Autores de artigos oriundos de Trabalhos de Conclusão de Residência em MFC são premiados

8 de dezembro de 2023

Na última terça-feira, 5 de dezembro, comemoramos o Dia Nacional da Médica e do Médico de Família e Comunidade. Não poderia haver ocasião mais auspiciosa para apresentar alguns dos autores dos trabalhos selecionados pelo edital “Produção Acadêmica de Programas Brasileiros de Residência em Medicina de Família e Comunidade”. Em live promovida no Instagram da SBMFC, a partir das 19h, o público pôde conhecer os profissionais por trás dos três artigos mais bem avaliados.

         Comprometida com a valorização da produção científica na área, a diretoria da SBMFC lançou o edital em junho de 2023. O objetivo foi incentivar residentes e preceptores a transformarem os Trabalhos de Conclusão de Residência (TCR) em artigos de alta qualidade, submetendo-os à avaliação criteriosa da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (RBMFC).

         Da iniciativa desabrocharam os trabalhos “Abordagem familiar sistêmica para o fechamento de vida em cuidados paliativos na Atenção Primária à Saúde”, do residente Hugo Sant’Anna Alves e da orientaora Carmen Luiza Correa Fernandes; “Burnout em residentes de saúde da família: um estudo longitudinal”, do residente Luciano de Paula Loyola Netto e da orientadora Luciane Loures dos Santos; e “Luta comunitária e direito à saúde: experiências sobre a conquista da Unidade Básica de Saúde no Vista Bela”, da residente Flora Mestre Passini e da orientadora Beatriz Zampar, todos publicados em seção exclusiva da Edição Especial Residência Médica da RBMFC. A revista pode ser acessada em rbmfc.org.br/rbmfc.

         Os outros 22 artigos selecionados estão disponíveis mesmo link. Ao todo, até o dia 15 de julho, 44 foram recebidos e avaliados por um comitê conforme a inovação do tema, a relevância do trabalho para o cuidado em saúde na prática cotidiana da MFC, a clareza dos objetivos e a adequação do texto, e a relação com um ou mais eixos estruturantes da MFC: abordagem centrada na pessoa na perspectiva sistêmica, abordagem familiar, abordagem comunitária, e gestão, ensino e pesquisa no âmbito da MFC.

         Residentes quando escreveram o TCR, a dra. Flora Mestre Passini, o dr. Hugo Sant’Anna Alves e o dr. Luciano de Paula Loyola Netto, agora médicos de família e comunidade, serão premiados com a isenção da taxa de inscrição para o 18° Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, a acontecer em Manaus em 2025.

 

Inovadores e necessários

         “Nosso trabalho nasce de um estudo de caso feito a partir da Atenção Primária à Saúde em Porto Alegre. Ao acompanharmos um usuário da atenção primária em cuidados paliativos e sua família, apresentamos as possibilidades de aplicação, nesse contexto, das ferramentas da abordagem familiar sistêmica, que fazem parte da matriz de competência das médicas e dos médicos de família e comunidade”, conta o dr. Hugo, autor de “Abordagem familiar sistêmica para o fechamento de vida em cuidados paliativos na Atenção Primária à Saúde”, que se formou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e concluiu a residência no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), na capital gaúcha.

No artigo, ele expõe o instrumental usado para análise, intervenção e apoio da família para o fechamento de vida, debatendo e teorizando vários elementos que podem ser encontrados na realidade assistencial da atenção primária. O dr. Hugo lembra que alguns estudos indicam que não apenas os médicos de família e comunidade, mas também outros profissionais, como enfermeiros da estratégia de saúde da família, têm dificuldade de colocar em prática a orientação familiar no campo dos cuidados paliativos. “Daí a importância da discussão”, defende o médico.

Já o dr. Luciano, que se graduou pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e fez residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP), em “Burnout em residentes de saúde da família: um estudo longitudinal”, acompanhou os residentes de Medicina de Família e Comunidade e os residentes da Residência Multiprofissional em Atenção Integral à Saúde do HC a fim de analisar como se dá, nessa fase da formação profissional, a manifestação da síndrome.

         “Fizemos avaliações periódicas para investigar se existem momentos específicos na residência em que ocorre a agudização da Síndrome de Burnout e se há fatores que favorecem seu desenvolvimento. A decisão de submeter o artigo oriundo do Trabalho de Conclusão de Residência à RBMFC veio do desejo de jogar luz sobre o tema. Afinal, sabemos que essa doença é um fator precipitante para várias outras”, pondera.

         Hoje, concluída a residência, o dr. Luciano, que afirma ter sido escolhido pela Medicina de Família e Comunidade, é um preceptor atento. Ele relata que a pesquisa o auxilia a perceber em que períodos as taxas de Burnout costumam ser mais altas, para pensar, junto com a coordenação, em estratégias de prevenção e redução de danos.

         Também o encontro da dra. Flora com a MFC foi um divisor de águas. A médica, que ansiava atuar na área da saúde da mulher, conheceu a especialidade quando compunha o movimento estudantil da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde cursou a graduação. “Depois do 14° Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, que aconteceu no final de 2017, em Curitiba, eu não consegui mais me ver fazendo outra coisa.”

         Seu TCR, que deu origem ao artigo “Luta comunitária e direito à saúde: experiências sobre a conquista da Unidade Básica de Saúde no Vista Bela”, foi desenvolvido durante a pandemia de Covid-19. Enquanto fazia a residência da Autarquia Municipal de Saúde de Londrina, no bairro Vista Bela, periferia da cidade, ela promovia atividades comunitárias e tentava se aproximar das lideranças locais para orientar melhor a população quanto à prevenção contra o coronavírus.

         “Com o tempo, fortalecemos o vínculo entre os trabalhadores do posto e as porta-vozes da comunidade. Era um território marcado pela presença do programa Minha Casa, Minha Vida, e habitado por famílias predominantemente chefiadas por mulheres negras, que ganhavam até três salários mínimos e lutavam contra a pandemia e contra a fome. Nós as entrevistamos e buscamos documentos oficiais, artigos de revistas e jornais, postagens em redes sociais para compreender melhor as dinâmicas estabelecidas ali. Direito à saúde, direito à cidade, feminismo negro, decolonialidade, luta contra o capitalismo e a lógica neoliberal foram tópicos que atravessaram nossas pesquisas.”

         Para a dra. Flora, a premiação organizada pela SBMFC e a live realizada na noite de terça reforçam o caráter coletivo da ciência. “Juntos, nós construímos saberes. E agora, mais do que nunca, com a democratização das universidades e a entrada na nossa especialidade de pessoas antes marginalizadas, o povo está no centro dessa construção”, celebra.