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MFC lança primeiro livro sobre cuidados transdisciplinares da saúde do público LGBTQIA+

18 de janeiro de 2021

Saúde LGBTQIA+, Práticas de Cuidado Transdisciplinar é um manual com linguagem clara e objetiva, que traz temas importantes, mas pouco abordados na formação de profissionais de saúde: discussões consideradas tabu, práticas sexuais e prazer, processo de transição em pessoas trans, saúde física e mental, aspectos religiosos, legais e éticos, entre uma ampla gama de outros assuntos.

O primeiro livro brasileiro a tratar de forma abrangente temas pertinentes à saúde e comportamento das pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais e todas as demais variedades da sexualidade humana), em linguagem direta, sem meias palavras e sem deixar de contemplar aspectos técnico-científicos que regulam a realidade deste público. Assim pode ser definido o lançamento da Manole Saúde LGBTQIA+, Práticas de Cuidado Transdisciplinar, dos médicos Saulo Vito Ciasca, Andrea Hercowitz e Ademir Lopes Junior, médico de família e comunidade, membro do Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da SBMFC. 

O livro está na disponível para pré-venda no link: https://www.manole.com.br/saude-lgbtqia-praticas-de-cuidado-transdisciplinar-1-edicao/p.

Indicado para docentes, estudantes de graduação e pós graduação, residentes, profissionais da saúde e demais pessoas interessadas no contexto, o objetivo deste trabalho exclusivo é chamar a atenção sobre a necessidade de um olhar diferenciado e de um cuidado integral voltados a essa população, que representa de 10% a 20% do contingente nacional. Para tanto, reúne conhecimento profundo sobre saúde e comportamento LGBTQIA+, contextualizando o cenário da assistência à saúde no Brasil.

Os editores convidaram 140 colaboradores, com o cuidado de compor uma proporção equivalente entre autoras e autores, contemplando a diversidade de orientações sexuais, identidades de gênero, raças/etnias, regiões do país e profissões. Procuraram garantir que pelo menos uma das pessoas envolvidas no capítulo tivesse relação pessoal com a temática por sua identidade sexual e de gênero. Há profissionais das mais variadas áreas da saúde, que ensinam, pesquisam e cuidam de pessoas LGBTQIA+, além de estudantes e pessoas de movimentos sociais.

Temas tradicionalmente negligenciados na formação e prática dos profissionais de saúde são abordados, sempre fundamentados em evidências: da infância ao envelhecimento, parentalidade, conjugalidade, cuidados específicos de saúde de cada população, saúde sexual ampliada para necessidades LGBTQIA+, dentre muitos outros. 

O livro instrumentaliza profissionais de saúde na abordagem da população LGBTQIA+, cobrindo diversos aspectos específicos da anamnese e exame físico, questões relativas ao processo de transição de gênero e cuidados com pessoas que se encontram em condições de maior vulnerabilidade, como negras, indígenas, profissionais do sexo, em situação de rua e restrição de liberdade.

Também elenca as responsabilidades e competências necessárias para a atuação de cada especialista na prática do dia a dia.

 

 

 Abordagens diversas

A transdisciplinaridade do livro fica evidente quando o leitor se depara com a quantidade de temas de áreas distintas – e não obrigatoriamente correlatas – que são expostos em 11 seções com profundidade acadêmica.

Na primeira, intitulada “Nada sobre nós, sem nós”, narrativas reais de pessoas LGBTQIA+ sobre suas experiências em ambientes de saúde mostram um cenário realista dos sistemas de saúde no Brasil, buscando apontar algumas carências que demonstram a necessidade de maior conhecimento e preparo no acolhimento e atendimento dessa população.

Já em outra seção, “Saúde sexual e reprodutiva LGBTQIA+” a conversa vai além das disfunções na resposta sexual. “Para se ter uma ideia da importância dessa discussão, existem estudos científicos para dor na relação vaginal, mas não para dor na relação anal”, dizem os editores. Da mesma forma, segundo eles, o CID (Código Internacional de Doenças) menciona estudo sobre a ejaculação precoce na penetração vaginal, mas não na penetração anal. Para eles, esses paradigmas precisam ser rompidos e não apenas na questão física. “A ciência deve investigar, por exemplo, o que leva uma lésbica ou uma pessoa trans à depressão e como ajudá-las adequadamente.”

A seção “A diversidade na sociedade”, por exemplo, apresenta debates contemporâneos sobre bioética, direitos, formação de profissionais e produção científica. “Aqui trazemos também a questão histórica, discutida por um médico, um cientista social e um filósofo: por que a identidade sexual foi patologizada?”, questionam os editores.

 

Um caminho para trabalhar a saúde emocional dos LGBTQIA+ é a identificação dos perfis do grupo nas artes. Por isso, a obra disponibiliza uma série de sugestões de filmes, livros e outras referências, comentadas e analisadas por psiquiatras, mostrando a pluralidade sexual através dos tempos nas manifestações artísticas. 

 

Além do olhar dos profissionais de saúde, o livro complementa sua visão transdisciplinar trazendo um olhar sob a perspectiva de diferentes crenças religiosas. Os editores questionaram lideranças católicas, budistas, evangélicas, judaicas, islâmicas, espíritas e candomblecistas, convidando seus representantes a responder como a pluralidade de identidades sexuais é vista e recebida em cada uma dessas doutrinas. As respostas são surpreendentes.

 

Confira a relação completa de temas:

 

I – “Nada sobre nós, sem nós”

  • Narrativas de usuários, profissionais e estudantes LGBTQIA+ no Sistema de Saúde

II – Introdução à sexualidade humana e diversidade

  • Definições da sexualidade humana
  • Aspectos históricos da sexualidade humana e desafios para a despatologização
  • Diferenciação biológica do sexo e suas diversidades
  • Desenvolvimento das identidades de gênero
  • Desenvolvimento da orientação afetivo-sexual
  • Identidades sexuais e de gênero e suas relações com a cultura
  • Vulnerabilidade, interseccionalidade e estresse de minoria
  • Religiões e suas interfaces com a diversidade sexual e de gênero

III – Políticas de saúde LGBTQIA+ no Brasil

  • Necessidades de saúde: demografia, panorama epidemiológico e barreiras de acesso
  • Políticas do Sistema Único de Saúde e da Saúde Suplementar
  • LGBTIfobia institucional na área da saúde
  • Processo Transexualizador do SUS

IV – Ciclo de vida das pessoas LGBTQIA+

  • Desenvolvimento da infância e adolescência das pessoas LGBTQIA+
  • A “saída do armário”
  • Transição social de gênero
  • Conjugalidades e parentalidades LGBTQIA+
  • Envelhecimento da pessoa LGBTQIA+

V – Abordagem da diversidade sexual e de gênero

  • Acesso e organização dos serviços de saúde
  • Abordagem comunitária e educação em saúde
  • Anamnese e exame físico: comunicação afirmativa
  • Abordagem familiar e psicossocial
  • Abordagem da violência na prática clínica
  • Psicologia afirmativa e abordagens psicológicas

VI – Cuidado integral à saúde LGBTQIA+

  • Mulheres cis lésbicas
  • Homens cis gays
  • Mulheres e homens cis bi e pansexuais
  • Mulheres trans e travestis
  • Homens trans
  • Pessoas não binárias
  • Pessoas intersexo
  • Pessoas assexuais
  • Abordagem de pessoas LGBTQIA+ em situações específicas de vulnerabilidade

VII – Saúde sexual e reprodutiva LGBTQIA+

  • Abordagem da saúde sexual de pessoas LGBTQIA+
  • Satisfação e saúde sexual das pessoas cis lésbica, gay, bissexual e assexual
  • Satisfação e saúde sexual das pessoas trans e intersexo
  • Saúde reprodutiva e contracepção
  • Cuidados na prática do sexo anal
  • Cuidados com acessórios sexuais

VIII – Atenção a problemas específicos de saúde

  • Prevenção e cuidados às doenças crônicas
  • Cuidados ginecológicos
  • Afecções anorretais não infecciosas
  • Infecção por HIV e sorofobia
  • Outras infecções sexualmente transmissíveis
  • Síndromes depressivas e ansiosas
  • Suicídio e autolesão não suicida
  • Uso, abuso e dependência de substâncias
  • Cuidados com uso de internet e aplicativos
  • Problemas associados à imagem corporal
  • Disforia de gênero em crianças, adolescentes e adultos

IX – Modificações corporais

  • Cuidados no processo de transição de gênero
  • Bloqueio puberal e hormonização em adolescentes
  • Hormonização em adultos
  • Procedimentos cirúrgicos para mulheres trans, travestis e pessoas transfemininas
  • Procedimentos cirúrgicos para homens trans e pessoas transmasculinas
  • Acompanhamento multiprofissional das modificações corporais em pessoas trans

X – A diversidade na sociedade

  • Bioética
  • Direito da diversidade sexual e de gênero
  • Panorama da pesquisa LGBTQIA+
  • Ensino da saúde LGBTQIA+
  • Arte, cultura e representatividade LGBTQIA+

XI – Papéis, responsabilidades e competências profissionais

  • Papéis, responsabilidades e competências profissionais

 

Sobre os editores

Saulo Vito Ciasca é médico psiquiatra pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), professor, psicoterapeuta com formação em Psicodrama, Psicoterapia Psicodinâmica Breve e Teatro. Também é coordenador da Área da Saúde da Aliança Nacional LGBTI+ e da Pós-graduação em Psiquiatria pela SANAR, além de professor da disciplina de Saúde LGBTQIA+ na graduação em Medicina pela UNINOVE e de cursos de pós-graduação na área de sexualidade no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HCFMUSP), Hospital Pérola Byington, FMABC, UNISAL e IBCMED. Saulo é pesquisador e colaborador voluntário do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS) do IPq-HCFMUSP, especializado no cuidado de crianças e adolescentes com vivências de variabilidade de gênero, membro da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da OAB, membro voluntário da ONG Mães pela Diversidade e membro da World Professional Association for Transgender Health (WPATH). Co-fundador do Cursinho Pré-Vestibular MedEnsina.

Andrea Hercowitz é pediatra e hebiatra pela AMB e SBP, membro dos Departamentos de Adolescência e de Pediatria Legal da Sociedade de Pediatria de São Paulo, médica voluntária no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro do Conselho da ONG Mães pela Diversidade – SP. Andrea também é hebiatra da Casa Viva Clínica de Tratamento de Transtornos Alimentares e do Centro de Especialidades Pediátricas do HIAE, além de professora convidada da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.

Ademir Lopes Junior é médico de família e comunidade com graduação e residência pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), além de coordenador da Residência de Medicina de Família e Comunidade da FMUSP e especialista em educação de profissionais da saúde pela Universidade Federal do Ceará/Programa Faimer Brasil. Também co-coordena o Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e do GT de Populações (In)visibilizadas da Associação Brasileira de Educação Médica. É médico assistente no Centro de Saúde Escola Samuel B. Pessoa – FMUSP e coordenador da Preceptoria Médica para profissionais da Estratégia de Saúde da Família na Associação Saúde da Família e membro da World Professional Association for Transgender Health.