Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade orienta sobre prevenção, sintomas, diagnóstico e tratamento da doença que está contaminando a população neste outono
A Síndrome Mão-Pé-Boca (SMPB) é uma doença provocada por alguns tipos de vírus da família dos enterovirus. Caracteriza-se inicialmente por febre, seguida pelo surgimento de lesões na boca e garganta, que se assemelham a pequenas úlceras ou aftas, e lesões na pele das mãos e pés que se assemelham a pequenas bolhas avermelhadas. Essas lesões de pele também podem aparecer ao redor da boca, nos cotovelos e na região genital. É mais comum que a doença acometa crianças menores de cinco anos, mas há registros menos frequentes de casos em crianças maiores, adolescentes e adultos. As pessoas doentes transmitem a doença na fase febril mais intensamente e por até duas a quatro semanas depois de iniciados os sintomas.
Os relatos sobre sazonalidade da SMPB em países tropicais como o Brasil são controversos, mas o comportamento em surtos está bem estabelecido dado o modo de transmissão fecal-oral da doença, ou seja, por contaminação de excrementos fecais através de mãos, objetos e superfícies. É possível também a transmissão por gotículas de saliva na tosse, espirros ou no falar e no contato direto com lesões de pessoas que apresentam a doença. “Por isso, lavar as mãos antes e depois de usar o banheiro ou ajudar as crianças com a higiene pessoal, limpar os ambientes de trocador de fraldas e sanitários com solução de água e hipoclorito e ter cuidado ao descartar papel higiênico e fraldas é muito importante para evitar a disseminação desta doença”, explica Erika Viana, médica de família e comunidade, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
Geralmente, a febre é o sintoma que aparece antes das lesões da boca e da pele por um até três dias. Em seguida, surgem as lesões da mucosa oral que se acompanham de dor para engolir, o que pode dificultar a alimentação, a ingesta de líquidos e a higiene oral e desaparecem em quatro a seis dias. As lesões da pele das mãos, pés e eventualmente cotovelos e região genital se apresentam um pouco dolorosas e às vezes com sensação de coceira aparecem também depois dos primeiros três dias de febre e demoram em torno de sete a dez dias para desaparecer podendo ser seguidas por uma fase de descamação da pele nas regiões que foram afetadas.
A suspeita da contaminação deve acontecer em períodos febris acompanhados dos sintomas clássicos da doença – as lesões de boca, pés e mãos – e medicações comuns (antitérmicos) para controle da febre podem ser usadas, fazendo-se sempre a ressalva de evitar o uso de antiinflamatórios sem prescrição médica para controle de febre. Os serviços de saúde devem ser procurados para apoio ao diagnóstico e para o afastamento do trabalho e/ou das atividades escolares, já que esta é uma doença transmissível e as pessoas sintomáticas devem estar afastadas do maior número possível de contactantes para diminuir o risco de transmissão. Sempre que sintomas inesperados surjam ou que as manifestações clássicas pareçam graves ou difíceis de manejar, como febres muito altas, dores intensas os serviços de saúde devem ser procurados imediatamente.
Erika argumenta que a doença, na maior parte das vezes, tem evolução benigna, mas há registros de possíveis complicações envolvendo o sistema nervoso central ou o coração, que devem ser acompanhadas em internação hospitalar. “Sendo assim, sintomas que surjam diferentes do que se espera na história natural da doença descrita acima, devem ser imediatamente relatados ao médico para que a adequada avaliação de cada caso seja feita”.
Na primeira infância as crianças estão mais sujeitas às infecções virais por características imunológicas, mas também por características comportamentais. A convivência escolar, o compartilhamento de objetos e brinquedos e do espaço das salas de aula podem tornar a cadeia de transmissão mais intensa entre os pequenos quando comparados aos adultos, imunologicamente mais resistentes e mais isolados uns dos outros em seu convívio cotidiano.
Paulo Navarro, também médico de família e comunidade, indica que não há tratamento específico indicado para SMPB. O tratamento dos sintomas deve ser feito com antitérmicos e analgésicos para controle da febre e da dor e alguns cuidados com a alimentação, como a evitação de alimentos ácidos e quentes que intensificam a dor das lesões orais, estão indicados. As pessoas doentes devem ser mantidas bem hidratadas e em repouso relativo, afastadas de atividades extenuantes e, em caso de serem portadoras de outras doenças, devem ser avaliadas individualmente.
A prevenção da contaminação de outras pessoas e do ambiente deve ser feita afastando-se os doentes do convívio coletivo – creches, escolas e trabalho – e do maior cuidado com a higienização das mãos antes e depois de tocar a pele afetada, os alimentos, os utensílios utilizados pelos doentes e pelo cuidadoso descarte de fraldas e resíduos contaminados por fezes dos doentes.
“A preocupação com as doenças como a SMPB não deve ter maior destaque que nossa preocupação com a saúde em geral. Alimentação saudável, boas noites de sono e uma rotina de atividades físicas e lazer que façam parte da vida cotidiana ajudam a prevenir doenças e a viver melhor. Assim, nada de pânico com mais uma doença nova”, finaliza Erika.