Texto número 16 da série sobre 16 dias de ativismo contra a violência relacionada ao gênero, organizada pelo Grupo de Trabalho Mulheres na MFC, com apoio de outros GTs.
No dia 06 de dezembro de 1989, um homem de 25 anos adentrou uma sala de aula da Escola Politécnica de Montreal no Canadá, ordenou que os homens se retirassem e, em seguida, disparou tiros a queima roupa contra as mulheres ali presentes. Posteriormente, o assassino saiu pelas dependências do prédio tendo como alvo apenas pessoas do sexo feminino, deixando o total de quatorze mulheres mortas e ferindo outras dez. Por fim, cometeu suicídio e deixou uma carta em que declarava sua misoginia e alegava que feministas haviam arruinado sua vida.
O assassinato em massa gerou ampla comoção na sociedade e chamou a atenção para a discussão sobre as desigualdades entre homens e mulheres. Ainda na mesma época, um grupo de homens canadenses iniciou a Campanha do Laço Branco1, convocando o engajamento masculino no combate à violência contra a mulher. Atualmente, a campanha espalhou-se por outros países e faz parte de um movimento internacional que convoca o comprometimento de homens com a construção de sociedades com igualdade de gênero.
Desde 2007, o dia de hoje foi instituído no Brasil (Lei nº 11.489/2007)2, como Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. No cotidiano de médicas e médicos de família, lidar com esse tema envolve frequentemente ser responsável pelos cuidados em saúde não só das vítimas de violência, mas também estar em contato direto com homens agressores. Não há portanto, como nos furtarmos ao desafio de convocar homens e meninos de nossas comunidades a repensar os padrões de masculinidade vigentes e a se responsabilizar por mudanças efetivas.
As conquistas alcançadas ao longo dos anos pelo movimento feminista foram viabilizadas por meio da luta de mulheres e certamente não por benevolência de homens privilegiados. A socióloga australiana Raewyn Connell, que concentrou seus estudos no campo da masculinidade hegemônica, nos lembra que convocar homens para acabar com os próprios privilégios e dar suporte à igualdade de gênero pode soar como um projeto utópico, mas é um projeto já em curso3.
Cada vez mais homens têm reconhecido os problemas gerados pelo machismo, o qual, ainda que gere privilégios masculinos, implica também inequívocos danos para homens e mulheres. Nesse sentido, os materiais da campanha Eles por Elas4 (@elesporelasheforshe) conduzida pela Organização Mundial de Saúde e recursos como o livro “Como conversar com homens sobre violência contra as mulheres”5 e o documentário “Precisamos falar com os homens?”6 constituem ferramentas acessíveis às equipes de saúde para iniciar debates e construir novos caminhos coletivos rumo a um mundo livre de violência contra mulheres.
Por Bárbara Magalhães Menezes
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4291398U4
Referências: