Hora de avançar com a Estratégia Saúde da Família

20 de setembro de 2023

Foto: Henrique Cardozo

A primeira mesa redonda do 17º Congresso de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC) teve como tema “Estratégia de Saúde da Família (ESF), agora mais do que nunca”. Os palestrantes foram a médica de família e comunidade (MFC) mexicana Viviana Martinez; o coordenador da Rede de Pesquisa em Atenção Primária em Saúde da Abrasco (Rede APS) Luiz Augusto Fachini; e o secretário de Atenção Primária à Saúde (Saps) do Ministério da Saúde (MS), Nésio Fernandes.

A moderadora e diretora científica da SBMFC, Inez Padula Anderson, abriu os trabalhos lembrando os tempos difíceis e de retrocessos vividos em anos recentes e chamou a todos para atuar juntos e firmes pelo fortalecimento da ESF. “Agora mais do que nunca é a hora de avanços”, destacou.

A MFC com atuação importante na Wonca, Viviana Martinez, registrou a importância de se qualificar a MFC em termos nacionais e internacionais por meio de cuidados integrais, abordando sistematicamente o cenário de assistência, incluindo os fatores econômicos, educacionais, políticos e o empoderamento dos indivíduos.

“Temos realmente a vontade política? Haverá apoio para a formação de mais médicas e médicos de família? Os países de fato consideram a saúde como direito do ser humano?”, provocou Martinez, que depois ressaltou que no mundo inteiro são escassos os investimentos na atenção primária. “A medicina familiar tem de integrar o público, o privado, hospitais, clínicas, acadêmicos, os gestores. No Brasil, o caminho para isso ocorreu é a SBMFC”, concluiu.

O coordenador da Rede APS, Fachini, por sua vez, chamou a atenção para os perigos que a ESF sofre em virtude de constantes ataques daqueles que tentam acabar com a atenção primária (APS) e afirmou que é essencial aumentar o financiamento, compartilhar conhecimentos e firmar alianças para tornar o SUS mais robusto, equânime e universal. “O que queremos para nosso país é uma ESF pública, resolutiva. Ela não pode ser terceirizada, privatizada (…) Ela deve ser territorial, comunitária e integrada a uma rede regionalizada do Sistema Único de Saúde. O conhecimento, a capacidade de pesquisa, de avaliação é que levarão a melhorias contínuas no acesso e na qualidade de atenção primária”, disse.

ESF no atual governo federal

O secretário da Saps/MS Nésio Fernandes ressaltou que o governo atual tem como prioridade o fortalecimento da MFC, arrancando aplausos da audiência. Confira no vídeo.

O secretário discorreu sobre o futuro da APS no Brasil, comentando que o MS destinou 10.5 bilhões para a expansão das equipes somente neste ano. “A gestão é complexa, assim como os problemas também o são. Temos desafios diversos, como as doenças que voltaram depois de ser erradicadas. No futuro, haverá aumento relevante de envelhecimento da população e das doenças crônicas no país e no mundo. No campo da mortalidade materna, precisamos ampliar a contracepção e qualificar o pré-natal. É indispensável, portanto, uma atenção primária capaz de garantir a dignidade a todos esses públicos. A atenção primária é fundamental, os médicos são fundamentais. Equipe sem médico não existe”, pontuou.

Fernandes disse que, nos últimos 10 anos e em todo território nacional, o tempo médio de permanência do mesmo médico na mesma equipe foi de 6 meses, o que não permite a criação de vínculo, nem mesmo o início e término de um pré-natal.

Foto: Henrique Cardozo

Neste contexto, o secretário argumentou sobre a urgência do Brasil em ampliar o número de médicos, defendendo a meta de alcançar 100 mil MFCs titulados em 10 anos, e a estratégia do Mais Médicos para ampliar o tempo de permanência de 6 meses para 4 anos de atuação em um mesmo território, com formação em serviço – mestrado, especialização e tutoria de médicos titulados.

“É um salto gigantesco e nós não conseguiríamos fazê-lo apenas com residências. Nós temos condições de dobrar o número de residências, estamos construindo isso e vamos anunciar em breve, mas precisamos reconhecer que enquanto todo mundo vive APS, a APS não pode ser bico de recém-formado que fica 6 meses”, comentou.

Segundo Fernandes, o MS está trabalhando para valorizar as residências em MFC e vê nelas uma grande capacidade produtora de profissionais com perfil docente para multiplicação da nossa especialidade.

17º CBMFC

O 17º Congresso de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC) é realizado pela sociedade brasileira (SBMFC) e pela associação cearense (ACEMFC) desta especialidade. O evento acontece de 20 a 23 de setembro de 2023 em Fortaleza (CE).