A Fiocruz Brasília comemora 43 anos em outubro e entre as atividades de comemoração, organizou a mesa-redonda Caminhos da Atenção Primária e da Saúde da Família no Brasil, com participação de Maria Helena Mendonça, pesquisadora da ENSP/Fiocruz e Rodrigo Lima, diretor de Exercício Profissional da SBMFC, dia 30 de outubro.
A programação foi aberta por Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, que ressaltou a importância no debate com as contribuições que a entidade tem proporcionado para a formação e qualificação dos profissionais de saúde.“Os motivos para essa discussão no nosso aniversário são diversos, entre eles, residências que a Fiocruz oferece que estão inseridas na APS, como gestão pública, saúde mental e de MFC, que estamos discutindo com o governo do DF”.
A mesa foi moderada por Luciana Sepúlveda, coordenadora da Escola Fiocruz de Governo. “De 1978 para cá, o modelo de APS se construiu e se reconstruiu de diversas formas, cultural, social e politicamente contextualizado. São inúmeros os arranjos. A ideia hoje é discutir o que acontece agora no Brasil, os projetos, as oportunidades e o que eles trazem para a Fiocruz como orientação para ação, com proposta de reflexão”.
A primeira aula apresentada foi de Maria Helena, com o tema Nova proposta de mudança da modalidade de transferência de recursos para a APS. “Vivemos um novo impacto de mudança e operacionalização da APS. A Fiocruz não tem uma linha de pesquisa com a temática de APS, mas eu sinto que a instituição tem se preocupado em ter um pouco mais sistematizada essa questão de alguns anos para cá, entre elas, está o livro Atenção primária à saúde no Brasil: conceitos, práticas e pesquisa, que tem sido muito utilizado em cursos, especializações e residências.
E continua: “Toda a produção de todo o conhecimento até 2016 está sendo questionada por vários setores da vida pública. Precisamos pensar quais são os caminhos da APS, o que temos desde 1988, a partir da Constituição que estipula o direito à saúde, ao assumir para o Estado essa responsabilidade, e hoje, temos restrições financeiras desde a emenda de 1995”.
A apresentação de Rodrigo Lima foi sobre o olhar do médico de família que atua dentro da Unidade Básica de Saúde. Além de abordar o que é a especialidade e os atributos da Atenção Primária. “Tudo o que a gente pensar na prática clínica tem que ser a partir desses atributos desenvolvidos por Barbara Starfield que são: primeiro contato preferencial, abrangência/integralidade, longitudinalidade, coordenação do cuidado, orientação familiar, orientação comunitária e competência cultural”.
“Hoje temos dois principais problemas que são o crescimento da demanda espontânea com queixas agudas e curta duração e a redução da presença dos agentes comunitários de saúde, o que diminui o conhecimento do território. É possível fazer orientação familiar e comunitária sem o ACS, mas é preciso discutir o modelo”.
Ainda, há uma defasagem no número de especialistas formados. O artigo publicado na Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade Quantos médicos de família e comunidade temos no Brasil?, publicado em 2018, traz o reflexo dessa preocupação.
Na discussão final, foi concluído que o debate deve se cada vez mais aberto e ocupar mais espaços com novos palestrantes e instituições para fortalecimento da importância e defesa da APS no Brasil. A mesa foi encerrada com a presença Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, que irá comemorar 120 anos de atuação nacional em 2020.