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SBMFC entrevista Lucas Gaspar Ribeiro: vamos falar sobre PICs?

26 de janeiro de 2018

Material produzido pelos membros do GT de PICS da SBMFC e organizado pelo coordenador, Lucas Gaspar Ribeiro.

SBMFC: Quais práticas se encaixam no termo Práticas Integrativas e Complementares (PICS)?

GT de PCIs: De acordo com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC (Portaria GM/MS nº971 e Portaria nº849/2017) estão inseridas no Sistema Único de Saúde, SUS, 19 práticas, contemplando as áreas de homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, medicina tradicional chinesa/acupuntura, medicina antroposófica e termalismo social – crenoterapia, desde 2006, e desde 2017 também arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa e yoga.

 

SBMFC: Em quais situações são indicadas? Onde e como se aplicam? 

GT de PCIs: As PICS são tecnologias que abordam a saúde do ser humano na sua multidimensionalidade física, mental, psíquica, emocional e espiritual – fortalecendo os mecanismos naturais de cura de seu organismo e busca do equilíbrio do mesmo. Abrangem procedimentos de sistemas médicos tradicionais complexos, práticas de saúde baseadas na filosofia vitalista e no resgate dos valores culturais. Há uma abordagem individual, longitudinal, cultural e familiar na intervenção com essas práticas.

As PICS são indicadas como terapêutica coadjuvante ou principal em diversas condições clínicas e nosológicas, em patologias agudas ou crônicas. Atuam de forma preventiva ou curativa. Sua inserção no SUS é entendida como estratégia importante para melhorar a resolutividade e efetividade dos projetos terapêuticos individuais e coletivos; reduzir o uso desnecessário e abusivo de medicamentos e os efeitos adversos dos tratamentos crônicos; auxiliar nos processos de revisão existencial dos indivíduos; acrescentar bem-estar e qualidade de vida aos sujeitos adoecidos.

É possível conhecer as PICS através da PNIPCS, do Caderno de Atenção Básica 31 e também da própria biblioteca do GT de PICS. Abaixo segue um pequeno resumo das práticas mais frequentes, mas não únicas.

Fitoterapia

A fitoterapia é um tratamento terapêutico caracterizado pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. A fitoterapia constitui uma forma de terapia que vem crescendo notadamente neste começo do século XXI.

Acupuntura

A acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde que aborda de modo integral, sistêmico e dinâmico o processo saúde-doença, podendo ser usada isolada ou de forma integrada com outros recursos terapêuticos. A Acupuntura é uma prática que compõe a Medicina Tradicional Chinesa. Criada há mais de dois milênios, é um dos tratamentos mais antigos do mundo. Diferentes abordagens para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças são realizadas, entretanto o procedimento mais adotado no mundo atualmente é o estímulo de locais anatômicos definidos por meio de agulhas metálicas muito finas e sólidas, manipuladas manualmente ou por meio de estímulos elétricos. A Medicina Tradicional Chinesa, onde está inserida a acupuntura, está fundamentada na teoria do  yin-yang e na teoria dos cinco elementos ou cinco movimentos ou cinco fases. Essas teorias foram criadas e desenvolvidas pelos antigos chineses com base na observação dos ciclos da natureza e suas mudanças. A tradição taoista é um dos pilares da Medicina Tradicional Chinesa. 

Homeopatia

A Homeopatia é um sistema terapêutico que se baseia no princípio da similitude, na experimentação no homem são, na utilização de medicamentos ultradiluídos e dinamizados e em uma compreensão vitalista acerca da vida, da saúde e da doença, que aborda o sujeito como um todo, buscando a sua individualização. Foi desenvolvida por Samuel Hahnemann no século XVIII, após estudos e reflexões baseados na observação clínica e nas experimentações medicamentosas realizadas em homens sãos e não em animais ou doentes. A palavra homeopatia, criada por Samuel Hahnemann, oriunda do grego homoios (semelhante) e pathos (doença ou sofrimento), designa o sistema terapêutico baseado na lei natural de cura de que sejam os semelhantes curados pelos semelhantes. A Homeopatia pode ser usada em qualquer ser vivo, pode ter um uso individual ou coletivo (nas epidemias, por exemplo), em qualquer faixa etária e em patologias agudas ou crônicas. Atua de forma preventiva ou curativa, como tratamento principal ou complementar.

Medicina antroposófica

A medicina ampliada pelos princípios da antroposofia, designada por Medicina Antroposófica, amplia os conhecimentos da medicina acadêmica pela concepção de que o ser humano, além do seu corpo físico, também é uma realidade psíquica e espiritual individualizada, que interage com seu meio ambiente, sociedade e cultura. A Medicina Antroposófica, portanto,  é um sistema terapêutico baseado na antroposofia que integra as teorias e práticas da medicina moderna com conceitos específicos antroposóficos. A metodologia da Medicina Antroposófica está fundamentada na obra de  Rudolf Steiner, sistematizador da antroposofia, e em seu trabalho conjunto com a médica Ita Wegman. A Medicina Antroposófica não se apresenta como uma simples técnica de diagnóstico e tratamento, mas como um caminho de desenvolvimento interior do próprio médico e um auxílio no processo de conhecimento e desenvolvimento de seus pacientes. A terapêutica da medicina antroposófica vai bem além do uso de medicamentos. A partir dela, têm-se desenvolvido outros recursos terapêuticos com indicações específicas e diferenciadas, como: eurritmia curativa (uma nova forma de dança), terapia artística, massagem rítmica e quirofonética (terapia baseada na fala). Todos os medicamentos antroposóficos são olbtidos da natureza, a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais. Na Medicina Antroposófica muitos medicamentos são dinamizados, ou seja, diluídos e agitados ritmicamente (segundo a farmacotécnica homeopática). Mas há também medicamentos antroposóficos feitos a partir de tinturas de plantas, extratos secos e chás, ou seja, medicamentos não dinamizados.   A abordagem terapêutica tem o seu fundamento em um entendimento espiritual-científico do ser humano que considera bem-estar e doença como eventos ligados ao corpo humano, mente e espírito do indivíduo, realizando a abordagem holística ("salutogenesis") que enfoca os fatores que sustentam a saúde humana através do reforço da fisiologia do paciente e da individualidade, ao invés de apenas tratar os fatores que causam a doença. A autodeterminação, autonomia e dignidade dos doentes é um tema central.

Termalismo/crenoterapia

O termalismo é um método natural de tratamento que recorre às águas minerais e/ou termais para fazer as curas. A variedade de componentes químicos e propriedades físicas da água e o seu equilíbrio permite obter propriedades que ajudam a recuperação da saúde. O termalismo engloba também todo um conjunto de tratamentos à base de produtos naturais retirados da nascente, como vapores, gases e lamas.O recurso à água como agente terapêutico foi iniciado pelos povos que habitavam nas cavernas, depois de observarem o que faziam os animais feridos.

Arteterapia

Uma atividade milenar, a arteterapia é um procedimento terapêutico que funciona como um recurso que busca interligar os universos interno e externo de um indivíduo, por meio da sua simbologia. É uma arte livre, conectada a um processo terapêutico, transformando-se numa técnica especial, não meramente artística. É uma forma de usar a arte como uma forma de comunicação entre o profissional e um paciente, assim como um processo terapêutico individual ou de grupo buscando uma produção artística a favor da saúde.

Meditação

A meditação é uma prática milenar descrita por diferentes culturas tradicionais. Tem como finalidade facilitar o processo de autoconhecimento, autocuidado e autotransformação e aprimorar as interrelações – pessoal, social, ambiental – incorporando à sua eficiência a promoção da saúde. Amplia a capacidade de observação, atenção, concentração e a regulação do corpo-mente-emoções.

Musicoterapia

Prática integrativa que utiliza a música e/ou seus elementos – som, ritmo, melodia e harmonia – num processo facilitador e promotor da comunicação, da relação, da aprendizagem, da mobilização, da expressão, da organização, entre outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de atender necessidades físicas, emocionais, mentais, espirituais, sociais e cognitivas do indivíduo ou do grupo.

Tratamento naturopático

A Naturopatia é um sistema terapêutico que utiliza métodos e recursos naturais, para apoio e estímulo à capacidade intrínseca do corpo de recuperação da saúde.

Tratamento osteopático

A osteopatia é método diagnóstico e uma forma de tratamento manual das disfunções articulares e teciduais, muito utilizado em condições dolorosas da coluna cervical e dos membros superiores. Através de técnicas de manipulação, stretching, mobilização, tratamentos para a ATM, e mobilidade para vísceras, aos poucos vai melhorando a mecânica dessas articulações, órgãos e tecidos, fazendo com que os sintomas venham regredindo a medida do tempo.

Tratamento quiroprático

A Quiropraxia é uma prática que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção das disfunções mecânicas no sistema neuromusculoesquelético e os efeitos dessas disfunções na função normal do sistema nervoso e na saúde geral. O tratamento de quiropraxia é dividido basicamente em três etapas. A primeira visa eliminar ou reduzir os sintomas da subluxação (desalinhamento da coluna), a segunda a estabilização e por último a manutenção que progredir com o bem estar.

Reiki

O Reiki é a canalização da frequência energética por meio do toque ou aproximação das mãos e pelo olhar de um terapeuta habilitado no método, sobre o corpo do sujeito receptor. A terapêutica objetiva fortalecer os locais onde se encontram bloqueios – “nós energéticos” – eliminando as toxinas, equilibrando o pleno funcionamento celular, de forma a restabelecer o fluxo de energia vital – Ki. A prática do Reiki responde perfeitamente aos novos paradigmas de atenção em saúde, que incluem dimensões da consciência, do corpo e das emoções.

 

Terapia Comunitária

A Terapia Comunitária atua em espaço aberto à comunidade para construção de laços sociais, apoio emocional, troca de experiências e prevenção ao adoecimento. Ao produzir a diminuição do isolamento social e ao produzir uma matriz móvel permite um espaço de troca e apoio social o qual funciona como alicerce para a produção de redes sociais e a transformação microrregional. A técnica se divide em cinco passos semi-estruturados – acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização, rituais de agregação e conotação positiva – fáceis de aprender e de se difundir como instrumento de promoção da saúde e autonomia do cidadão.

Dança Circular/Biodança

Biodança é um sistema de integração e desenvolvimento humano, um sistema baseado em experiências do crescimento pessoal induzido pela música, movimento e emoção. Esta terapia utiliza exercícios e músicas organizados, a fim de aumentar a resistência ao estresse, promover a renovação orgânica e melhorar a comunicação. Sua metodologia é induzir experiências de integração por meio da música, do canto, do movimento criando situações que facilitam a reunião em nível de relacionamento interpessoal.

Dança Circular é uma prática de dança em roda, tradicional e contemporânea, originária de diferentes culturas que favorece a aprendizagem e a interconexão harmoniosa entre os participantes. As pessoas dançam juntas, em círculos e aos poucos começam a internalizar os movimentos, liberar a mente, o coração, o corpo e o espírito. Por meio do ritmo, da melodia e dos movimentos delicados e profundos os integrantes da roda são estimulados a respeitar, aceitar e honrar as diversidades.

Yoga

Trabalha o praticante em seus aspectos físico, mental, emocional, energético e espiritual visando à unificação do ser humano em Si e por si mesmo. Constitui-se de vários níveis, sendo o Hatha Yoga um ramo do Yoga que fortalece o corpo e a mente através de posturas psicofísicas (ásanas), técnicas de respiração (pranayamas), concentração e de relaxamento. Entre os principais benefícios podemos citar a redução do estresse, a regulação do sistema nervoso e respiratório, o equilíbrio do sono, o aumento da vitalidade psicofísica, o equilíbrio da produção hormonal, o fortalecimento do sistema imunológico, o aumento da capacidade de concentração e de criatividade e a promoção da reeducação mental com consequente melhoria dos quadros de humor, o que reverbera na qualidade de vida dos praticantes.

Oficina de Massagem/Automassagem

Diversas culturas utilizam as massagens no cuidado em saúde, a automassagem tem a finalidade de manter ou restabelecer a saúde, por meio da promoção do equilíbrio da circulação de sangue e de energia por todas as partes do corpo. É realizada pelo próprio sujeito, por meio de massagens de áreas e/ou pontos de acupuntura no seu corpo.

Auriculoterapia

A auriculoterapia é uma terapia que consiste na estimulação com agulhas, sementes de mostarda, objetos metálicos ou magnéticos em pontos específicos da orelha para aliviar dores ou tratar diversos problemas físicos ou psicológicos, como ansiedade, enxaqueca, obesidade ou contraturas. A auriculoterapia chinesa faz parte de um conjunto de técnicas terapêuticas, que tem como base os preceitos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Acredita-se que tenha sido desenvolvida juntamente com a acupuntura sistêmica (corpo), que é, atualmente, uma das terapias orientais mais populares em diversos países e tem sido amplamente utilizada na assistência à saúde.

Massoterapia

A massoterapia é um termo que engloba diversas técnicas terapêuticas, cujo objetivo é melhorar a saúde e prevenir alguns desequilíbrios corporais. Por meio do ato de tocar regiões do corpo de uma pessoa, realizando movimentos fortes ou sutis, é possível trabalhar os aspectos físicos e mentais de cada um. A prática, baseada em técnicas de massagens relaxantes, estéticas ou terapêuticas inspiradas no oriente e no ocidente, é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

SBMFC: Quais profissionais estão aptos? É necessário ter especialização? 

GT de PCIs: É necessário realizar um curso de especialização vinculado às associações específicas para a pratica de Homeopatia e Acupuntura, que são especialidade médicas, necessitando de uma consulta completa, diagnóstico cínico, prescrição terapêutica específica, requisição e análise de exames. As demais práticas podem ser exercidas por qualquer profissional de saúde que tenha feito uma capacitação na área.

Os outros profissionais capacitados a realizar homeopatia e acupuntura são o cirurgião dentista e o médico veterinário.


SBMFC: Existe alguma regulamentação pelo CFM ou demais órgãos reguladores? 

GT de PCIs: RESOLUÇÃO CFM Nº 2.149/2016 (Publicada no D.O.U. de 03 de agosto de 2016, Seção I, p. 99) que regulamenta a homeopatia e acupuntura como especialidades médicas.

 

SBMFC: Algumas podem ter uso contínuo? 

GT de PCIs: Como as PICS estão comprometidas com o desenvolvimento humano, com a ampliação de consciência e, consequentemente, com a promoção da saúde, muitas delas podem se constituir em práticas continuadas, a exemplo da meditação, yoga, Tai Chi Chuan, Lian Gong em 18 terapias, arteterapia, automassagem, reiki, musicoterapia, dentre outras.A acupuntura, homeopatia, fitoterapia, dentre outras podem ser descontinuadas ou utilizar prescrições diferentes de acordo com a necessidade da pessoa. Muitos pacientes usam medicamentos por longos tempos para atingir o equilíbrio / cura.

 

SBMFC: Como está a incorporação no SUS? Quando há necessidade da indicação de alguma PIC, o MFC tem facilidade de encaminhamento?

GT de PCIs: Em 2016, segundo os dados coletados a partir do sistema informatizado e-SUS e do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), foram registrados mais de dois milhões de atendimentos das PICs nas UBS. Mais de 770 mil foram de Medicina Tradicional Chinesa que inclui acupuntura, 85 mil foram de fitoterapia, 13 mil de homeopatia. Já mais de 926 mil atendimentos são de outras práticas integrativas que não possuíam código próprio para registro, que com a publicação da portaria nº145/2017 passam a ter.

Atualmente, 1.708 municípios oferecem práticas integrativas e complementares e a distribuição dos serviços está concentrada em 78% na atenção básica, principal porta de entrada do SUS, 18% na atenção especializada e 4% na atenção hospitalar. Mais de 7.700 estabelecimentos de saúde ofertam alguma prática integrativa e complementar, o que representa cerca de 28% das Unidades Básicas de Saúde (UBS). As PICs estão presentes em quase 30% dos municípios brasileiros, distribuídos pelos 27 estados e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras. Um dos objetivos do GT é conseguir mapear e conhecer melhor como é seu uso pelos MFC e na APS.

Um pouco de história das PICS no SUS.


A PNPIC, criada em 2006, instituiu no Sistema Único de Saúde (SUS) abordagens de cuidado integral à população por meio de recursos terapêuticos, entre eles fitoterapia, acupuntura, homeopatia, medicina antroposófica e termalismo. Os serviços são oferecidos por iniciativa local, mas recebem financiamento do Ministério da Saúde por meio do PAB de cada município. Em 11 anos da implantação das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), pode-se destacar o interesse crescente da população por uma forma de atenção humanizada e de cuidado singular, iniciando o desenho de uma nova cultura de saúde e a ampliação da oferta destas práticas na rede de saúde pública.

Desde a sua implantação, o acesso dos usuários do SUS a essas práticas integrativas tem crescido exponencialmente. A inserção das PICs na rede de atenção à saúde como ferramenta de cuidado tem por objetivo ampliar a abordagem clínica e as opções terapêuticas ofertadas aos usuários, podendo ser utilizadas como primeira opção de tratamento ou forma complementar, respeitando as particularidades de cada caso.

A procura pelas práticas integrativas tem aumentado devido ao maior reconhecimento da eficácia terapêutica pelas evidências científicas, e também pela efetividade pragmática verificável pelos beneficiados. Além disso, há crescente número de profissionais capacitados e habilitados e maior valorização dos conhecimentos tradicionais de onde se originam grande parte destas práticas. Esse movimento tem recebido apoio da Organização Mundial da Saúde que incentiva os países a inserir alternativas ao cuidado à saúde. 

 

SBMFC: As evidências científicas indicam que as PICs têm eficácia? 

GT de PCIs: Existem vários estudos e experimentos que demonstram os efeitos clínicos benéficos das PICS. Vários trabalhos de pesquisa foram publicados em revistas indexadas e citados em trabalhos de revisão bibliográfica.

Na busca de compreensão das PICS os estudiosos têm levado em consideração as novas visões da natureza e do ser humano fornecidas por teorias científicas modernas, como a teoria da relatividade, a teoria quântica, a teoria do caos, o pensamento complexo, a teoria sistêmica, teorias nos campos da neurociência e da psicologia, por exemplo.

Entretanto, as PICS não podem ser compreendidas com base no paradigma cartesiano-mecanicista e materialista ainda predominante no meio científico. No fenômeno produzido pelas PICS, estão envolvidas forças imateriais que agem sobre a matéria e produzem nela perturbações condicionantes. Além disso, para uma compreensão mais abrangente das PICS, é preciso também levar em consideração o conhecimento da dimensão sutil dos seres vivos, que nos vem sendo propiciado há milhares de anos por diversas tradições sapienciais e espirituais da Antiguidade, num genuíno exercício de integração das dimensões racional e intuitiva para obtenção de conhecimento.

Assim, para avaliar a eficácia das PICS dentro da ciência, é preciso buscar e analisar a partir de novas racionalidades científicas. Há resultados muitos promissores com a terapêutica, mas muitas sem uma evidência “farmacológica”, que é o que a ciência busca, como o exemplo de Campinas – SP (Redução do uso de Anti-inflamatórios), o uso em São Bernardo do Campo – SP (Oncologia Pediátrica) e por fim em Belo Horizonte – MG (Parkinson). Ter uma ciência que esteja aberta a vários modos de validação e que leve em conta uma teoria ampliada e critica do conhecimento tende a potencializar a integralidade do cuidado.

 

SBMFC: Para um paciente que deseja aderir alguma dessas práticas, como encontrar locais regularizados? 

GT de PCIs: Infelizmente não são todos os municípios que tem alguma PIC inserida como rotina no sistema de saúde municipal ou com profissionais da atenção primária capacitados para realiza-lo. Com isso, sugerimos que converse dentro da equipe que lhe acompanha, no site do município, e outros locais dentro da rede de saúde municipal.

 

SBMFC: Quais serão as atividades do GT de PICs da SBMFC? 

GT de PCIs: A organização do GT se fará em 3 diferentes frentes de trabalho, com seus respectivos responsáveis:

1- Mapeamento das PICS. Frente que visa desenvolver e validar os locais que ocorre PICS, incialmente dentro da SBMFC, em seguida na APS e por fim em níveis secundários e terciário. Coordenador Lucas Gaspar Ribeiro; 

2 – Banco de Formação e Informação das PICS. Foco em organizar uma biblioteca de PICS, desenvolver o mapeamento e cursos e aproximar a SBMFC desses cursos, para que possamos desenvolver em conjunto para os MFC. Coordenador Angel Mar.

3- Comunicação e Política sobre PICS. Desenvolver a interação do GT com a SBMFC, com a imprensa e com outros meios de comunicação. Além de aproximar o GT com os municípios / políticas de PICS na APS. Coordenador Thiago Gomes.

 

SBMFC: Como os interessados podem se inscrever? 

GT de PCIs: O GT tem um e-mail exclusivo dele, que é picssbmfc@gmail.com.Também poderão entrar em contato direto comigo pelo e-mail lucasgasparribeiro@gmail.comTodos os profissionais médicos e não médicos são muito bem-vindos.

 

SBMFC: Deseja acrescentar algo? 

GT de PCIs: Estamos vivendo uma profunda crise na saúde e na medicina, em particular. O paradigma materialista e mecanicista, ainda predominante no pensamento científico, embora tenha contribuído para um progresso tecnológico sem precedentes, não favorece um desenvolvimento harmonioso do ser humano em sua interação consigo mesmo, com o meio social e com a natureza. As práticas de saúde contemporâneas vêm encontrando sérias limitações para responder efetivamente ás complexas necessidades de saúde de indivíduos e populações. 

Além disso, essas práticas têm se mostrado extremamente iatrogênicas, invasivas, de custo elevado, desumanas, distantes, frias, muito mecânicas e tecnicistas e, ainda, são voltadas para as doenças e não para o sujeito doente, cada vez mais com polifarmácia e uso indiscriminado de recursos, levando a excessos.

A iatrogenia clínica, relativa aos danos causados nas pessoas, principalmente pelos médicos, em função do excesso de intervenção e medicalização, tanto diagnóstica quanto terapêutica, vem ganhando dimensão coletiva e populacional, tornando-se recentemente a terceira maior causa de morte nos Estados Unidos da América. Assim, a clínica tradicional tem extrema dificuldade em ser eficaz e grande gerador iatrogênico.

Por sua vez, as PICS apresentam um modelo de compreensão do sujeito doente do processo saúde-doença e do processo terapêutico amplo, incluindo aspectos além do biológico, mostrando-se potencialmente mais emancipadoras do sujeito (desde a consulta até o processo terapêutico) e com menos riscos de iatrogenia e maior prevenção quaternária. É importante levar-se em conta também que o custo dessas práticas é baixíssimo quando comparado aos das intervenções da biomedicina.

Uma outra vertente pela qual se pode avaliar a inserção das PICS é refletindo-a a partir da formação médica atual levando-se em conta uma educação pautada exclusivamente no modelo biomédico. Nesse sentido, a formação biomédica que é pautada o modelo tecnicista, flexnieriano, de base cartesiana, permite que o homem seja avaliado como uma máquina e a doença ocorre quando essa máquina está com alguma falha.

Assim, o mecânico de pessoas, ou seja, o médico, independente de sua formação, é o responsável por buscar o erro e corrigi-lo. O médico de família e comunidade é um mecânico capaz de enxergar além de problemas isolado, mas sim o problema como um todo, incluindo o condutor do veículo, ou o condutor da máquina.

Entretanto, há conhecimentos e problemas que vão além da mecânica, e do observável ou diagnosticável (seja pela CID ou pelo CIAP-2), que muitas vezes o médico consegue passar um “óleo”, uma “graxa”, mas não consertar, apenas mantendo funcionando. E nesse ponto que as PICS como um todo representam uma ferramenta a mais ao mecânico, ampliando seu poder observatório, de diagnóstico e de correção dessa máquina, olhando além da técnica e da biologia,

Estendendo essa reflexão ao contexto das PICS pode-se dizer que elas fornecem outras formas de se acolher as demandas trazidas pelos usuários, aumentando o leque interpretativo com variados núcleos de conhecimento, que diferente do saber biomédico. Diversificando os olhares para as experiências trazidas naturalmente se potencializa as relações de cuidado do profissional de saúde.  

 

SBMFC: Quer indicar literatura/artigos/estudos aos interessados no tema? 

GT de PCIs: Ao longo desse texto, foram indicadas algumas leituras básicas sobre PICS, principalmente a PNPICS e o Caderno de Atenção Básica de PICS (número 31), também há um capítulo específico no Tratado de Medicina de Família e Comunidade. Mas seguem algumas opções de há um aprofundamento dos temas.

Uma importante autora e pesquisadora no campo das PICS é a filósofa e socióloga Madel T. Luz, que escreveu, entre outros livros, os livros: "Natural, racional, social, razão médica e racionalidade científica moderna", "A arte de curar versus a ciência das doenças: história social da Homeopatia no Brasil" e "Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudo sobre racionalidades médicas e atividades corporais".

Mais recentemente, temos o livro publicado em 2015, da médica de família e comunidade Isa Paula Hamouche Abreu: "Saúde integral: conexões com as tradições da Antiguidade e com a ciência moderna. Este livro foi editado em 2 volumes, sendo o volume 1: "A marca da totalidade e do vitalismo" e o volume 2: "A integralidade e o Sistema Único de Saúde do Brasil – SUS" *

Além disso, vem sendo produzidas, no Brasil, muitas teses acadêmicas que enfocam o tema das PICS.

Um médico de família e pesquisador que amplia com frequência o conhecimento na área é o prof. Dr. Charles Tesser.

Outra pessoa que poderia ser citada é a Dra Islândia Maria Carvalho de Sousa, enfermeira e pesquisadora da Fiocruz de Pernambuco que fez seu doutorado refletindo  sobre as PICS no contexto da atenção primária, enfatizando os aspectos relacionados ao cuidado e a formas avaliativas desta inserção. 

Por fim, a Associação Paulista de Homeopatia (APH), lançou em 2017 um material para comprovar a eficácia da terapêutica (dossiê APH) e o grupo MEDSCAPE lançou diversos artigos com a comprovação e uso de acupuntura.

*Isa Paula Hamouche Abreu, médica de família e comunidade em uma clínica de família localizada na cidade satélite de Sobradinho II/DF, da Secretaria de Estado de Saúde do DF