SBMFC – Qual a situação atual da MFC e da ESF na Paraíba?
Vinícius Ximenes – A Paraíba é um dos estados com maior acúmulo de experiências relacionadas à construção de Atenção Primária no Brasil. Desde o final da década de 40 tivemos experiências de atenção primária em saúde.
Somos um dos primeiros estados a constituir o PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde). A primeira equipe do Programa Saúde da Família ocorreu no município de Campina Grande. Hoje temos mais de 1.500 unidades de Saúde da Família, e mais de 90% de cobertura de nossa população, ou seja, uma das unidades da federação que mais avançou quanto à questão da cobertura, dentro de uma proporção muito maior de população completamente dependente dos serviços públicos no acesso ao direito á saúde, em relação a outros estados do país especificamente diversos do centro-sul do Brasil.
SBMFC – E quanto aos desafios? Quais são os principais?
VX – Construir de forma virtuosa a transição de um predomínio de uma APS simplificada para uma APS integral. Para isso, precisamos construir esta identidade dentro de nosso legado histórico. Se não houver vínculo, competência cultural e formação política, ficaremos sempre nesta dicotomia: assistência individual biomédica X sanitarismo preventivisto. E o que nem um pólo nem outro é capaz de enfrentar são os problemas concretos que envolvem o campo da saúde hoje. Acho que isso é a realidade de nossa Paraíba e também um pouco do Brasil.
SBMFC – Dentro desta realidade, qual a importância do encontro para o fortalecimento da MFC na região?
VX – Além da difusão de conhecimentos técnico-científicos e da teoria da APS integral, esperamos que o encontro contribua para a fortalecermos em nossa região o jeito de refletir e agir socialmente a partir da APS, onde temos grande acúmulo histórico em nosso estado, avaliando criticamente inclusive o andamento das políticas de saúde de nossa região.
SBMFC – O que simboliza esta imagem de divulgação do encontro?
VX – Escolhemos como tema do evento a “APS no Brasil: Qual a Nossa identidade?”. Assim, elegemos como símbolo do evento nosso chão rachado, típico deste sertão nordestino onde tanta coisa já se ‘arrolou’ quando discutimos construção de experiências de atenção à saúde e APS, mas ao lado deste chão, você pode ver no cartaz do evento, temos lá uma identidade com uma interrogação em relação ao rosto de quem é esta nossa APS.
Apesar de a integralidade ser quase um consenso de todos quanto a algo que deve ser prezado, precisamos mais claramente materializar o que é este princípio. Se não conseguirmos incorporar isto, não vamos conseguir superar historicamente o modelo de APS simplificado, ainda hoje predominante, por uma construção de APS de excelência.
SBMFC – Por fim, o que poderia destacar dentro da programação do encontro, as expectativas da APBMFC…
VX – Na plenária final do evento, iremos elaborar uma plataforma técnica-política para construir a intervenção na organização da APS da região sertaneja para os próximos anos, além de estruturar o Pré-Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), Núcleo Sertão paraibano do Centro de Estudos em Saúde (CEBES), articulação do projeto VER/SUS no Sertão da Paraíba e reunião de ingresso de novos membros na Associação Paraibana de Medicina de Família e Comunidade. Enfim, esperamos que seja uma grande praça de encontros!
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