Dois médicos de família e comunidade, docentes da graduação em instituições do Nordeste e Centro-Oeste, Thiago Trindade e Cléo Borges, foram homenageados por suas respectivas turmas como forma de agradecimento as contribuições de ambos à formação de seus alunos, inclusive, na valorização da MFC como disciplina fundamental na graduação em Medicina.
Atualmente, Trindade é docente das disciplinas de Epidemiologia Clínica, Programa de Aprendizagem em Atenção Básica e Internato em Medicina de Família e Comunidade da Universidade Potiguar (UNP). E Borges, Coordenador do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Cuiabá (UNIC).
Para Trindade receber esta honraria é um reconhecimento tanto a sua atuação como professor quanto como MFC. “Coloco-me como representante de uma especialidade por décadas ignorada e desrespeitada pelo meio acadêmico, que agora na medida em que o tempo passa, está presente de fato no ensino médico de graduação. Passando a ser reconhecida verdadeiramente pelos estudantes”, reflete. Segundo ele, atitudes como esta, prestam uma homenagem à própria especialidade, o que demonstra um novo reconhecimento.
Pela terceira vez Borges é homenageado em sua instituição, entretanto a primeira vez na história da Universidade que isso ocorre com o título de MFC como disciplina homenageada. “Creio que esta turma de uma forma ou de outra se vê mais interessada em questões coletivas ou de sanidade publica”, completou Borges.
Além de docentes, Trindade e Borges assumiram em 1 de agosto, respectivamente, os cargos de vice-presidente e diretor financeiro da SBMFC (biênio 2012-14).
Confira a entrevista realizada pela equipe da SBMFC News com Trindade e Borges. Satisfeitos, eles comentam a importância das homenagens. Acompanhe:
SBMFC News – Qual a importância de receberem a homenagem de seus alunos?
Thiago Trindade – Como docente e MFC é uma grande alegria receber esta honraria, pois simboliza que de alguma forma tenha ajudado na formação destes novos médicos. Fui o único MFC dentre os professores do Curso de Medicina homenageados pela Turma de Concluinte da UNP (2012.1).
Cléo Borges – É uma enorme satisfação. Isso é um feedback positivo de um trabalho bem feito. Não sou o melhor professor, nem o que possui mais títulos, mas para esta turma sei que tenho um valor especial, por um motivo ou por outro e creio que seja isto que conta.
SBMFC News – Há quanto tempo leciona? Qual o maior desafio na arte de ensinar?
TT – Comecei a atuar em 2007 na UFRGS (Univ. Federal do Rio Grande do Sul), passando depois pela Universidade Poriguar (UNP) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O maior desafio é conseguir motivar os alunos para as questões fundamentais da aprendizagem em Medicina, dentro de um paradigma voltado à medicina centrada na pessoa e baseada em evidências, em que eles próprios busquem desenvolver seu aprendizado.
CB – Leciono há 4 anos e o maior desafio é fazer com que as pessoas continuem seguindo seus sonhos, que os incentivos financeiros atrelados a profissão não os desviem de uma boa prática médica.
SBMFC News – O que é mais recompensador?
TT – É perceber nos novos médicos coisas que ensinamos e orientamos como base de sustentação para sua formação e que poderão os transformar em clínicos de verdade na arte do cuidar.
CB – Poder continuar trabalhando e lecionando é a maior recompensa. Sermos lembrados como homenageados de uma turma, é uma chancela de carinho que recebemos devido a um bom momento de convivência no período de formação dos futuros médicos.
SBMFC News – Quais aspectos acredita serem necessários em um professor para contribuir com uma formação de qualidade do futuro médico?
TT – É necessário antes de tudo ter uma boa formação clínica e pedagógica, atuar com ética, mas também ter humildade para reconhecer suas limitações, e exercer uma prática de excelência do cuidado, de maneira humanizada, tornando-se modelo para os alunos. Outro fator a destacar é a disponibilidade para ajudar os alunos nas suas demandas diversas de ensino, extensão e pesquisa.
CB: Um único: trabalhar com paixão! Amor à medicina! Já temos muitos técnicos, está faltando os apaixonados pelo que se faz.
SBMFC News – Por fim, no âmbito da MFC, ser professor e médico de família é uma forma de incentivar alunos a se aproximarem da especialidade e, consequentemente da APS e ESF?
TT – Certamente. Por muitos anos os alunos nunca tiverem esta possibilidade de ter contato com a especialidade de MFC, e o que não se conhece não se pensa em fazer. Observamos hoje que aos poucos com a presença de vários MFC’s lecionando nas Universidades em todo Brasil, percebe-se uma identificação maior dos alunos na graduação com a MFC, e o interesse de alguns em fazer a especialidade.
CB: Não apenas ser MFC, mas trabalhar em uma unidade de saúde da família faz muita diferença. Quando os alunos presenciam a intimidade dos pacientes conosco e a liberdade nas consultas, podemos não apenas ensinar teoricamente, mas mostrar com atitudes que isto não são relatos do passado ou histórias de um bom professor. Isto eh longitudinalidade, cuidar de pessoas ao longo da vida.