A mesa redonda “Desafios contemporâneos de racismo na saúde: como se articulam a igualdade racial, a política nacional de saúde integral da população negra e os movimentos sociais” foi um momento importante do primeiro dia do 17º Congresso de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC).
A médica de família e comunidade (MFC) Rita Helena Borrer – negra e lésbica, conforme pontuou ao tomar a palavra – fez a apresentação dos convidados ao debate: Denise Ornelas Pereira Salvador de Oliveira, coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde da População Negra da SBMFC, e Andrey Lemos, diretor do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária em Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde (MS).
Denise abriu sua exposição mencionando que a ideia das discussões era a de aprofundar a reflexão sobre o papel de médicas e médicos negros e estudantes em formação, assim como sobre a saúde oferecida à população negra. Ela contextualizou historicamente as origens do racismo no Brasil desde a escravidão, passando por uma abolição, ocorrida a canetadas e cheia de vícios. Lembrou que até hoje há diferenças no tratamento entre brancos e negros que chegam a um hospital, por exemplo.
“Vírus não escolhe usuário, mas sabemos que o diagnóstico demora muito mais para as populações negras. Nas escolas de medicina houve aulas sobre saúde dos negros? Não há dados sobre o perfil racial dos médicos negros brasileiros nos conselhos regionais e federal de medicina”, criticou, antes de questionar à audiência: “Vamos fazer um exercício: olhe para o lado, quantas médicas e médicos negros você vê?”
O uso do poder político, econômico e social, especialmente pelo Estado, para determinar – por meio de ação ou omissão – quem pode viver ou morrer foi reprovado veementemente por Denise Ornelas.
“Essa desigualdade é real e temos de enxergar isso. A pergunta que fica para todos: como tornar a Medicina de Família e Comunidade, através de suas instituições e equipes, ferramenta efetiva de vida longa e saúde sem racismo?”, indagou.
A luta antiracista e pelos direitos LGBTQIA+, da mesma forma que a falta de políticas de prevenção, abriram a participação de Andrey Lemos. Ele ponderou que é extremamente relevante que os profissionais de saúde se atentem para as determinantes sociais.
“É difícil dizer para uma mulher manter a saúde quando ela corre risco todos os dias ao voltar para casa pela falta de luz elétrica em sua rua. Lamentavelmente, até hoje, os negros somos vistos como serviçais. É visível onde estão as pessoas negras e as brancas na sociedade. Isso, obviamente, impacta na assistência à saúde. Precisamos ter clareza dessas nuances para trabalhar por mudanças de fato”, opinou.
17º CBMFC
O 17º Congresso de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC) é realizado pela sociedade brasileira (SBMFC) e pela associação cearense (ACEMFC) desta especialidade. O evento acontece de 20 a 23 de setembro de 2023 em Fortaleza (CE).