Airton Stein comenta revisão sistemática do JAMA com foco na APS e Medicina de Família e Comunidade

21 de fevereiro de 2019

Em fevereiro, o JAMA publicou revisão sistemática Factors Associated With High-Quality Guidelines for the Pharmacologic Management of Chronic Diseases in Primary Care e a SBMFC convidou Dr Airton Stein para comentários a respeito da importância do assunto para a Atenção Primária no Brasil. O trabalho de revisão foi coordenado por Daniela Oliveira de Melo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Stein, co-autor do trabalho, médico de família do Grupo Hospitalar Conceição e professor titular de saúde coletiva e Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, explica sobre o impacto de uma revisão sistemática sobre fatores associados a alta qualidade de diretrizes clínicas para o manejo farmacológico de doenças crônicas na APS no Brasil. “Diretrizes clínicas são recomendações elaboradas de forma sistemática para auxiliar as decisões do clínico e do paciente acerca dos cuidados de saúde mais apropriados em circunstâncias clínicas específicas. Além disso, as diretrizes clínicas desempenham um papel importante na formação de políticas de saúde e evoluíram para abranger tópicos em todo o processo de cuidados de saúde (por exemplo, promoção da saúde, rastreamento, diagnóstico). A qualidade das diretrizes é determinante para o seu potencial benefício. Metodologias apropriadas e estratégias rigorosas no processo de desenvolvimento de diretrizes são importantes para o sucesso da implementação das recomendações. A qualidade das diretrizes pode ser extremamente variável e algumas frequentemente não alcançam os padrões básicos”.

E ainda reforça que os Médicos de Família e Comunidade (MFC), assim como outros especialistas buscam informação em diretrizes clínicas. No entanto, as diretrizes de baixa qualidade têm uma associação negativa com os desfechos de saúde.

Esta revisão sistemática recém-publicada no JAMA mostrou que das 421 diretrizes clínicas, 23,5% foram avaliadas como de alta qualidade de acordo com o AGREE II, que é um sistema de escore que avalia a qualidade das diretrizes em seis domínios. Os escores que foram menos avaliados referem-se ao rigor do desenvolvimento e aplicabilidade.

Os fatores associados a diretrizes de alta qualidade incluíram desenvolvimento por instituições governamentais, um alto número de autores e relataram que tinham um financiamento.

Se você está se perguntando sobre como podemos avaliar uma diretriz de alta qualidade, Dr Airton reforça que o Instrumento AGREE (Appraisal of Guidelines for Research & Evaluation) foi desenvolvido para abordar a variabilidade na qualidade de diretrizes. É uma ferramenta que avalia o rigor metodológico e transparência com que uma diretriz clínica é desenvolvida.

O instrumento AGREE original foi refinado, o que resultou no novo AGREE II, e inclui um novo Manual do Usuário. O objetivo do AGREE II é fornecer uma estrutura para:
1. Avaliar a qualidade de diretrizes clínicas;
2. Fornecer uma estratégia metodológica para o desenvolvimento de diretrizes clínicas;
3. Informar quais e como as informações devem ser relatadas nas diretrizes clínicas. O AGREE II substitui o instrumento original como ferramenta e pode ser utilizado como parte de um protocolo de qualidade global com o propósito de melhorar a atenção à saúde.

Mais informação sobre o AGREE II pode ser encontrado no seguinte site: https://www.agreetrust.org/

Sobre como as diretrizes podem contribuir para a melhoria de pessoas com doenças crônicas, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) como grupo representam a causa de morbidade e mortalidade mais importante no mundo todo, incluindo no Brasil. Os estudos mostram que na medida em que são escolhidas intervenções efetivas para as DCNT tanto do ponto de vista comportamental, ambiental e também farmacológica há uma redução na mortalidade em torno de 40%. 

Quando questionado sobre a frequência que o médico de família e comunidade deve utilizar diretrizes na prática clínica, Airton Stein indica que o MFC deve basear a sua conduta no atendimento ao paciente em diretrizes clínicas para que possibilite uma recomendação baseada em evidência e sem viés. Idealmente, as diretrizes clínicas devem basear-se em revisões sistemáticas rigorosas para cada pergunta formulada. Estas revisões devem apresentar evidências relevantes e atuais e seguir constitui-se um grupo de experts e outros participantes sem conflitos de interesse com o intuito de construir um consenso.

E ainda conclui: “Os MFC devem embasar as suas condutas utilizando diretrizes clínicas de alta qualidade, que se caracterizam por instituições governamentais, um alto número de autores e relataram que tinham um financiamento. E as diretrizes clínicas desenvolvidas por sociedades de especialistas, especialmente aquelas financiadas pela indústria devem ser questionadas quanto a qualidade metodológica. Em síntese, o MFC que não avaliar a qualidade da diretriz clínica, pode implementar uma conduta de baixa qualidade, o que afeta o atendimento ao paciente”.