A oficina de prevenção quaternária foi uma das atividades de sucesso do quarto dia do 13º CBMFC. Com a sala lotada, os palestrantes e participantes debateram sobre como implementar e conscientizar a sociedade como um todo, a mídia, o paciente e também o MFC sobre a melhor forma de prevenção.
As rotinas de prevenção são a favor de quem? Essa foi uma das indagações expostas por Dijon Silva, do grupo de Prevenção Quaternária da SBMFC, que continuou o pensamento de que prevenir é um luxo e que as estratégias preventivas são para evitar as causas dos casos que têm maior número entre os de baixo risco e causa das causas como diminuir o teor de sal dos industrializados, que tem pouco impacto no indivíduo. “Prevenção de doenças ou dos fatores de riscos? A doença é quando um grupo uniforme de indivíduos é atingido com desvantagens biológicas e fator de risco é a probabilidade de ocorrência de um evento com possibilidade de acontecer em um grupo populacional e não em um indivíduo”, explica Silva.
A medicalização dos fatores de risco na qual se convertem situações normais pela medicina é uma situação complexa, mas bem definida. A hipertensão, por exemplo, é um fator de risco transformado em doença. Nas rotinas preventivas, temos expectativa social, um número crescente de fatores de risco, retornos profissionais, financeiros e sociais, interesses de mercado, ampliação e criação de novos. E como consequências sociais, rupturas de competências de lidar com dor, morte, aumento do medo e percepção de doença onde elas não existem.
Já nos fatores de riscos impostos como doença, há uma rotina preventiva que pode causar dano, um exemplo é o PSA com falso positivo com risco cirúrgico, e a mamografia, na qual há diminuição não considerável de morte a cada 50 mil exames. “Essas rotinas preventivas rotinas são benéficas. Mas as atividades preventivas e terapêuticas são diferentes e temos que dar foco nas tratativas e as preventivas devem ser muito bem orientadas”, ressalta Dijon. Outros tópicos que devem ser levados em conta são as diferenças biológicas, culturas, história natural da doença, pois as rotinas de prevenção não garantem benefícios individuais.
O tema “Mídia e prevenção” foi apresentado por Cláudia Collucci, jornalista especial e colunista da Folha de São Paulo, que reforça a necessidade de uma estratégia sobre como fazer essa prevenção chegar à mídia. Os termos de prevenção são os que vêm das especialidades médicas com grande quantidade de conflitos que traz um reflexo dos conflitos envolvidos na elaboração de diretrizes e estudos clínicos.
“Em workshop para jornalistas sobre HIV/AIDS, houve discussão sobre o porquê da prevenção na mídia. No caso da Aids é o uso da camisinha, que não tem novidade, mas o jornalista sempre quer o novo, novas tecnologias, o que fortalece é o novo mesmo. O sonho da pessoa com câncer é ser tratada em hospitais de ponta onde é a tecnologia que vai salvá-la. Mas o que falta é a interface com o governo e dele mostrar as consequências da falta de uma política preventiva e por meio de políticas públicas que cheguem até o público sobre prevenção quaternária e sobrediagnóstico”, explica Cláudia.
Mas de quem é a culpa? Os jornalistas não têm formação unicamente no jornalismo de saúde, o profissional dessa área cobre todos os assuntos. Saúde é um universo a parte, e é tão importante que todo grande jornal deveria ter pelo menos um jornalista que tenha como foco a saúde, ainda mais com a indústria crescente.
Os mesmos conflitos de interesse que existem na medicina, existem no jornalismo de saúde. Cláudia aponta que é uma questão de comportamento entender o que é o assunto a ser tratado, qual o público e a demanda. “O jornalista é cobrado por educação à população, mas somos educados para informar não para educar. A questão é: quanto mais clareza, melhor”, reforça a jornalista.
“Em termos de notícias, vocês, MFCs têm notícias, histórias e qualquer um gosta de uma boa história. Há uma crise no jornalismo e não sabemos como vamos sair disso. A disputa na área de saúde é imensa, eu recebo mais de 200 sugestões de pauta por dia que não tem nada a dizer. É, eminentemente, você ter que filtrar as informações e transmitir esse conceito, além de ter que pensar duas vezes antes de fazê-lo”, ressalta. Claudia conclui que é preciso tirar a impressão de que o MFC é só aquele médico de postinho de saúde, abolir o conceito de que eles têm apenas conhecimento básico. “E mesmo convivendo há tanto tempo com tantas especialidades, com esse congresso, vejo que ainda há esperança na medicina”.
Do Grupo Brasileiro de Prevenção Quaternária, Hamilton Lima Wagner, citou que há muitos problemas na literatura médica. “É uma decepção acentuada com o que temos visto na qualidade da literatura. Quando alguém faz uma pesquisa com resultado ruim e eu deixo de fazer com que uma pessoa tenha acesso e que mesmo assim irá prejudicar mais ainda a não publicação”, explica.
“Por que fazemos P4? Vem desde 1986, quando Marc Jamoulle criou para tentar fazer uma medicina que olhasse, vivesse as pessoas, não fazer o que o box diz o que temos que fazer, cuidamos de gente e gostamos de gente que vive mais e melhor”, explica Hamilton.
O MFC cuida de pessoas e temos elas como foco e finalidade, Marc indica que devemos proteger as pessoas no dia a dia, do excesso de medicina, assumimos a questão de transformar o fator de risco em doença. “Há alguns conceitos que parecem corretos, mas se avaliarmos criteriosamente, teremos uma reflexão, só é bom se a prevenção não causar sofrimento”, reforça e complementa que 100% dos trabalhadores da indústria, vendem o que eles querem, com resultados só de interesse próprio e muitas vezes com doenças inventadas.
Quando algum trabalho questiona algum produto, dentro da P4, nem sempre é melhor prevenir do que remediar, nem todo medicamento é pra sempre e quando e por que devo de prescreve-lo? Essas perguntas sempre fazem parte do nosso dia a dia. O paciente se sente reconhecido quando é tocado, mas quando ele é examinado, eu dou meu interesse e faço dele alguém especial e quando ele se sente especial, ele melhora.