“Medicina de Família e Comunidade tem potencial muito promissor de promover mudanças”, diz novo secretário de Saúde de Goiás (GO)

27 de abril de 2022

Sandro Rodrigues assumiu a pasta em 18 de abril. “Medicina de família e comunidade tem importante papel em coordenar e estruturar o sistema de saúde”, ressalta
Rio de Janeiro, 25/4/2022

Ter um médico de família e comunidade à frente de uma secretaria estadual de Saúde tem potencial muito promissor, com abertura para provocar mudanças estruturais, analisou o novo titular da pasta da Saúde de Goiás, Sandro Rodrigues. Segundo ele, que tomou posse no dia 18 de abril, com a medicina de família é possível realizar mudanças “que entendam a lógica de um sistema de saúde com base em uma atenção primária robusta”. Além disso, permitirá, a integração entre todos os níveis assistenciais tornará a rede de saúde “mais harmônica com as necessidades das pessoas”.

“Só quando se tem um entendimento mais claro e organizado é que a atenção primária e a medicina de família e comunidade começam a ser valorizadas e inseridas”, disse Rodrigues. “A medicina de família e comunidade tem tentado ocupar cargos de gestão para trazer os cuidados primários de saúde à mesa de discussão, para pensar os direcionamentos dentro do sistema de saúde. Mas também é preciso pensar na intersecção que existe entre essas áreas e o sistema de saúde como um todo.”O novo secretário – que, antes de se tornar titular da pasta, atuou na Superintendência de Atenção Integral à Saúde de Goiás – destacou a ampliação da rede hospitalar goiana, com a construção de mais sete unidades em diversas regiões do Estado, e apontou a necessidade de coordenação de todo o sistema de saúde de Goiás como objetivo da pasta. Neste campo, destacou que a atenção primária é atribuição dos municípios, “mas o Estado tem o papel de coordenar o processo de dar suporte a municípios principalmente com mais dificuldade”, disse. “Neste contexto, nos hospitais e nas policlínicas, já foi pautada essa necessidade de integração com a atenção primária. Já é obrigatório, por exemplo, que as policlínicas tenham médico de família, justamente para fazer essa coordenação de cuidado e de transição para a atenção ambulatorial especializada.”

Toda a base do sistema está estruturada na atenção primária à saúde, “e aí o papel da medicina de família e comunidade como um ator bastante importante nesse processo também”, acrescentou o secretário.

Potencialidades e desafios
De acordo com Rodrigues, é preciso fazer uma “releitura da atenção primária” em Goiás: “Muitas das coisas que estão disseminadas aqui no Estado ainda remetem a uma posição muito inicial da atenção primária, e é preciso inovar, acoplar todas as ferramentas tecnológicas relacionadas ao processo de cuidado”.

Diante desse cenário, ele destaca como potencialidade o fato de haver um grupo de municípios bastante importante decididos a trabalhar com atenção primária. “Há um clima propício para o desenvolvimento da atenção primária aqui em Goiás. Desde o início de 2019 temos trazido evidências para a realização de alguns seminários importantes, até em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conassens)”, destacou.

Rodrigues disse, ainda, que a cobertura da atenção primária em Goiás está (em média) em 64% – mas que há desigualdades em alguns municípios: “É preciso analisar de forma regional, porque temos municípios com 10% ou 20% de cobertura e outros com 100%. É uma cobertura até interessante, mas que precisa melhorar – e quando se decompõe essa cobertura para o porte municipal, é preciso ter uma atenção mais cuidadosa com algumas regiões”.

Ele destacou a situação do Distrito Federal, em que há municípios populosos em situação de vulnerabilidade social, que acabam tendo baixas coberturas da Estratégia Saúde da Família e de Atenção Primária. Também, há dificuldades dos municípios pequenos com a retenção de profissionais, dadas as suas condições financeiras ou estruturais.

Metas
Uma das metas para 2023 – cujos planejamento e estruturação já estão em curso – é organizar um sistema mais robusto de residência médica, num esforço para o qual, acrescenta, “conta muito com a parceria da própria SBMFC”. “Hoje já contamos com ferramentas e com tecnologia educacionais que facilitem o acesso, por mais que o residente esteja distante da região metropolitana”.

“Temos o início de um grande sistema de formação, justamente para ter um grupo de trabalhadores com expertise maior em medicina de família e comunidade e em atenção primária à saúde. Mas, destaca ele, não adianta formar só médicos de família se enfermeiros, cirurgiões dentistas e todo o grupo não acompanhar”, pontuou.

A organização desse programa de residência tem parcerias no Estado, com centros universitários importantes a ele ligados. “A lógica é de organizar esse processo de uma forma a iniciar o programa no ano que vem, mas que a organização necessita ser feita durante este ano”.

Inovações em Atenção Primária à Saúde
Também para 2022 estão previstos ao menos dois seminários para discutir inovação em atenção primária da saúde – visando “aquela forma de fazer diferente, de “pensar fora da caixa” a qual estamos acostumados”, disse Rodrigues.

Ele finalizou destacando que, para realização desses projetos, há questões relacionadas a parcerias para desenvolvimento de pesquisa – tanto nos próprios programas de mestrado e doutorado em Goiás, como sobre outras parcerias com universidades. “Os seminários vão colocar os vários níveis do sistema para conversar e interagir, na perspectiva de ressignificar a prática de cada um deles, a partir da prática do outro. Isso é importante e interessante, uma vez que ganham o sistema de saúde e a sociedade como um todo.”