uma das áreas mais procuradas: as atualizações clínicas. Entretanto aproveitamos o evento para fortalecer outras áreas também importantes para a formação em medicina de família e comunidade no Brasil, e alguns princípios da nossa especialidade, como as habilidades de comunicação, a medicina centrada na pessoa, entre outros”, coloca Trindade. O 13º CBMFC também levantou discussões importantes sobre programas voltados para a atenção primária. “Tivemos várias mesas de discussões políticas, de formação de preceptores, sobre a necessidade da MFC para o sistema e sobre programas de provimento de médicos para a estratégia da MFC.”
A próxima gestão
De 2016 a 2018, uma nova diretoria deve assumir a gestão da SBMFC, porém, poucas mudanças devem acontecer na composição da diretoria em relação ao quadro atual. A eleição acontece em processo eleitoral com chapa única – a votação via área restrita do site da SBMFC aconteceu até 29 de junho – e o atual presidente, Thiago Trindade, postulou a reeleição ao cargo. Clique aqui e acesse a composição da chapa.
De acordo com o presidente da SBMFC, a próxima gestão vai trazer grandes estímulos para a Sociedade continuar crescendo. O primeiro desafio imposto será fazer a defesa plena de um sistema de atenção primária voltado para todos os brasileiros. “Que a gente tenha expansão de programas da atenção primária, especialmente da Estratégia Saúde da Família. Vamos continuar apostando, enquanto estratégia da SBMFC, na qualificação dos programas de residência e na formação de preceptores, mas com um alerta muito grande de que nós queremos ajudar na capacitação e formação dos profissionais e dos médicos que já atuam na atenção primária”, afirma.
Para o próximo biênio, a Sociedade deve oferecer novos produtos, levando mais tecnologias e informações para as equipes de MFC. Isso inclui também a realização de parcerias com universidades e gestores municipais, estaduais e federais. Dentro dessas parcerias, de acordo com o presidente da SBMFC, o foco é o desenvolvimento científico da atenção primária e da MFC no Brasil. “Contamos muito com a atuação das sociedades estaduais nesse trabalho. É preciso lembrar que esse é um papel não apenas da SBMFC, mas de todas as entidades e esferas”, conclui o especialista.
Apesar de organizado durante a primeira gestão, o Wonca vai acontecer no segundo semestre de 2016, período em que a nova chapa já estará no comando da SBMFC. Para Trindade, sediar um evento mundial de medicina de família e comunidade vai trazer um fortalecimento, já que os olhos da MFC mundial estarão voltados para o Brasil. “Será um momento de troca de experiência com colegas do mundo todo. Por isso, é um congresso de muita ebulição, fazendo com que você contamine diversos países positivamente no crescimento da especialidade, que é uma realidade que segue em boa parte do mundo”, afirma.
BOX – MFC na saúde suplementar
O presidente da SBMFC ressalta que o médico de família e comunidade atua na saúde suplementar há mais de 20 anos, porém, houve nos últimos anos um crescimento representativo dessa participação. “Várias operadoras foram descobrindo a medicina de família e comunidade e implementando o programa estrutural de atenção primária, em razão da necessidade de mudar seus modelos assistenciais. O projeto passou a inserir a MFC paulatinamente, mas já estava decidido.”
Na avaliação feita pela SBMFC, o especialista em medicina de família e comunidade tem papel fundamental nesse processo, tendo em vista o investimento que as operadoras têm feito na atenção primária. “A cada ano que passa, o número de médicos de família e comunidade que atendem na saúde suplementar vem aumentando. É muito provável que, em cinco a 10 anos, tenhamos nessas operadoras o modelo da atenção primária muito mais estruturado.”