10 de outubro de 2025

Dia Mundial da Saúde Mental: dignidade, vínculos e justiça social


Neste Dia Mundial da Saúde Mental, 10/10, o Grupo de Trabalho de Saúde Mental da SBMFC propõe a ampliação do olhar: falar de saúde mental é falar de dignidade, de vínculos e de justiça social.

Uma prática antirracista nas instituições e na sociedade é, igualmente, uma estratégia de promoção da saúde mental, pois fortalece ambientes mais justos, solidários e saudáveis para todas as pessoas.

Dia Mundial da Saúde Mental: repensar o cuidado para além do Setembro Amarelo e a importância recorrente do tema, durante os 12 meses do ano

Neste 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, é fundamental ampliar a reflexão sobre os modos de cuidado e sobre os determinantes que influenciam o sofrimento psíquico.

Embora a campanha Setembro Amarelo tenha contribuído para visibilizar o tema do suicídio e estimular a busca por ajuda, a abordagem frequentemente centra-se na responsabilização individual, sem considerar de forma suficiente os fatores sociais, econômicos e raciais que determinam a saúde mental.

Situações como o desemprego, a insegurança alimentar, a ausência de lazer e a fragilização dos vínculos afetivos não representam fraqueza pessoal, mas sim expressões das desigualdades estruturais que compõem os determinantes sociais da saúde.

Pesquisas nacionais, incluindo estudos da Fiocruz e da Revista de Saúde Pública, evidenciam que indivíduos com menor renda e escolaridade apresentam até duas vezes mais risco de desenvolver sintomas depressivos.

Já em relação aos impactos do racismo na saúde mental e na própria prática de cuidados no campo “psi”, a professora Jeane Tavares tem apontado em produções cientificas e em sua página do instagram reflexões necessárias também ao MFC (siga o instagram: @saudementalpopnegra)

Esses achados reforçam que a incidência de transtornos mentais é atravessada por desigualdades raciais e sociais, exigindo respostas coletivas e políticas públicas integradas.

O pesquisador Paulo Amarante, referência da Reforma Psiquiátrica brasileira, denomina esse fenômeno de “despolitização do sofrimento”, ao se converterem dores sociais em diagnósticos individuais e medicalizar experiências que, em essência, têm origem na injustiça social.

Quando o cuidado se restringe à medicalização, perde-se a oportunidade de enfrentar as condições estruturais que produzem sofrimento.

Promover saúde mental implica, portanto, lutar por políticas públicas de habitação, renda, trabalho digno, educação, equidade racial e de gênero. Implica também reconhecer o território e a comunidade como espaços de cuidado e pertencimento.

“Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.”
— K. Murti

Sugestão de artigos para leitura:
– Discussão sobre possíveis impactos negativos da campanha do setembro amarelo: “Associations between a Brazilian suicide awareness campaign and suicide trends from 2000 to 2019: Joinpoint and regression discontinuity analysis” – https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165032724013661

– Correlação de políticas de transferência de renda com redução na taxa de suicídios: “Effect of the Brazilian cash transfer programme on suicide rates: a longitudinal analysis of the Brazilian municipalities” – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30456426/

Capítulo – Sua clínica tem cor: Sobre letramento racial e vínculo terapêutico”, de Jeane Tavares, do livro: Terapia Racial: diálogos sobre psicoterapia para a população negra – 

– Capítulo sobre a expressão do luto na população negra e o risco de iatrogenia no cuidado ao luto com essa população: “EXPRESSÃO DO LUTO NA POPULAÇÃO NEGRA: ENTRE O INVISÍVEL E O PATOLÓGICO”, o livro Saúde das populações negras na América e África: https://www.researchgate.net/profile/Jeane-Saskya-Tavares/publication/359268358_EXPRESSAO_DO_LUTO_NA_POPULACAO_NEGRA_ENTRE_O_INVISIVEL_E_O_PATOLOGICO/links/623213a64ba65b2481355a3f/EXPRESSAO-DO-LUTO-NA-POPULACAO-NEGRA-ENTRE-O-INVISIVEL-E-O-PATOLOGICO.pdf