Daniel Soranz, secretário municipal da saúde, ministra conferência sobre a implementação do modelo de governança que se baseou na Reforma dos Cuidados Primários em Saúde de Lisboa e no modelo inglês
A reforma da Atenção Primária à Saúde (APS) no município do Rio de Janeiro foi um dos temas de destaque da Conferência Mundial WONCA de Médicos de Família e Comunidade. A redução das internações por causas sensíveis à APS, além do número de internações como um todo são vertentes que destacam a cidade que atualmente tem cobertura de 55%, com previsão de atingir 70% até dezembro de 2016. A conferência será ministrada por Daniel Soranz, atual secretário municipal do Rio de Janeiro, no dia 4 de novembro.
Soranz destaca que as clínicas da família são unidades desenhadas para induzir o melhor desempenho utilizando como principais referenciais os atributos da atenção primária. Já na recepção, a marca da reforma, cuidados de saúde comunitários de base populacional, personalizados e territorializados, em um cadastro onde o cidadão sabe qual unidade é responsável pela sua entrada no sistema, e mais profissionais dentro desta unidade fazem parte da sua equipe de atenção.
Em seguida a sala dos agentes demonstra a importância de uma estrutura física adequada e o respeito aos profissionais que fazem a diferença. Criada para abrigar os Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Vigilância em Saúde, esta sala apresenta a união entre tecnologias de saber popular e cultural da região, promoção da saúde, avaliação de determinantes sociais, metodologias educacionais, de georeferenciamento utilizando GPS, comunicação online mesmo fora da unidade, prontuário eletrônico com alertas para monitoramento e busca ativa de casos, criação de plano de cuidado personalizado para cada micro área e família de responsabilidade de cada Agente. Este espaço também retoma a importância da integração dos Agentes de Vigilância em Saúde, retomando conceitos fundamentais para a vigilância, como a territorialização; cada agente responsável por uma área de saúde da família, trabalhando em conjunto com a equipe, a longitudinalidade do acompanhamento, a responsabilização e aumento na autonomia no processo de trabalho, com avaliação não mais por produção e sim por resultados, e principalmente com valorizando a principal característica do trabalho dos agentes, a educação, em grupo ou individual em cada visita.
Três espaços mereceram atenção especial: a sala da mulher, da criança e de hipertensão e diabetes que são espaços criados prioritariamente para a consulta das enfermeiras de saúde da família, que concentram materiais educativos, instrumental e funcionalidade própria, apesar da aparente segmentação na prática diária e no dia a dia da unidade elas facilitam o processo de trabalho.
Outro padrão de qualidade é a prerrogativa de cada equipe ter consultório próprio, onde os profissionais podem personalizar o espaço de acordo com suas características e de cada comunidade. Todos os consultórios apresentam macas multifuncionais para Médicos de Família e Comunidade, computador de acesso ao prontuário eletrônico, com receitas impressas, e integração automática com os diversos Sistemas Nacionais de Informação, armário para objetos e livros pessoais de apoio clinico e material de apoio institucional.
“Na parte externa das unidades, a Academia Carioca e as hortas comunitárias finalizam a apresentação da unidade, e reforçam nosso objetivo principal para a mudança do modelo institucionalizando na pratica alguns dos nossos conceitos mais ricos. Vale destaque ainda à mudança no processo de trabalho, que envolve desde a ampliação do horário de funcionamento de 8h às 20h e de sábado de 9:00 ás 12:00h, muito bem recebida pelos usuários pelo aumento da acessibilidade como pelos profissionais que podem distribuir suas 40 horas em horários mais flexíveis, otimizando o espaço físico, até o aumento da responsabilização com mudança dos nossos indicadores de avaliação”, explica Soranz.
O investimento no aumento da resolutividade das equipes também foi apresentado, com coleta diária para os principais exames laboratoriais com resultados on-line, ultrassonografia uma vez por semana, raio X e eletrocardiograma com leitura e emissão de laudos à distância. Na Saúde Bucal com equipamentos modernos e um espaço cuidadosamente humanizado, foi apontado por todos como um dos pontos altos da unidade.
Certamente, com um dos maiores avanços do Programa Saúde da Família no Brasil na última década o Rio de Janeiro se consolida também como um importante centro na formação dos profissionais de saúde do SUS, com os cursos de especialização, a criação do Programa de Residência em Medicina da Família e Comunidade e enfermagem, os cursos técnicos e de mestrado implantados fomentados pela Secretaria Municipal de Saúde, com a integração profunda com todas as universidades da cidade.
“Demostramos uma altíssima capacidade de mobilização, organização, respeito aos recursos públicos. Quebramos o paradigma de que o privado é melhor do que o público. O segredo desse sucesso são as pessoas que trabalham na Secretaria Municipal de Saúde. Somos uma equipe apaixonada, que pensa da mesma maneira, e se esforça para que a população seja bem atendida. Acreditamos no Sistema Único de Saúde, e trabalhamos para que, cada vez mais, os cariocas possam ter ainda mais motivos para se orgulharem do SUS”, ressalta o secretário.
Mais que uma ambiência adequada e de alta qualidade, com agregação de diversas tecnologias na atenção primária, as Clínicas de Família simbolizam força da atenção primaria na condução de um novo modelo de sociedade preconizado na Reforma Sanitária Brasileira. Soranz finaliza ao explicar que “Unidos pelo desafio comum de melhor qualidade de vida a nossa população, chegou a hora de, agora mais que nunca, de defender as conquistas alcançadas, e trabalhar para que o Sistema Único de Saúde continue avançando até 150 unidades para cobrir toda a cidade do Rio de Janeiro”.
Números do RJ
Atualmente existem 1.080 equipes de saúde da família, o que gera uma cobertura de cerca de 55% da população carioca adstrita, com a previsão de atingir 70% até dezembro de 2016. As áreas de maior vulnerabilidade e locais em que estão registradas as Unidades de Polícia Pacificadora Sociais têm previsão de cobertura de 100% da população até 2020. Atualmente, estão cadastrados e são acompanhados mais de 4 milhões de cariocas no modelo se baseou na Reforma dos Cuidados Primários em Saúde de Lisboa, Portugal e na reforma do modelo inglês (NHS). Confira a apresentação.