Por Santiago Corrêa, coordenador do Grupo de Trabalho de Cuidados Paliativos
O momento pede mais por cuidados paliativos e no WONCA 2016 não foi diferente. Auditórios cheios para ouvir as discussões e aprendermos com quem faz isso há muito tempo e principalmente com quem faz isso muito bem feito. Alguns pontos especiais foram colhidos para serem comentados abaixo:
1) Foi realmente uma oportunidade de discutir o tema dentro da atenção primária. Não havíamos tido a oportunidade de discutir o tema com essa ótica de forma tão profunda. Parabéns as organizadores pela oportunidade que nos foi proporcionada.
2) O leque de temas é inesgotável e vimos somente uma pequena parcela do que pode ser feito e discutido. Muita gente procurando informações sobre e assim inicia-se o processo de aprendizado. Pelo despertar da curiosidade e principalmente pelo reconhecer das limitações.
No entanto, algumas situações precisam ser tomadas em conta para que seja possível ser oferecido cuidados paliativos na atenção primária e da mesma forma em outros níveis de atenção. Somente o fato que um profissional atenda pacientes que precisam cuidados paliativos não quer dizer que este esteja oferecendo cuidados paliativos. Isso tem que estar claro para todos profissionais. Algumas condições precisam ser tomadas em consideração e algumas delas estão listadas abaixo.
Para que um profissional execute cuidados paliativos no seu dia-a-dia ele não pode fazer sozinho. O cuidado paliativo é uma abordagem multidisciplinar e por que não interdisciplinar. O cuidado paliativo exige uma abordagem específica e conhecimentos específicos os quais são adequados segundo o nível de atenção em que esse profissional atua. Se essa abordagem específica não está sendo aplicada, é bem possível que não esteja sendo oferecido cuidado paliativo de forma adequada mesmo que estejam sendo atendidos pacientes com necessidades paliativas. A visão do profissional capacitado minimamente em cuidados paliativos, a filosofia de trabalho, a conduta, a técnica e as nuances dessa (comunicação, conhecimento clínico, filosofia, uso de ferramentas, etc…) são diferentes e esse precisa ter o domínio de tais condições para que possa ver o mesmo paciente que precisa cuidados paliativos de uma forma que reconheça as necessidades dessa pessoa doente e tenha o conhecimento que o permita aplicar isso da forma correta. A adoção dessa filosofia de cuidado leva por si só a mudanças na atuação desse profissional.
Esse adquirir de ferramentas, de conhecimento, de uma visão e filosofia de cuidados paliativos é extremamente necessário para o profissional que trabalha na atenção primária e aqui neste caso na Estratégia de Saúde da Família. Faz parte da realidade desse profissional o ter pacientes que precisam cuidados paliativos no seu dia-a-dia. Adquirir o conhecimento para trabalhar com eles é extremamente necessário vide a imensa demanda existente na atenção primária por tal cuidado e a necessidade de ampliar o acesso a esse cuidado para a maioria da população.
O potencial da Estratégia da Saúde da Família e da Medicina de Família em oferecer tal cuidado é imenso e é isso que vem sendo defendido. Se há oportunidade, a busca do conhecimento compete a cada um de nós para que possamos fazer mais pelas nossas pessoas doentes que precisam cuidados paliativos. O potencial é imensurável e o seu aproveitamento passa por reconhecer as nossas limitações e transformar essas em uma engrenagem que gere benefícios para todos que necessitam desse tipo de cuidado.
O WONCA 2016 mostrou que há muito gente interessada no tema do cuidado paliativo. Que façamos um 2017 de muitas atividades vinculando esse tema a atenção primária. Esperamos vocês participando de algumas delas, buscando conhecimento e compartilhando suas experiências com todos. O crescimento de todos depende de todos nós. Sempre é possível fazer mais e isso depende exclusivamente de nós e de como encaramos a nossa situação.