Nesta semana (11/8) o Povo Pankararu sofreu grave ameaça. Uma placa com os nomes das principais lideranças indígenas,”marcados para morrer”, foi fincada em seu território. A demarcação da Terra Indígena Pankararu perpassa os municípios de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu, em Pernambuco. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva e demais entidades abaixo assinadas, repudiam o ato de violência e exigem que o Estado brasileiro garanta a segurança, integridade física e respeito à identidade dos povos originários. Leia a nota na íntegra:
“Um dos significados de Pankararu é homens de fé e cura. Sempre fomos curadores, mas no contexto do contato com não-indígenas, também passamos a ser luta e resistência.
Não é de agora que o território indígena Pankararu é invadido e que nós e nossas lideranças são ameaçadas ou agredidas, muitas vezes com extrema violência.
Ainda pequena, meu avô me falava dos homens da bota. Eu, criança, não entendia o significado. Quando cresci um pouco mais é que tomei conhecimento que o homem da bota de que meu avô me falava era os fazendeiros, os coronéis, os posseiros e nós, indígenas, não tínhamos calçados, andávamos com o pé no chão. Descalços, mas sempre lutando por nosso povo, território, vidas, aldeia.
Ainda tenho em minha memória as retomadas de que participei.
Agora enfrentamos mais uma ameaça, o que nos deixa muito preocupados, inseguros por nossas vidas, pois nada é feito para nossa proteção. Já não basta a pandemia, os casos de Covid aqui em nossos territórios. Agora, mais uma vez – nem dá mais para contar, tantas vezes que foram -, nossas lideranças indígenas, que lutam constantemente pelo nosso território, são ameaçadas.
Somos Povo indígena Pankararu e cada um de nós tem um vínculo um com o outro. Essas ameaças, expressões de ódio contra nós, povos indígenas, nos deixam muito preocupados. A sensação é de injustiça, de abandono pelo estado brasileiro, é muito importante que este tome medidas a favor da proteção e preservação de nosso território, nossa vida e saúde”. Indígena Pankararu
“A luta pelo nosso território não é algo recente, parece ilógico pra mim que alguém queira brigar por algo que não é seu. Não fomos respeitados quando tiraram lugares que para nós eram sagrados, ou quando reduziram o tamanho de nossas terras. Essa luta tem se intensificado ainda mais pelo fato desse atual governo, o qual não representa a nenhum povo indígena, apoiar a ideia que os povos indígenas tem terras demais. Ignorantes eles, pois essa terra que eles chamam de Brasil junto com os outros países da américa, era tudo ocupado por indígenas. Estamos lutando hoje por um pedaço que na verdade deveria ser bem maior. Em pleno ano de 2020 além de nos preocupar com esse vírus que tem levado muitos de nossos entes queridos, temos que lidar com outros inimigos, pessoas que se acham no direito de dizer quem deve morrer. Espero que os culpados sejam localizados e punidos, pois ninguém merece viver a mercê do medo.”
Indígena Pankararu
Estamos estarrecidos diante das denúncias de ameaças que o Povo Pankararu sofreu nas últimas semanas por parte de posseiros que tentam invadir seus territórios. No dia 11 de agosto de 2020 uma placa com os nomes escritos das principais lideranças indígenas Pankararu marcadas para morrer foi fincada em seu próprio território.
O cenário de violência aos povos indígenas tem se ampliado nos últimos dois anos e as ameaças explícitas às lideranças Pankararu é mais um episódio em que isso se evidencia. A gravidade do problema se torna ainda maior se levamos em consideração que as ameaças se dão no contexto da pandemia que tem castigado os povos originários com mais severidade do que a população geral.
Nós indígenas, profissionais de saúde, trabalhadores da saúde indígena e ativistas, viemos através deste documento manifestar nosso repúdio às ameaças sofridas pelo Povo Pankararu e denunciar esta realidade inadmissível.
Para um povo ter saúde é preciso haver garantia de território, segurança à integridade física e respeito à identidade de seu povo. Solicitamos que as autoridades locais e federais investiguem os autores desse ato de violência e protejam as vidas das lideranças Pankararu.
Assinam:
Grupo de Interesse Especial em Saúde Indígena da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)
Diretoria da SBMFC
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)
Rede de Médicas e Médicos Populares
Núcleo de extensão e pesquisa com populações e comunidades Rurais, Negras, Quilombolas e Indígenas, do Programa de Pós Graduação em Saúde e Ambiente, da Universidade Federal do Maranhão (NuRuNI/PPGSA/UFMA)
Associação Nacional de Ação Indigenista – Maranhão (ANAÍ-MA)