Comentários sobre o funcionamento de unidade sanitária em escola médica

11 de dezembro de 2017

Thiago Trindade, presidente da SBMFC, compartilha o artigo “Comments on the operation of sanitary unit in medical school”, disponível no link https://goo.gl/E6jaHf. Talvez um primeiro relato brasileiro de ensino na atenção primária na graduação em medicina.

“Publicado em 1971, o artigo descreve toda a implementação do centro de saúde escola e sua proposta de ensino, na escola paulista de medicina. Vejam a riqueza de alguns extratos do artigo abaixo; imaginar que foi pensado, executado e escrito há 47 anos”, comenta Trindade.

Além disso, o médico de família e comunidade que também é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, também destaca os trechos abaixo:

“É imperioso que, durante o curso, os estudantes recebam orientação e treinamento que os familiarizem com as técnicas e programas de saúde pública e conheçam, objetivamente, o funcionamento das Unidades Sanitárias com as quais deverão colaborar e das quais deverão receber apoio no exercício de suas atividades profissionais, sendo, portanto, conveniente que encontrem, na própria Escola, condições de trabalho iguais ou semelhantes às dos órgãos oficiais.

O ensino ministrado fora dos muros das Escolas tem sido enfaticamente recomendado por propiciar oportunidade de se aplicar, em pequenas comunidades, conhecimentos clínicos aliados a uma ação preventiva e evidenciar a dinâmica da integração do homem no meio em que vive, pois qualquer área demógrafo-sanitária é melhor do que ambulatórios e hospitais para demonstrar os reais problemas de saúde de uma região.

A prática do ensino em contato direto com a comunidade, além de concorrer para perfeito entrosamento do pessoal didático, ainda facilita a formação de equipes multiprofissionais e a participação conjunta de seus diversos elementos, cujas funções serão melhores observadas e compreendidas pelos alunos.

Fundamentado nas razões acima expostas, o Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina decidiu instalar "intra-muros" uma Unidade Básica de Saúde que permitisse o ensino "extra-muros" estabelecendo como "comunidade-escola" a população residente nas suas imediações.

Conquanto a ideia da criação e instalação de uma Unidade Sanitária para servir ao ensino na Escola Paulista de Medicina tivesse sido sugerida às autoridades estaduais em 1959, somente em 1968 foi acolhida pela Secretaria da Saúde. O interesse do Governo do Estado em difundir os conceitos de Medicina Preventiva e estreitar suas relações com as Escolas Médicas, visando ao imediato aproveitamento, no Serviço Público, das técnicas mais modernas e das recentes descobertas nos setores de prevenção e terapêutica, além da formação e treinamento de pessoal técnico e auxiliar, possibilitou a celebração de um convênio estabelecendo bases para instalação e operação conjunta de um Centro de Saúde, nos moldes do que fora recentemente firmado com a Faculdade de Ciências Médicas dos Hospitais da Santa Casa.

A participação efetiva do aluno nas atividades do Centro de Saúde despertará seu interesse para os aspectos sociais e ecológicos, levando-o a compreender a importância de estabelecer como prioridade a solução dos problemas coletivos, mesmo quando atue em nível individual, tendo sempre em conta a inter-relação homem-ambiente e os múltiplos fatores que afetam o equilíbrio do binômio saúde-doença.

Não deve haver, nos serviços de saúde de uma comunidade, separação entre as atividades de prevenção e de tratamento. Não bastassem as razoes de ordem técnica e econômica, como a multiplicidade de pessoal e de instalações, as dificuldades de administração e de coordenação, há ainda a expectativa da população em encontrar, em um mesmo local, solução para todos os seus problemas de saúde, e, o mais importante, a consideração do homem de forma integral.

Do ponto de vista didático, seria da maior conveniência que o Centro de Saúde fosse instalado e atuasse numa área com população e características urbanas e rurais. Entretanto, como salientamos anteriormente, entendemos que devam existir na própria Escola, condições que se assemelhem às das Unidades da rede oficial. Além disso, motivos de ordem administrativa, as facilidades de comunicação, a coordenação e supervisão, o aproveitamento de instalações e de pessoal, a dinamização das atividades ambulatoriais e hospitalares através da visitação domiciliar, a utilização de um único local para atividades preventivas e curativas, e as razões econômicas, levaram-nos a preferir a área onde se localiza a Escola e o Hospital.

Neste primeiro inquérito, realizado em 1969, procurou-se colher informações sobre as características da população quanto aos grupos etários, à utilização de serviços de saúde, o número de nascimentos e óbitos, a situação quanto agrave; imunização, além do cadastramento das habitações com detalhes a respeito de suas condições, usando-se os critérios adotados pelo IBGE para o censo de 1970.

Verificou-se que a área inicialmente escolhida possuía cerca de 70.000 habitantes, população acima da capacidade de atendimento da Unidade.

Quanto à prevenção, procuramos dar maior ênfase aos trabalhos de imunização, sem descuidarmos de promover o atendimento integral dos pacientes, recomendação constante que fazemos aos alunos em todas as oportunidades".