Dia 26 de setembro de 2021, durante o 16 CBMFC a Diretoria de Residência Médica (Lucas Gaspar Ribeiro) em conjunto com o Grupo de Trabalho de Ensinagem (GT-Ensinagem, representado por Julia Morelli) da SBMFC realizaram o Fórum nacional de Supervisores e Coordenadores de residência médica em MFC. Esse é um encontro essencial dentro da residência médica pois permite que os responsáveis pelos programas consigam interagir entre si e interagir com a SBMFC para além dos canais existentes (e-mail e grupo de whatsapp da residência).
Esse encontro foi planejado para que as próximas ações da Diretoria de Residência Médica sejam apresentadas e dando início a sua execução. Sendo assim, o encontro ocorreu em 2 momentos distintos e complementares. Isso porque a programação da Diretoria de Residência é atualizar o Currículo Baseado por Competências existente desde 2015 (acesse por esse link) e iniciar a construção de ferramentas para avaliação e acreditação de programas de residência médica em Medicina de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de MFC, assim como ocorre com outras especialidades (Selo SBMFC de Residência Médica).
Para atingir os objetivos propostos, a primeira parte do evento teve como palestrante o prof. Gustavo Salata Romão, especialista em ginecologia e obstetrícia, da diretoria da FEBRASGO, sendo presidente da Comissão de residência médica da área. Em sua conversa com os supervisores e preceptores, trouxe a proposta de construção do currículo a partir de EPAs (Entrustable Professional Activities), ou a tradução em português como Atividades Profissionais Confiáveis. Essa forma de construção do currículo propõe a construção de currículos a partir de competências que o residente deve exercer, ou seja, conhecimentos, habilidades e atitudes que são esperadas de um MFC formado dentro de uma atividade específica.
Quais os objetivos de ações de nossa especialidade? O que esperamos que um(a) especialista consiga fazer? Esses são dois exemplos de perguntas que precisamos responder e avaliar ao longo da residência, garantindo que o futuro profissional esteja apto a realizar sozinho (sem supervisão). Aparentemente é uma estrutura mais objetiva e mais focada na função e não em descrições de competências apenas. Esse não é um tema novo na MFC, já com autores produzindo essa reflexão em um artigo da RBMFC. Alguns materiais de apoio podem ser acessados aqui e aqui. A apresentação e discussão com o Prof. Gustavo estão disponíveis no YouTube da SBMFC no link: https://www.youtube.com/watch?v=Ar5fOyip8Sg&t=2712s.
Em seguida, as pessoas presentes no encontro foram divididas em 2 salas simultâneas para iniciar o desenvolvimento das temáticas propostas pelo fórum: Currículo de Residência e Avaliação da Residência. O resumo dos encontros está descrito a seguir:
Currículo de Residência: O atual CBC tem um enfoque muito grande em temas clínicos, o que pode, em alguns programas, transformar em linha-guia de aulas teóricas para os residentes, não focando nos aspectos da especialidade MFC, dentro das competências esperadas e específicas da área em que atuamos. Isso gera um olhar mais para a clínica do indivíduo diagnosticado pelos profissionais (disease) quando comparado com a clínica da pessoa dentro de sua existência e perspectivas (illness). Contudo, não está explícito no atual Currículo que ele é um eixo teórico, mas sim que o/a MFC deve conhecer aquelas áreas descritas para ser um bom profissional. Assim, há a necessidade de ajustes do currículo com enfoque na formação de profissionais MFCs com competências do cuidado do indivíduo, da família e da comunidade que está inserido. Isso exigirá uma mudança de postura do currículo, dos programas e, principalmente, dos preceptores dos programas de residência, como formadores, deslocando o residente e o preceptor do paradigma biomédico para o biopsicosocial.
O segundo grupo se propôs a discutir a atual forma de como os programas são avaliados via CNRM/CEREM e quais as necessidades de mudança. Ele foi aberto com uma pequena apresentação de “como estamos hoje” na residência, com mais de 7 mil vagas e apenas 30% ocupada (somando R1 e R2), demonstrando uma grande abertura de programas, sem ocupação das vagas. As atuais ferramentas utilizadas pela CNRM são genéricas, aplicadas em todos os programas, com seus prós (avaliando se o residente é avaliado, estrutura física, biblioteca, dentre outros), mas com componentes essencialmente hospitalares (como leitos de UTI e centro cirúrgico). Sendo que a SBMFC construiu uma ferramenta aplicada entre 2017-18, mas não mais utilizada rotineiramente. Os avaliadores indicados pelas Comissões Estaduais também não são especialistas na área, muitas vezes, sem competências para investigar as necessidades e adequações da MFC. Com isso, ocorre a abertura grande de programas, com preceptores não aptos a exercer o cargo, unidades e equipes não adequadas para essa atividade. A legislação da matriz de competências da MFC (2019) e as portarias de 2015 tentaram modificar um pouco a assimetria de abertura de vagas de maneira extremamente indiferenciada. Contudo, como mudança desse cenário, é preciso um investimento da Sociedade Brasileira de MFC em construir um instrumento que seja próprio para nossa residência, considerando suas singularidades e potencialidades, inserido em cenário de APS, prática, principalmente, mas não exclusiva, no setor público. Aproximar a SBMFC com os órgãos regulamentadores com objetivo de ser mais propositiva e incentivar que os avaliadores seja da área MFC. Inserindo o residente e o programa como avaliadores dos programas (avaliação de quarta geração), com avaliação normativa, somativa e qualitativa (formativa).
Com isso, a diretoria de residência irá propor a construção de dois grupos operativos com o intuito de desenvolver as ideias propostas e construir os instrumentos supracitados. O primeiro passo foi dado, apresentar a realidade e pensarmos juntos os caminhos que desejamos seguir.
Lucas Gaspar Ribeiro
Diretor de Residência da SBMFC