Virgínia Leone Bicudo

Virgínia Leone Bicudo era mulher negra e uma importante porta-voz da psicanálise no Brasil e no debate de estudos raciais neste campo. Filha de um descendente de escravo e uma imigrante italiana, nasceu em São Paulo no ano de 1910.
Dedicada aos estudos desde muito nova, concluiu sua formação em 1930, em uma escola importante de São Paulo, que era considerada pioneira na renovação educacional do Brasil. Foi nesta escola que diplomou-se no magistério público estadual, atuando na educação em todas as esferas do mesmo.

Após ingressar no Curso de Educadores Sanitários do Instituto de Higiene de São Paulo, foi admitida junto à Seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar até 1938, quando foi nomeada educadora sanitária do local. Todavia Virgínia não estacionou no serviço público e em 1936 passou a cursar a graduação de Ciências Políticas e Sociais da ELSP (Escola Livre de Sociologia e Política).

Neste contexto que ela conheceu Durval Marcondes, dando início a avanços importantes para a construção da psicanálise em São Paulo. Bicudo foi pioneira em vários momentos de sua vida e no ano de 1938, era a única mulher dentre os bacharéis em Ciências Políticas e Sociais. Sua dissertação de mestrado, intitulada “Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”, foi a primeira a tratar da questão racial no Brasil:
“Entretanto, a ascensão ocupacional não confere ao preto o mesmo status social do branco, consideradas as restrições demarcadas na linha de cor […]”

Ao fim da década de 30, dedicou-se como “educadora sanitária” e “visitadora psiquiátrica”, escutando as questões de dificuldade que abarcavam as crianças. Ficou à frente de um programa na rádio em que se debruçava a ajudar pais com a educação de seus filhos.

Tendo fundado o Grupo Psicanalítico de São Paulo no ano de 1944 e no ano seguinte conquistado o cargo de docente de higiene mental na USP, foi convidada para compor o projeto Unesco sobre questões raciais. Foi acusada de exercer ilegalmente a medicina por sua prática clínica e por promover a psicanálise lançando mão de textos jornalísticos. No ano de 1955 foi para Londres estudar sobre psicanálise infantil.

Seus estudos auxiliaram na prática da pesquisa social com crianças, sendo considerados precedentes da mudança epistemológica da chamada sociologia da infância em 1980. Retornando ao Brasil foi diretora do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e ajudou na fundação da Sociedade de Psicanálise de Brasília. Virgínia Bicudo faleceu aos 93 anos.

Referência: 
SANTOS, E.S. O legado de Virgínia Leone Bicudo para a Sociologia da Infância no Brasil. Caderno de Pesquisa, São Paulo, vol.48, n.170, Oct./Dec. 2018.
TEPERMAN, M. H. I.; KNOPF, S. Virgínia Bicudo: uma história da psicanálise brasileira. J. psicanal. [online]. 2011, vol.44, n.80, pp. 65-77.