O auditório principal do 17º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC) teve importante mesa redonda sobre Atenção Primária em Saúde Digital, das 13h às 15h, nesta quinta-feira (21). Médicas e médicos de família e comunidade, especialistas em e-saúde e gestores do Ministério da Saúde (MS) e de instituições de credibilidade, como a Fiocruz, compartilharam projetos, discutiram desafios e mostraram como a tecnologia vem sendo utilizada para melhorar o acesso e qualificar a assistência aos cidadãos.
Marcello Dalla, e-consultor e telerregulador no Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes, de Vitória (ES), mediou os trabalhos. Antes de abrir a palavra aos debatedores, ele comentou, de forma divertida, como os avanços das tecnologias em um curto espaço de 40 anos impactaram nossas vidas:
“Curiosamente, pouco tempo atrás, organizávamos um evento desses por telefone – telefone fixo! Hoje, contamos com inúmeros centros de saúde digital e as coisas prometem ficar ainda mais instantâneas”.
Plataformas inteligentes
A primeira palestrante da mesa foi Ivana Cristina de Olanda Barreto, pesquisadora especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz-Ceará, onde coordena o projeto de desenvolvimento da Plataforma ZELO Saúde e o Projeto de Pesquisa GISSA Intelligent Bot – plataforma Inteligente para a comunicação com os usuários da Atenção Primária à Saúde na Pandemia de COVID-19, compondo o Grupo de Pesquisa Laboratório de Redes Inteligentes e Integradas de Saúde – LARIISA.
A ZELO foi minuciosamente apresentada por Ivana, um entusiasta com as possibilidades de a ferramenta apoiar idosos dependentes, famílias, cuidadores e gestores. Aos profissionais de saúde, há um modelo específico da plataforma para a verificação de problemas, das doenças diagnosticadas, para a avaliação clínica, entre outras funcionalidades.
Rede Nacional de Dados em Saúde
João André Santos de Oliveira, médico de família e comunidade, coordenador-geral de gestão da informação estratégica em saúde do MS, representou a secretária nacional, Ana Estela Haddad.
A princípio, explicou como funciona e o organograma da Secretaria de Informação e de Saúde Digital, criada este ano, a pedido do presidente Luiz Ignácio Lula da Silva. A missão é formular as políticas públicas da área, monitorar o portfólio de tecnologias do MS e elaborar planos de transformação digital, entre outros pontos. É uma instância em interação transversal com as outras seis secretarias do MS.
Ele também compartilhou informações sobre a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), a plataforma nacional de interoperabilidade (troca de dados) em saúde, instituída pela Portaria GM/MS nº 1.434, de 28 de maio de 2020.
Além de ser um projeto estruturante do Conecte SUS, a RNDS é um programa que visa a promover a troca de informações entre os pontos da Rede de Atenção à Saúde, permitindo a transição e continuidade do cuidado nos setores públicos e privados.
Até 2028, a RNDS estará estabelecida e reconhecida como a plataforma digital de inovação, informação e serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes, comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde.
Vale frisar que o tratamento dos dados coletados pela plataforma possibilita a inovação, a pesquisa e o surgimento de novos serviços.
Uma década de e-SUS
Rodrigo Gaete, coordenador-geral de projetos e inovação na APS do MS, traçou os principais desafios de uma assistência primária digital. A começar pela integração com outros serviços em âmbito regional, estadual, nacional e internacional; a limitação de relatórios e análises situacionais, a baixa aprovação por parte das equipes do valor agregado, a transparência de dados e realidades. Ele discorreu também sobre os cenários de transformação digital, inclusive prevendo ataques de hackers e bloqueios de segurança.
“Dez anos de APS no SUS, uma década do e-SUS. Temos novidades como teleatendimento, cuidado compartilhado, rede colaborativa de inteligência analítica, dispositivo móvel de coleta, só para citar algumas”.
Boas perspectivas
O professor Rodrigo Cariri fez críticas aos retrocessos provocados por quatro anos de desgoverno e de ataques às demandas sociais. O agora, no entanto, ele enxerga com boas perspectivas, pelo olhar inclusivo e políticas públicas da atual gestão do Ministério da Saúde. Rodrigo diz que a expansão do prontuário eletrônico a partir da atenção primária é um desafio de nação. “É a alternativa sugerida e defendida pelo MS”.