Foi realizado no último sábado, 14 de janeiro, o III Fórum de Especialidades Médicas, encontro realizado em São Paulo organizado pela Comissão Mista de Especialidades (CME), entidade formada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
Dentre os assuntos, foram discutidos aspectos referentes ao conceito de especialidade médica e os parâmetros que definem as áreas de atuação; a formação de especialistas; e, a necessidade de médicos no País. Com base nestas frentes, os participantes do III Fórum foram divididos em quatro grupos: 1. Impacto de reconhecimento das especialidades médicas na formação médica, na profissão, na assistência à Saúde e para a sociedade em geral; 2. Parâmetros que definem Especialidade Médica e Área de Atuação. Revisão do conceito e proposições; 3. Parâmetros que definem a formação do especialista no Brasil. Revisão do conceito e proposições; e 4. Necessidade de especialistas no Brasil.
Também estiveram presentes representantes da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), do Ministério da Saúde, Conselho Nacional dos Secretários de Saúde e dos Secretários Municipais de Saúde (Conass/Conasems) e da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem). A partir da síntese dos relatórios de cada grupo de discussão, será redigido um texto final pela CME.
Medicina de família, ESF e generalistas
Um dos pontos mais discutidos durante o III Fórum foi a Atenção Básica, com base no modelo de Estratégia Saúde da Família. Em seu discurso de abertura, o presidente da AMB, Florentino Cardoso, defendeu a ESF como porta de entrada do sistema público de saúde. “O primeiro acesso dos doentes deve ser na atenção básica por meio da ESF que é capaz de resolver 85% da demanda e deixar os outros 15% para a atenção secundária e terciária”, ressaltou Cardoso.
Em entrevista à equipe de reportagem da SBMFC News, o presidente da AMB salientou ainda que para fortalecer a ESF é necessário oferecer condições de trabalho, valorizar o profissionais da equipe e, sobretudo, ter um médico capacitado no atendimento primário. “Este especialista é o médico de família e deve-se investir na formação e reconhecimento deste profissional”, disse. (confira entrevista completa na próxima news)
Outro assunto que gerou polêmica entre os presentes foi quanto à definição do “generalista”, descrito como sendo um médico sem título de especialista e/ou residência no estudo “Demografia de Médicos no Brasil”, levantamento lançado em dezembro de 2011 elaborado pelo CFM e Cremesp que traça um perfil da área médica no País com base no número de médicos por especialidade, na distribuição territorial e na faixa etária, entre outros aspectos.
Presente, o presidente da Sociedade, Gustavo Gusso, defendeu que o generalista é aquele que esta na ponta do sistema de saúde devidamente capacitado para atuar no atendimento à população. Gusso chamou à reflexão para qual modelo de atenção o Brasil quer seguir e explicou que nos Estados Unidos, estão na ponta o GO, o internista, o pediatra e o médico de família; na Europa, é o médico de família, sendo alguns locais com o pediatra; e na África e América Latina (em geral), onde atuam médicos sem especialização. “O generalista e a necessidade de cada especialidade dependem muito do modelo e de onde queremos chegar e sabemos que os países com mais sucesso são os da Europa Ocidental e Canadá”, disse Gusso.
Para o presidente da SBMFC o Fórum apontou para um consenso de que na porta de entrada deve estar o MFC qualificado e que as demais especialidades tem que se adequar à demanda real de cada uma (problema ou doença existente, verdadeiras necessidades). Além disso, foi bastante aceito que o profissional sem especialização não será a estratégia a médio prazo para formação de generalistas. Segundo Gusso, nos últimos 10 anos as entidades médicas avançaram muito neste ponto sendo que as três (Fenam, CFM e AMB) passam por um momento especial se considerarmos o histórico. “O que trava mais hoje em dia na minha opinião são: governo federal que se recusa a financiar a saúde e Universidades grandes e tradicionais que se recusam a mudar a cultura institucional (servindo de modelo negativo ao resto do pais).”
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