Mesmo com grande concentração populacional em grandes centros urbanos, a maior parte da população ainda reside em comunidades rurais que demanda de atendimento médico adequado com o contexto que vivem
Hoje, mais de 50% da população mundial é rural, mas apenas 23% dos profissionais de saúde atuam nesse meio. Além disso, 56% das pessoas que vivem na zona rural não são cobertas por serviços de Atenção Primária. Mundialmente, existe uma defasagem de profissionais de saúde em zonas rurais e remotas. Enquanto em Manaus há, por exemplo, um médico para 574 habitantes, no interior do Amazonas há um médico para 8.944 habitantes. Esses números mostram as diferenças entre rural e urbano no acesso à saúde. O número de pessoas que nunca foi consultado por um profissional de saúde, por exemplo, é maior em áreas rurais do que urbana. As informações são do Grupo de Trabalho de Medicina Rural da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
“No Brasil, os povos e comunidades rurais são aqueles que têm seus modos de vida e reprodução sociais relacionados predominantemente com o campo, a floresta, a água, a agropecuária e o extrativismo. São camponeses, trabalhadores rurais assentados, comunidades tradicionais, como quilombolas, ribeirinhos; pescadores artesanais e marisqueiras; as que habitam ou trabalham nas reservas extrativistas em áreas florestais ou aquáticas; aquelas atingidas por barragens e muitos outros. Essas populações usam os recursos naturais para sua subsistência, com a mão de obra familiar, e assim o processo de adoecimento dessas pessoas está relacionado a esse contexto, que difere em certa medida do cenário urbano”, explica Mayara Floss, jovem médica que atua em zonas rurais do Rio Grande do Sul.
Nesse sentido, ter profissionais de saúde próximo aos pacientes, como acontece na atenção primária, facilita o acesso à saúde. A criatividade no cuidado na zona rural é marcada, por exemplo, no uso de embarcações servindo como postos de saúde móveis e equipes de saúde itinerantes. A Atenção Primária é a porta de entrada do SUS e aborda os problemas mais comuns na comunidade, oferecendo serviços de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar.
Na área rural, os profissionais de saúde precisam ser mais resolutivos e ter um leque maior de procedimentos do que em centros urbanos, uma vez que as disponibilidades de outros profissionais e os recursos são mais escassos. Assim, os profissionais devem estar preparados para atender a uma população com perfil diferente da urbana, sabendo que em cada comunidade encontrarão pessoas e histórias únicas, moldadas pelo contexto em que vivem.
Magda Almeida, diretora de Medicina Rural da SBMFC ressalta que o médico de família e comunidade rural desempenha um papel diferente do o médico de família que trabalha em área urbana. Em alguns países, como a Austrália, para se trabalhar em áreas rurais, deve-se fazer uma residência específica para aprender sobre essas diferenças. “Outra especificidade da zona rural é que o tempo e ritmo de manejo de problemas de saúde costumam ser diferentes. Por exemplo, no caso das emergências, há necessidade de estabilização inicial antes do transporte para outros pontos do sistema de saúde. No que se refere às demandas hospitalares ou de cuidados específicos, o profissional de saúde rural amplia seu rol de habilidades e muitas vezes lança mão do domicílio como espaço de manejo”, compartilha a médica de família e comunidade que atua no Ceará.
Porém, ainda há a necessidade de treinar as equipes de saúde para trabalhar em áreas rurais com treinamento qualificado para atender as necessidades dessas comunidades que serão assistidas. Dessa forma, toda a população terá acesso ao atendimento de saúde com sua equipe que conhecerá sua vida, assim como o ambiente em que vive.