Médicas e médicos de família empenhados em incentivar a amamentação, assim como em ampliar licença-maternidade para 6 meses
Existe uma certa crítica à colorização do calendário em saúde. Os poréns são mais pelo que não se mostra em interesses comerciais. Pois se há campanha 100% raiz, com ações que não engendram uso de medicamentos e/ou exames, uma é o Agosto Dourado.
Ele visa unicamente a promoção e incentivo da amamentação, reforçando a extrema importância para a saúde materno-infantil. A denominação de “dourado” simboliza o padrão ouro da amamentação, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a forma ideal e exclusiva para alimentar bebês, principalmente nos primeiros seis meses de vida
Os médicos e médicas de família e comunidade assinam embaixo. Daí ser importante aproveitar o Agosto Dourado para esquentar o debate da extensão da licença maternidade para seis meses.
“É o nosso principal déficit e a maior contradição que enfrentamos atualmente. Precisamos lutar para que a licença seja ampliada, permitindo que as mães possam amamentar seus filhos de forma exclusiva até essa idade”, defende a MFC Júlia Morelli.
Ela relembra o quanto o Brasil e a população brasileira foram responsáveis por colocar a amamentação materna no centro das discussões mundiais de saúde. Isso a partir de estudos do epidemiologista César Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sobre nutrição materno-infantil, iniciados nos anos 80, que comprovaram que o aleitamento exclusivo, sem água ou chás, reduz em 14 vezes o risco de morte infantil por diarreia e em 3,6 vezes por doenças respiratórias.
Em 1991, o resultado de suas pesquisas deu origem a uma política de governo no Brasil. O aleitamento exclusivo passou a ser recomendado por organismos internacionais de saúde e voltados para a infância, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e começou a ser adotado por outros países, especialmente em regiões mais pobres da África e Ásia.
Combate às desigualdades
Neste 2024, campanha do Ministério da Saúde foca a redução das desigualdades no apoio à amamentação e na proteção dos direitos das lactantes, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vislumbra garantir a sobrevivência e o bem-estar das crianças. Um dos principais focos é o apoio às lactantes em situações de emergência, como desastres naturais, que dificultam o acesso ao apoio necessário para a amamentação.
Os principais objetivos do Agosto Dourado incluem:
- Promover o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, conforme recomendado pela OMS.
- Informar e educar a população sobre os benefícios da amamentação para a saúde do bebê e da mãe.
- Apoiar as mães que enfrentam dificuldades para amamentar, oferecendo informações verdadeiras e suporte.
- Estimular a implementação de políticas públicas que favoreçam a amamentação, como a ampliação da licença-maternidade para seis meses.
Júlia reitera que o Brasil tem grande expertise em políticas públicas que incentivam a amamentação. Frisa contudo que isso precisa se traduzir em realidade em todos os serviços de saúde.
“O trabalho é intensificado em agosto, mas deve ser contínuo, para que essas metas se tornem ações efetivas junto às comunidades que atendemos”, completa a médica.
Um caminho a percorrer
O Brasil enfrenta outros desafios em relação à amamentação. Na década de 1990, cerca de 30% das crianças eram amamentadas exclusivamente até o quarto mês. A PNS 2019 indica que aproximadamente 44% das crianças menores de 6 meses estavam recebendo aleitamento materno. De acordo com os dados da pesquisa, a taxa de aleitamento materno exclusivo até os 4 meses foi cerca de 54% naquele período.
A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que, até 2030, esse índice atinja 70%.
O papel da Medicina de Família nessa luta
A Medicina de Família e Comunidade tem uma atuação importante no sentido dessa orientação e cuidado. Diferentemente de outras especialidades, o médico de família acompanha a mulher durante todo o ciclo, desde a gestação, passando pelo parto e continuando o cuidado durante o puerpério e a puericultura. “Isso faz com que tenhamos uma ferramenta muito importante, que é a abordagem da amamentação dentro desse contexto de longitudinalidade, onde o foco não está em cuidar só do problema, da intercorrência, mas sim em poder trabalhar isso ao longo do tempo com aquelas pessoas”, pontua Júlia.
A especialista ressalta ainda que o médico de família não apenas cuida da mulher ou da criança isoladamente: “Temos um olhar sobre os dois, o que será bom e saudável para ambos”, complementa. Assim, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, através de profissionais como Júlia Morelli, segue empenhada em promover a saúde por meio do incentivo ao aleitamento materno, sempre em busca das melhores práticas para o bem-estar de mães, bebês e toda a família.