21 de março de 2018
Como médicos e médicas de família e comunidade, estamos diariamente em contato com questões íntimas da vida das pessoas que cuidamos. Adoecimentos, sofrimentos, conflitos que impactam na percepção de saúde do indivíduo. Por vezes, na rotina acelerada do consultório, deixamos de nos atentar aos prejuízos emocionais e físicos que o racismo impõe às pessoas negras.
Tanto estas são questões relevantes que estudos de diversas áreas da medicina já sugerem a importância de um olhar cuidadoso às questões raciais e no cuidado de indivíduos expostos de forma continuada a estes estressores.
O adoecimento, físico e psíquico, gerado pelo racismo mostra a crescente necessidade de abordarmos tais situações na avaliação integral da pessoa.
E como podemos trazer uma postura mais empática para nossa prática no que tange às questões raciais ?
Uma das principais pautas relacionadas à saúde da população negra na atualidade diz respeito à violência.
Há, de fato, maior risco de mortes, transtornos mentais comuns, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, HAS, Dislipidemias, Diabetes, compulsão, IAM, impactações por causas externas e outras iniquidades em saúde em comparação a outros grupos étnicos.
Tal situação reforça a necessidade de a categoria médica ter visão intersetorial e multifacetada do processo saúde-doença nos mais variados territórios de nosso país; de estar sensível tanto à escuta e à ampliação da sua prática clínica quanto ao posicionamento de apoio por uma gestão pública que reconheça e intervenha nesses fatores sociais a fim de minimizá-los com equidade conforme garantido na Constituição, Lei 8080/90, Portaria 936/2004, Portaria 992/2009, Portaria 2436/2017.
Como médicas e médicos de família e comunidade, trabalhadores com o privilégio do contato direto e longitudinal com esses grupos sociais, nos responsabilizamos pelo cuidado individual mas também coletivo, sendo também nosso papel denunciar situações de cerceamento desses direitos já garantidos às populações e que impactam diretamente na sua saúde.
Nota do GT de Saúde da População Negra da SBMFC