Pesquisas sobre caracterização dos PRMFC é apresentada durante oficina nacional em Brasília
Dados mostram características dos Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade existentes.
Por Mayrá Lima
Na manhã do segundo dia da Oficina Nacional dos Programas de Residência de Medicina de Família e Comunidade (PRMFC), foi apresentado, de forma inédita, os resultados da pesquisa “Caracterização dos Programas de Residência de Medicina de Família e Comunidade do Brasil”. A pesquisa foi encomendada pela SBMFC e coordenada por Ana Paula Tussi Leite, Médica de Família e Comunidade e especialista em Preceptoria de Medicina de Família e Comunidade.
O principal objetivo da pesquisa foi caracterizar a situação dos Programas de Residência em Medicina de Família e Comunidade, credenciados pela Comissão Nacional Residência Médica do Brasil (CNRM). Dentre os resultados, há dados sobre a distribuição territorial dos PRMFC; a definição do perfil dos participantes; a identificação das estruturas físicas e acadêmicas, das estratégias pedagógicas, das características relacionadas ao preenchimento de vagas; e perspectivas em relação à MFC.
Na metodologia da pesquisa, há a definição dos gestores, supervisores e coordenadores e a obtenção de informações de contatos, os quais foram realizados por meio de telefone, correio eletrônico ou mensageiros. A coleta de dados foi entre o mês de dezembro de 2019 e abril de 2020.
A pesquisa partiu de uma lista inicial ofertada pela CNRM, que continha 302 PRMFC oriundos de 187 municípios. “Um primeiro dado foi da atualização desta lista. São 249 PRMFC ativos, localizados em 157 municípios. Os demais estão inativos, e o estado do Amapá é o único sem PRMFC. Ainda é destaque que 26,8% das vagas autorizadas de R1 não foram ofertadas pelos Programas”, explicou Leite.
Como produtos da pesquisa, um Plano de Apoio com sugestões aos PRMFC foi produzido, além de relatórios sobre a pesquisa. Em relação à participação nas respostas, foram 1076 respostas, em um total estimado de 2928 pessoas que estão vinculados aos programas. Dessas respostas, 42 vieram de gestores – 30,6% do total vinculado aos Programas; 155 de supervisores – 62,2% do total vinculado; 177 de preceptores – 40% do total vinculado; 544 de residentes – 40,9% do total vinculado; e 152 de egressos – 20,3% do total.
Sobre o perfil dos participantes, a maioria foi mulher, um total de 61% das respostas. Na estratificação por raça/cor, 67,3% se identificaram como brancas, e 25,3% como pardas. Apenas 4,1% se identificaram como negras, 1,4% como amarelas e 0,2% como indígenas. Do total, 1,8% não se identificaram.
Já sobre o perfil das instituições, 64,4% dos gestores são vinculados às universidades; 41,7% a alguma Secretaria Municipal de Saúde; 14,8% participam de alguma Escola de Saúde Pública Estadual; e 12,5% são vinculados a algum hospital.
Supervisores e Preceptores
A pesquisa também traz dados sobre a seleção de supervisores e preceptores. Do total dos Programas, 77,4% possuem critérios de seleção para a Supervisão e 82,6% dos PRMFC para a Preceptoria. Dentre os critérios mais citados estão ser especialista em MFC por residência ou prova de título da SBMFC; ter experiência clínica em APS; possuir alguma formação em preceptoria; e ter experiência docente na graduação.
Entre os incentivos que a gestão proporciona aos profissionais médicos preceptores, os mais frequentes foram: liberação para participação em eventos relacionados à MFC; liberação para processos formativos pedagógicos; flexibilidade da carga horária assistencial; flexibilidade na cobrança de produção; e incentivos financeiros.
Residentes e Egressos
De acordo com Leite, motivos ligados à qualidade e perspectiva de inserção são apontados para a escolha de um PRMFC. Entre os entrevistados, 55,4% consideram a qualidade dos Programas um motivo. Para 36,1% a qualidade da preceptoria é importante. A perspectiva de inserção na área foi resposta para 34,7% dos entrevistados, e a bolsa ofertada foi motivo de entrada para 40,2%.
Mas há obstáculos a serem enfrentados. Quando se trata da responsabilidade da assistência aos usuários, 60% dos residentes dividem o trabalho com o preceptor, e 25% entrevistados dizem que são o único médico da equipe. Quando se fala em carga de trabalho, há uma média de sete turnos de atendimento semanal na APS, porém 21% realizam mais de dez turnos de atendimento semanal. Do total de residentes entrevistados, 19,9% não recomendariam seu PRFMC.
“A pesquisa ainda mostra que a maioria dos PRMFC ocorre em instalações próprias de APS ou em parceria com a SMS dos municípios. Alguns achados retratam que o campo prático não ocorre em serviços da rede de APS, mas sim nos de atenção secundária. Além disso, os serviços ambulatoriais em outras especialidades foram mencionados como importantes ao processo formativo. Há respostas positivas sobre a integração entre as unidades de saúde e o internato em medicina na graduação. A pesquisa trouxe a demanda de Residentes por R3. Porém aponta preocupações relacionadas à falta de perspectiva, à valorização após o término da residência e ao baixo incentivo para MFC”, completou a pesquisadora.