A FAPESP recebeu, no dia 2 de agosto, a visita de Daniel (Dan) Shechtman, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) e ganhador do prêmio Nobel de Química em 2011.
O objetivo da visita, realizada por iniciativa do próprio cientista israelense, foi conhecer os programas de apoio à pesquisa realizados pela FAPESP e prospectar a possibilidade de realização de futuras cooperações científicas entre pesquisadores do Technion com os do Estado de São Paulo.
De acordo com o Shechtman, no momento não há pesquisadores brasileiros na universidade israelense, sediada em Haifa, e que nos últimos dez anos revelou, além dele, mais dois prêmios Nobel de Química. Mas o Technion está aberto e terá muita satisfação em receber cientistas brasileiros.
“Tive a oportunidade de conhecer nesta passagem por São Paulo pesquisadores e professores muito bons. Aqui se faz uma ciência de muito boa qualidade e eu teria um enorme prazer em trabalhar com cientistas brasileiros”, disse Shechtman à Agência FAPESP.
Em sua segunda visita ao Brasil, como parte de uma missão organizada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel, o cientista israelense participou da abertura e proferiu uma conferência na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada nos dias 22 a 27 de julho em São Luís, no Maranhão.
Em sua conferência na SBPC, Shechtman relatou a saga para o reconhecimento da descoberta dos quasicristais – formas estruturais ordenadas, como os cristais, mas em padrões que não se repetem –, que lhe valeu o prêmio Nobel de Química em 2011.
Além do Maranhão, o cientista passou pelo Rio de Janeiro e São Paulo, onde visitou universidades e instituições de pesquisa como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Laboratório Nacional Luz Síncrotron (LNLS).
Em sua visita à FAPESP, Shechtman disse ter ficado impressionado com a quantidade de projetos de pesquisa de longa duração financiados pela FAPESP e com o volume de recursos investido em ciência no Estado de São Paulo.
“1% de todo o imposto arrecadado no Estado para financiar pesquisas representa uma cifra bastante impressionante. O trabalho desempenhado pela FAPESP é um bom exemplo de apoio à ciência que deve ser realizado em outras partes do mundo”, avaliou.
Investimento em jovens pesquisadores
Uma sugestão dada por Shechtman para as universidades e instituições de pesquisa no Brasil é que financiem fortemente jovens pesquisadores recém-contratados que demonstrem potencial de se tornar cientistas promissores.
Segundo ele, o Technion, por exemplo, disponibiliza recursos de mais de US$ 1 milhão para jovens pesquisadores recém-contratados montarem nos primeiros dois ou três anos na instituição seus próprios laboratórios.
“É só dispondo de seus próprios laboratórios que os jovens pesquisadores podem realizar experimentos especiais que outros cientistas ainda não fazem e poderão competir rapidamente com seus pares”, avaliou.
No Technion, do qual Albert Eistein (1879-1955) foi um dos maiores apoiadores e seu primeiro presidente, além de pesquisas sobre quasicristais, Shechtman ministra desde 1986 um curso sobre empreendedorismo tecnológico, em que estudantes de ciência e engenharia aprendem noções de marketing, administração e propriedade intelectual e são estimulados a abrir seus próprios negócios, baseados em tecnologia.
Após ganhar o prêmio Nobel de Química em 2011, o cientista israelense diz ter se tornado um “missionário da ciência”, viajando para diversos países com o objetivo de sensibilizar líderes sobre a importância de se investir em ciência, tecnologia e inovação, de modo a assegurar o desenvolvimento socioeconômico.
“A visita de Shechtman à FAPESP possibilitou uma troca muito interessante de experiências e opiniões sobre o papel da pesquisa e do empreendedorismo para o desenvolvimento da sociedade. Tivemos a oportunidade de ouvir as reflexões e a avaliação dele sobre como isso funciona em Israel e relatar o que vem sendo feito no Estado de São Paulo nesse aspecto”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP.
Shechtman foi recebido na FAPESP por Lafer, pelo diretor-presidente José Arana Varela e pelo diretor-científico Carlos Henrique de Brito Cruz.