Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo – 20 de fevereiro

20 de fevereiro de 2020

No Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo, datado em 20 de fevereiro, a SBMFC reforça o papel do médico de família e comunidade na identificação de pessoas que enfrentam problemas devido ao consumo, assim como os reflexos na saúde dos familiares.

A abordagem da saúde mental durante as consultas na Atenção Primária têm aspectos relevante quando se trata do consumo de álcool e drogas. Segundo o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram critérios para dependência de álcool nos 12 meses anteriores à pesquisa (2).

As evidências clínicas revelam necessidade de ampliação da cobertura em saúde mental em razão da alta prevalência de sofrimento psíquico identificada na Atenção Primária. Em 1995, a OMS relatou as formas mais frequentes e o alcoolismo aparece com índice de 10% (1).

Aproximadamente 20% dos pacientes tratados na rede primária bebem em um nível considerado de alto risco, pelo menos fazendo uso abusivo do álcool. Estas pessoas têm seu primeiro contato com os serviços de saúde por intermédio de clínicos gerais. Apesar disso, estes pouco detectam a presença de acometimento por tal uso, o que tem repercussão negativa sobre as possibilidades de diagnóstico e tratamento. Vemos que, no geral, o foco da atenção está voltado para as doenças clínicas decorrentes da dependência – que ocorrem tardiamente – e não para a dependência subjacente (5).

Sobre drogas, a ONU indica que globalmente 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos decorrentes do uso de drogas. A droga mais usada no mundo continua a ser a cannabis — cerca de 188 milhões de pessoas usaram essa droga em 2016. A prevenção e o tratamento continuam insuficientes em muitas partes do mundo. Por ano, apenas uma em cada sete pessoas com transtornos decorrentes do uso indevido de drogas recebe tratamento (3). Quando se trata de dados brasileiros, 3,563 milhões de brasileiros consumiram drogas ilícitas em um período recente (2).

É recomendável que o acolhimento e assistência aos usuários de drogas pela equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) seja pautada na redução de danos para minimizar as consequências adversas do consumo de drogas do ponto de vista da saúde e dos seus aspectos sociais. Assim, essa abordagem precisa seguir os preceitos éticos baseados na autonomia e no diálogo para facilitar o acesso desses usuários a Unidade Básica de Saúde (UBS). (4)

A dependência das drogas é transtorno onde predomina a heterogeneidade, já que afeta as pessoas de diferentes maneiras, por diferentes razões, em diferentes contextos e circunstâncias. Muitos consumidores de drogas não compartilham da expectativa e desejo de abstinência dos profissionais de saúde, e abandonam os serviços. Outros sequer procuram tais serviços, pois não se sentem acolhidos em suas diferenças. Assim, o nível de adesão ao tratamento ou a práticas preventivas e de promoção é baixo, não contribuindo para a inserção social e familiar do usuário. (5).

Reconhecer o consumidor, suas características e necessidades, assim como as vias de administração de drogas, exige a busca de novas estratégias de contato e de vínculo com ele e seus familiares, para que se possa desenhar e implantar múltiplos programas de prevenção, educação, tratamento e promoção adaptados às diferentes necessidades. (5)

A abstinência não pode ser, então, o único objetivo a ser alcançado. Aliás, quando se trata de cuidar de vidas humanas, temos que, necessariamente, lidar com as singularidades, com as diferentes possibilidades e escolhas que são feitas. As práticas de saúde, em qualquer nível de ocorrência, devem levar em conta esta diversidade. Devem acolher, sem julgamento, o que em cada situação, com cada usuário, é possível, o que é necessário, o que está sendo demandado, o que pode ser ofertado, o que deve ser feito, sempre estimulando a sua participação e o seu engajamento (5).

Classicamente, a prevenção do uso indevido de drogas pode ser dividida em prevenção primária, secundária e terciária. A primária pode ser definida pelo conjunto de ações que procuram evitar a ocorrência de novos casos de uso abusivo de psicotrópicos ou, segundo outra visão, evitar o primeiro contato com o produto. Prevenção secundária é o conjunto de ações que procuram evitar complicações para as pessoas que fazem uso de uma substância, mas que apresentam níveis relativamente baixos de problemas associados a esse uso. A prevenção terciária, por sua vez, é constituída pelo conjunto de ações que, a partir da existência de uma dependência, procura evitar prejuízos adicionais e/ou reintegrar na sociedade os indivíduos com problemas mais graves. Também busca melhorar a qualidade de vida dos usuários na família, no trabalho e na comunidade de forma geral (Organização Mundial de Saúde,1992) (6)

O contato empático e desprovido de preconceitos com estes pacientes pode ser uma chance fundamental para abordar os temas desenvolvidos neste capítulo e estimular a adoção de medidas que promovam a saúde e reduzam os riscos decorrentes do consumo de álcool. No entanto, os profissionais de saúde só poderão fazê-lo de forma adequada se estiverem bem informados e atualizados sobre o tema.

Referências:
1 – Athié, K., Fortes, S., & Delgado, P. G. G. (2013). Matriciamento em saúde mental na Atenção Primária: uma revisão crítica (2000-2010). Revista Brasileira De Medicina De Família E Comunidade, 8(26), 64-74. https://doi.org/10.5712/rbmfc8(26)536.

2 – III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira. Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Disponível em <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614>.

3 – ONU: 1 em cada 7 pessoas no mundo com transtorno por uso de drogas recebe tratamento. ONU Brasil, 2019. Disponível em <
https://nacoesunidas.org/onu-1-em-cada-7-pessoas-no-mundo-com-transtorno-por-uso-de-drogas-recebe-tratamento/>.

4 – Qual a abordagem indicada para acolher os usuários de drogas na APS?. Núcleo de Telessaúde Sergipe, 2018. Disponível em <https://aps.bvs.br/aps/que-medidas-a-equipe-da-esf-pode-tomar-para-acolher-os-usuarios-de-drogas-na-aps/>.

5 -Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST/Aids. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas / Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. Disponível em < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_atencao_alcool_drogas.pdf>.

6 – Niel, Marcelo; da Silveira, Dartiu Xavier Drogas e Redução de Danos: uma cartilha para profissionais de saúde/ Marcelo Niel & Dartiu Xavier da Silveira (orgs). – São Paulo, 2008. xi, 149f. Disponível em <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/direitos_humanos/Cartilha%20para%20profissionais%20da%20saude.pdf>.