No dia 29 de outubro de 2010, foi realizado na sede do Conselho Federal de Medicina, em Brasília, o I Fórum da Câmara Técnica de Medicina de Família e Comunidade do CFM.
O mesmo foi aberto pelo presidente da instituição, Dr. Roberto Luiz D’avila, que ressaltou a importância que a instituição dedicava a este evento. Um dos pontos altos foi a mesa sobre Saúde da Criança na ESF da qual participaram, os Drs. Dioclécio Campos Jr., ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e, o Dr. Gustavo Gusso, presidente da SBMFC.
O Dr. Campos relatou a história da pediatria no Brasil e ressaltou o desejo da SBP tem de que suas crianças sejam acompanhadas pelo pediatra. Por sua vez, o Dr. Gusso fez um resgate histórico de como funcionam os sistemas de saúde no mundo e teceu um resumo dos princípios da medicina de família e comunidade, salientando aos presentes que não se trata de um amálgama de clínico, cirurgião, ginecologista e pediatra, mas de uma disciplina com uma epistemologia bem definida. “A graduação deve formar uma célula-tronco capaz de se diferenciar em qualquer especialidade sendo a medicina de família e comunidade uma opção, a pediatria outra e a cardiologia outra”, reforçou o especialista.
Gusso demonstrou ainda que o treino em saúde da criança na Atenção Primária durante a residência de MFC supera o da residência em pediatria e, que os sistemas mais custos efetivos têm um clínico geral ou médico de família e comunidade bem treinado na porta de entrada. Outro ponto colocado pelo especialista foi o fato de praticamente todos os países desenvolvidos designarem as vagas da residência conforme a necessidade do serviço, não conforme o desejo dos recém-formados. “Caso contrário o país teria um excesso de dermatologistas e oftalmologistas, especialidades muito procuradas”, relatou o Dr. Gusso.
O presidente da SBMFC prosseguiu dizendo que nos países desenvolvidos não há sobra de profissionais e os recursos humanos são mais bem aproveitados, o que repercute inclusive na remuneração. De acordo com ele, não é apenas do pediatra que a sociedade brasileira deseja , como afirmado pelo Dr. Campos, mas também tomografia computadorizada para dor de cabeça e ressonância para lombalgia, sem sinais de alarme. Ele argumentou ainda que a medicina privada, embora atenda 30% da população, cria um estigma em toda a sociedade de que o sistema de saúde seja similar um "shopping center", o que não é correto.
Como parte do resgate histórico, Dr. Gusso mostrou que a porta de entrada do sistema com internista, pediatra e ginecologista foi criada pelos Bolcheviques, em 1917, na antiga União Soviética e estava ultrapassada.
E, para concluir sua explanação, o MFC chamou a atenção de todos para a importância de se trabalhar em uma rede de atenção multiprofissional. “Todas as especialidades são fundamentais para a estruturação de um sistema de saúde de qualidade, universal e equânime”.
Diante das argumentações, Dr. Gusso e Dr. Campos concordaram que um dos maiores desafios do sistema é fazer com que a classe média e alta utilizem os serviços, pois geraria um ciclo virtuoso de mais investimento e aumento da qualidade. Nas considerações finais, o Dr. Gustavo Gusso ponderou serem ambas as especialidades próximas, pois no dia a dia são capazes de lidar com a incerteza, o que é praticamente uma especificidade.
Ao final do dia, houve debate sobre financiamento e as diversas formas de remuneração. Na discussão foi salientado que a forma de remuneração exclusiva por salário fixo pune quem se dedica na medida em que não diferencia os esforços das equipes, porém não se chegou a uma conclusão de qual forma de remuneração deve ser adotada. Ficou pré-agendada a segunda reunião do Fórum para o 11º Congresso Brasileiro de MFC, que ocorrerá de 23 a 26 de junho de 2011, também em Brasília.
Crédito imagem: Portal Secret. Turis. Brasília