Rodrigo Lima é médico de família e comunidade formado pela Universidade Federal de Pernambuco, diretor de Exrercício Profissonal da SBMFC.*
SBMFC: Qual a base da relação médico-paciente e por que é tão importante?
Rodrigo: Pessoas que enfrentam ameaças ou problemas relacionados à sua saúde costumam apresentar alguma melhora, seja ela subjetiva (se sentir melhor) ou objetiva (desaparecimento da doença) quando se sentem de fato cuidadas pelos profissionais de saúde. Muitas vezes a simples confiança nos profissionais faz com que as pessoas já se sintam melhor após a consulta, sem qualquer medicamento. Sabemos também que o efeito conhecido como placebo, conhecido como a melhora clínica relacionada ao uso de uma substância inerte está relacionado à confiança que a pessoa deposita naquele tratamento. Todos estes fatores são absolutamente influenciados pela relação estabelecida entre os médicos e médicas e seus/suas pacientes. Quanto mais próxima a relação, maior a confiança, e por consequência, melhores os resultados da atuação desses profissionais.
SBMFC: Essa relação fortalece a humanização na medicina?
Rodrigo: Se considerarmos que a humanização, neste caso, significa tratar o paciente como um ser humano, sim. Mas o termo humanização, por si, é pouco específico. Prefiro dizer que na relação entre médicos e pacientes os afetos mútuos são importantes e devem ser criados e cultivados. Os médicos, em determinadas circunstâncias, perdem a capacidade de serem afetados por seus pacientes, e com isso deixam de lado a empatia, a solidariedade, a compaixão.
SBMFC: Como o médico pode proporcionar segurança ao paciente?
Rodrigo: Essa pergunta deve ser aplicada a cada paciente. Médicos deveriam se perguntar, e porque não perguntar a cada paciente o que pode ser feito para que ele se sinta mais seguro. Às vezes é um contato físico, um aperto de mão, outras vezes um discurso mais claro, menos técnico. Ou um questionamento sobre os medos, os anseios de cada pessoa. A medicina é antes de tudo uma arte, um artesanato, um trabalho único para cada pessoa. Os tempos modernos nos levaram a pensar diferente, a tratar todos com protocolos clínicos únicos, frios, rígidos, impessoais.
SBMFC: É possível fazer a relação fluir, mesmo quando o paciente não dá abertura?
Rodrigo: Colocar a culpa no paciente é o mais fácil. Por que uma pessoa que enfrenta um problema de saúde e procura um profissional do ramo não daria abertura a esse profissional? Deveríamos discutir como abordamos as pessoas. Elas querem ser ouvidas, entendidas. Um pedido de "check-up" pode ser a forma que a pessoa encontrou para dizer que está preocupada com a própria saúde, com uma doença específica. A não-adesão a um tratamento pode ser sinal de que a pessoa discorda dele, de que não está tendo suas preferências consideradas. A responsabilidade de facilitar a comunicação deve ser principalmente do médico, que é (ou deveria ser) treinado para isso.
SBMFC:Qual o impacto na consulta, e consequentemente, na vida do paciente?
Rodrigo: As consultas são mais produtivas, os motivos dos atendimentos são melhor compreendidos, as recomendações são mais personalizadas e por isso têm adesão maior, e com tudo isso os resultados clínicos melhoram: as pessoas se recuperam melhor e mais rápido quando têm uma boa relação com os profissionais que cuidam delas.
SBMFC: Existe algum estudo que mostre a porcentagem de médicos que buscam melhorar a relação com seus pacientes?
Rodrigo: Não que eu conheça, mas imagino que, ao serem perguntados, todos os médicos dirão que procuram ter uma relação boa com seus pacientes, mas uma minoria busca treinamento nisso. As habilidades de comunicação não são inatas, devem ser desenvolvidas no processo de formação dos profissionais, e isso ocorre muito menos do que deveria.
SBMFC: É possível estabelecer uma boa relação mesmo em consultas curtas?
Rodrigo: Sim, qualquer contato entre profissionais e pacientes deve começar com uma boa relação. A cordialidade, a empatia, a paciência, e esforço em se comunicar podem ser evidenciados mesmo em contatos muito breves.