O Grupo de Trabalho de Medicina Rural da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade manifesta seu apoio às iniciativas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para dar acesso à educação e saúde a pessoas oriundas de assentamentos da Reforma Agrária e às comunidades tradicionais do campo, como quilombolas. A UFPE acerta ao promover a qualificação de médicas e médicos de origem rural e em territórios rurais.
Louvamos a adesão ao PRONERA com vagas de medicina para essas populações. Trata-se de um programa consolidado há décadas em diversas áreas e que agora provoca polêmica pela UFPE incluir também a medicina. Além disso, a UFPE criou, no semi-árido pernambucano, em Caruaru, o primeiro Programa de Residência de Medicina de Família e Comunidade – ano adicional em Saúde da População do Campo, Florestas e Águas, alinhando-se à Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Florestas e Águas. Essas ações pioneiras fazem da UFPE uma instituição de referência e um modelo a ser seguido nacional e internacionalmente.
Países de todo o mundo ratificaram o compromisso com a saúde para todos, desde a histórica Conferência Mundial de Saúde em 1978. Um dos maiores entraves à universalidade do acesso à saúde é a oferta de trabalhadores de saúde qualificados e as áreas rurais são reconhecidas como as que mais sofrem com a falta desses trabalhadores e de serviços adequados às suas necessidades. Garantir o acesso equitativo aos serviços de saúde para populações rurais e remotas continua sendo um desafio para governos e formuladores de políticas em todo o mundo. No cerne desse desafio complexo está a escassez global de profissionais de saúde bem treinados, qualificados e motivados para áreas rurais e remotas (WHO, 2021).
A OMS e a Organização Mundial de Médicas e Médicos de Família e Comunidade (WONCA) recomendam explicitamente a abertura de cursos e vagas de medicina e de outras profissões destinados a pessoas oriundas do meio rural (Rural WONCA, 2021; WHO, 2021). Desse modo, a UFPE age em coerência com diretrizes técnicas e científicas, contribuindo para fixar profissionais de saúde nas áreas rurais e a qualificar modelos de atenção à saúde que respondam adequadamente às necessidades de saúde desses territórios. A força de trabalho em saúde rural deve ser sistematicamente apoiada e planejada, e ter trajetórias claras de saúde rural, frequentemente denominadas de “pipeline” de saúde rural (O’Sullivan et al, 2020). Os estudantes em áreas rurais devem ser ativamente expostos, selecionados e educados em e para carreiras em ciências da saúde, entendendo os estudantes em todos os estágios (Rural WONCA, 2021).
Pessoas que vivem em regiões rurais e remotas são historicamente marginalizadas pelos direitos sociais. Ações que permitam a criação de trajetos de ensino e acesso a populações rurais para a formação médica, estão alinhadas às políticas de Recrutamento e Retenção da OMS e alinhadas com os princípios de equidade, de forma a reduzir desigualdades, pobreza, insegurança alimentar, devastação ambiental e adoecimento, afetando os espaços das cidades e, mais intensamente, das áreas rurais. Defendemos a saúde em sua concepção ampla como direito de todos e dever do Estado, como resguardado em nossa Constituição Federal. Todas as iniciativas nessa direção, incluindo as da UFPE, merecem o reconhecimento e apoio de toda a sociedade brasileira.
VIVA O PRONERA!
VIVA O SUS!
Grupo de Trabalho de Medicina Rural da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Setembro, 2025
Referências:
- WHO. WHO guideline on health workforce development, attraction, recruitment and retention in rural and remote areas. Geneva: World Health Organization, 2021.
- O’SULLIVAN, Belinda et al. A Checklist for Implementing Rural Pathways to Train, Develop and Support Health Workers in Low and Middle-Income Countries. Frontiers in Medicine, v. 7, p. 594728, 2020.
- RURAL WONCA. Blueprint for Rural Health. In: Bangladesh: WWPRP, 2021. Disponível em: https://ruralwonca.org/wp-content/uploads/2021-Blueprint-for-Rural-Health.pdf