“Como nos encaixamos na medicina rural? Precisamos, inicialmente, pensar em ambientes que não possuem todos os recursos necessários. Temos que dar o máximo de nós mesmos. Você precisa dar o máximo de si. Essa é a essência da medicina rural. Isso é fazer a diferença”. Foi com essa reflexão que o convidado internacional David Schmitz, membro do Wonca e médico de família e comunidade em Idaho (Estados Unidos), iniciou a conferência “Educação médica, força de trabalho e acesso à saúde: colocar as pessoas certas, nos lugares certos, na hora certa” na manhã de hoje (11/07) no 13º Congresso Brasileiro de Medicina de Família em Comunidade.
Ao falar sobre o ensino da medicina rural nas universidades norte americanas, Schmitz destacou que foi delineado um modelo educacional para que o estudante de medicina passe por um período de residência em áreas rurais. O primeiro ano de residência é realizado na área urbana e depois o estudante passa dois ou três anos na zona rural. “Esse modelo tem crescido nos Estados Unidos e nos últimos anos tem sido financiado do pelo governo. Vimos que os estudantes de MFC têm mais probabilidade de ficar no atendimento aos subatendidos após este período. Isso tem inspirado os estudantes e é exatamente o que precisamos fazer cada vez mais. Inspira-los a fazer a diferença em comunidades de subatendidos”, ressaltou.
A taxa de retenção dos MFCs rurais no Estados Unidos é de 50% após dois anos de formados. “Estudamos como os residentes veem a medicina rural. Percebemos que esses alunos acham importante prestar atendimento aos subatendidos. Ao final da faculdade de medicina já sabem como é viver em áreas rurais. Afinal, não trabalhamos somente lá, mas vivemos e fazemos parte da comunidade. O grande questionamento é como fazer a diferença nesses locais. Precisamos passar do medo para a esperança e para a realização. Precisamos nos entregar às oportunidades de fazer a diferença, atender às necessidades dos subatendidos”, ressaltou Schmitz.
Em 2007 surgiu a necessidade de um estudo das necessidades desses profissionais. “Precisávamos entender quais eram as aptidões e habilidades necessárias para os MFCs rurais”, resumiu Schmitz. O estudo revelou que 37% desses médicos estavam envolvidos com cesarianas e isso é necessário de se considerar para o ensino. “Vimos também que temos muitas mulheres na MFC, principalmente em MFC rural. Há uma grande diferença na prática clínica. Em 2007 eram mais homens que mulheres e, cinco anos depois, em 2012, tínhamos 67% de mulheres e quase a totalidade lidava com atendimento obstétrico. Mas elas não estavam recebendo treinamento para isso. Constatamos que esta era uma crise do ensino, que precisava ser revisto. Na universidade passaram a ensinar o que é preciso fazer. Mas também precisamos saber o porquê fazemos isso ou aquilo. E isso está vinculado aos pacientes enquanto seres humanos. Se conseguirmos ensinar isso, está ótimo para se sentirem confiantes ao prestar atendimento”, afirmou.