Com o início da campanha de vacinação contra a gripe pelo Ministério da Saúde, a procura pela vacina tende a aumentar nas Unidades Básicas de Saúde de todo o país, muitas vezes gerando ansiedade na população em geral, mesmo entre pessoas que teriam pouco ou nenhum benefício com a vacinação. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) indica que apenas idosos e crianças dentro da faixa etária indicada, gestantes e pessoas com doenças crônicas devem receber a vacina, e mesmo nesses grupos a efetividade é modesta. Diferente de outras vacinas cuja utilização em massa promove proteção para toda a população, a vacina da gripe traz apenas discretos benefícios individuais, e os efeitos adversos podem ser incômodos.
A maioria das vacinas inclusas no calendário recomendado pelo Ministério da Saúde está consolidada por seus resultados, de forma que praticamente não ouvimos falar de casos de doenças como poliomielite, rubéola, sarampo, caxumba, coqueluche, mas a vacina contra a gripe não é tão eficaz quanto as outras, especialmente fora dos grupos populacionais recomendados. “A vacina contra a gripe não tem bons resultados em pessoas saudáveis. É muito comum entre essas pessoas a ocorrência de efeitos adversos como febre após a vacinação, e até mesmo a ocorrência de gripe, pois a proteção é baixa, menor que 50%”, explica Rodrigo Lima, diretor de comunicação da SBMFC.
Segundo o Ministério da Saúde, os grupos prioritários para a vacinação da gripe são: crianças entre 6 meses a 5 anos de idade, gestantes, puérperas (mulheres que deram à luz há menos de 45 dias), idosos (a partir dos 60 anos), profissionais de saúde e professores da rede pública ou privada. Os portadores de doenças crônicas, povos indígenas e pessoas privadas de liberdade também se enquadram como público-alvo. “Os grupos especificados pelo Ministério poderão procurar a unidade de saúde mais próxima para receber a vacina quando a campanha tiver início. Mas vale lembrar que mesmo nesses grupos a eficácia da vacina pode ser discreta, especialmente em pessoas saudáveis”, completa o médico de família e comunidade.
A vacina contra a gripe não traz qualquer preocupação em relação à sua segurança, mas provoca proteção pequena (não passa de 50% em alguns grupos populacionais) e por isso não cria imunidade na população, como a maioria das usadas e consagradas. “Então ter muita gente tomando não faz a menor diferença para a população em geral. O benefício, quando houver, será apenas individual. O problema com ela é apenas o desperdício de dinheiro: como a própria população já identifica que a vacina não é tão eficaz assim, as coberturas planejadas acabam não sendo alcançadas e o Ministério da Saúde pode determinar a distribuição das doses a qualquer pessoa interessada em tomar a vacina para evitar o desperdício, como fez no último ano. Essa medida carece de evidência científica que a justifique”, finaliza Lima.