Pesquisadores anunciaram ontem, por meio de estudo publicado no site da revista científica "Nature", uma forma de obter células-tronco pluripotentes induzidas (conhecidas pela sigla iPS) sem a utilização de vírus. Resultado que pode fazer com que a aplicação dessas células, no futuro, fique mais segura. As iPS não dependem de material embrionário para serem feitas.
Até hoje, apenas cinco países, inclusive o Brasil, dominam a técnica de fazer iPS. Mas, em todos os casos, a almejada reprogramação de DNA usada para fazer esse tipo de célula-tronco, que assim como as embrionárias pode se transformar em qualquer tipo de tecido humano, só é possível com a utilização de vetores virais. A interferência genética por meio dos vírus era a única forma, até hoje, de reprogramar a célula. Assim, ela deixa de ser uma célula de pele, por exemplo, e passa a ser pluripotente.
O que dois grupos de pesquisa (Canadá e Grã-Bretanha) fizeram agora foi utilizar um conhecido pedaço de DNA já usado para modificar geneticamente vários organismos. Essa ferramenta, chamada de "piggyBac", mostrou ser eficiente ao ser colocada no processo de obtenção das iPS no lugar dos vírus. A manipulação de quatro genes por meio do pequeno pedaço de DNA conseguiu criar iPS tanto a partir de células de pele humana quanto em camundongos, mostram os estudos.
Segundo Ian Wilmut, pesquisador do Centro de Medicina Regenerativa de Edimburgo (Escócia) e conhecido por ter clonado a ovelha Dolly, ainda vai demorar um certo tempo até que as iPS possam ser usadas em pacientes. Mas a técnica anunciada ontem, disse ele, é um "importante passo". Para Wilmut, a possibilidade de obter iPS sem o uso de vírus aliada aos demais resultados recentes divulgados sobre diferenciação de células-tronco são provas de que as esperanças prometidas pela medicina regenerativa em todo mundo poderão virar realidade. Um dia, a expectativa é que essas células possam ser usadas contra Parkinson, diabetes, câncer e lesões de medula.
Fonte: Folha de S.Paulo