Confira a carta de Emílio Rossetti Pacheco
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) é a entidade que congrega os médicos de família e comunidade (MFC) no Brasil, uma das 57 especialidades reconhecidas pela Associação Médica Brasileira (AMB). Representa, portanto, os mais de 30.000 médicos que trabalham na Estratégia Saúde da Família, ou quase 10% de todos os médicos do país.
O médico de família e comunidade é um clínico capacitado para resolver 90% dos problemas clínicos comumente encontrados na população, selecionando os casos que necessitem da intervenção de um especialista focal, que devem ocupar-se das variantes mais raras das doenças. A Medicina de Família e Comunidade é a única especialidade médica que baseia-se na relação médico-paciente. O médico de família acompanha, portanto, os pacientes durante toda a vida, independente da idade, gênero, ou problema de saúde que apresentem. Não há, com isso, nenhum problema de saúde que esteja fora de seu campo de atuação, pois seu compromisso é antes de tudo com o paciente. A relação continuada ao longo do tempo proporciona ao médico a oportunidade de adquirir conhecimentos cumulativos acerca dos pacientes que cuida, o que aumenta as alternativas do médico em prover um cuidado que seja mais centrado nas características individuais das pessoas. Isto gera um terreno fértil para a prática de um cuidado mais humanizado.
Em vários países, como Holanda, Suécia, Inglaterra, Canadá, que possuem uma Atenção Primária à Saúde bem estruturada (que por isso conseguem ter sistemas de saúde mais custo-efetivos e equânimes), o médico de família é o primeiro profissional consultado quando o paciente recorre ao sistema de saúde. Ele é o guia do paciente pelos complicados caminhos deste sistema, poupando-o de intervenções médicas desnecessárias.
Neste sentido, estudos internacionais apontam que a mortalidade da população é maior quanto menor for a proporção de médicos de família por Km2, pois além da garantia do acesso à saúde, isto protege o paciente de um especialista inadequado (assim como o especialista do paciente inadequado), prevenindo a iatrogenia. Isto é chamado de prevenção quaternária, ou proteger o paciente dos riscos que o próprio sistema de saúde oferece. Nos Estados Unidos, por exemplo, o excesso de cuidados do sistema de saúde causa a morte de 225 mil pessoas anualmente.
No Brasil, ainda são poucos os especialistas em Medicina de Família e Comunidade, e apesar de aproximadamente 30 mil médicos trabalharem na Estratégia Saúde da Família (ESF), pouco mais de 2 mil tem Residência ou Título de Especialista em Medicina de Família e Comunidade.
Para aumentar o número de especialistas em MFC no Brasil, área considerada estratégica pelo Ministério da Saúde para elevar a cobertura populacional pela ESF, a SBMFC realiza a Prova de Título de Especialista em Medicina de Família e Comunidade, que tem como objetivo diferenciar os profissionais com conhecimento e experiência que atuam na APS. As inscrições para a 16ª edição do TEMFC tem inscrições abertas até o dia 15 de fevereiro, pelo site www.sbmfc.com.br.
Esta edição da prova será descentralizada e com isso os candidatos terão a chance de realizar o exame em sua própria cidade ou em uma cidade próxima. Como a prova acontecerá no dia 06 de abril, por ser o último dia do Congresso Mundial de Medicina Rural da Wonca em Gramado – RS, os médicos que participarem do evento poderão prestar a prova no próprio local do evento.
É importante ressaltar que várias cidades (Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre, etc.) no Brasil já valorizam com salário diferenciado o médico com Residência ou Título de Especialista em MFC. A SBMFC convoca os médicos de família brasileiros a legitimarem sua especialidade, contribuindo para o crescimento desta especialidade importante para o Brasil, e assim para a qualificação da Atenção Primária do país.
Por último, convocamos a todos os coordenadores de Residência em MFC do país a estimularem seus recém-egressos (último mês do R2 em janeiro/14) a prestarem o TEMFC 16. Esta será uma excelente maneira de avaliar os Programas de Residência, e se os mesmo estão atingindo o objetivo de formar especialistas em MFC.
Atenciosamente,
Emílio Rossetti Pacheco
Diretor de Titulação – SBMFC