Durante a Semana do Orgulho LGBTI, o Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da SBMFC inicia série de publicações com respostas às perguntas enviadas pelos seguidores do instagram da Sociedade, em ação realizada entre os dias 19 e 20 de junho.
As perguntas serão respondidas por temas e para a estrear, a abordagem da sexualidade durante as consultas é respondida pelo médico de família e comunidade Murilo Sarno.
Pergunta 1: Como lidar com adolescentes em sofrimento com sua sexualidade?
Inicialmente reforçar o sigilo da consulta, garantir que aquele é um espaço seguro para falar, tirar dúvidas, expor angústias. Lembrar que é direito do adolescente ter a consulta sozinho, caso assim solicite.
Importante que quem estiver acolhendo a pessoa evite presumir fatos sobre ela, mas ao invés, perguntar de forma aberta e respeitosa sobre os elementos que estão mobilizando esse sofrimento. Exemplos:
“Como você se sente em relação à sua sexualidade? Ao seu desejo?”
“Há alguma ideia sobre o tema que lhe incomoda? Cause dúvidas?”
“De que formas você entende que isso afeta a sua vida? Relações sociais? Relação familiar? Relações na escola?”
“De que forma você espera que nós lhe ajudemos? O que você deseja saber?”
“Você deseja conversar sobre este tema neste momento?”
A partir do que lhe for dito, aí sim conduzir uma orientação, um apoio mais personalizado, que pode incluir resolver dúvidas sobre conceitos de sexualidade, ofertar apoio e compreensão, indicar grupos de apoio LGBT, e se for uma necessidade da pessoa, ofertar apoio psicológico para fazer frente à situações de angústia por receio com discriminações. Trabalhar as concepções equivocadas que relacionem sexualidades à pecado, doença ou desvio moral, de forma a apresentar as diversidades sexuais e de gênero como manifestações saudáveis do ser humano, sendo mais importante perceber como se dão as relações de respeito, consentimento e prazer entre os envolvidos.
Caso haja relato de ter iniciado vida sexual, orientar sobre infecções sexualmente transmissíveis e oferecer sorologias e atualizar situação vacinal (Hepatite B e HPV, a depender da idade).
Garantir sempre a fala, respeitando o tempo de cada um em se abrir e confiar nos profissionais de saúde sobre o tema. Mesmo que não queiram falar naquela entrevista, deixar claro que se está a disposição para ouvir.
Evitar presumir “identidades sexuais ou de gênero” para a pessoa, pois este é um processo individual e que pode mudar com o tempo e em relação à cultural no qual esteja inserida.
Referências:
O exame físico é parte da entrevista clínica, sendo guiado pela necessidade da pessoa atendida, do relato que ela traz e das demandas da mesma. Cabe ao profissional de saúde realizar este exame de forma respeitosa, atentando aos limites do indivíduo, garantindo seu bem estar em todas as etapas, e informando a razão de cada um deles, além do achados. Deve-se reforçar o ambiente de segurança e sigilo, pedir pela autorização para realizar o exame, perguntar se a pessoa deseja alguma pessoa conhecida durante o exame, ou mesmo ter a presença de outro profissional de saúde caso a pessoa solicite.
Em se tratando de pessoas trans, seguir os passos acima, além de acolher dúvidas que ela possa ter, respeitando eventuais angústias que o exame físico possa gerar, sem forçar a autorização do mesmo.
Obtendo a permissão, reforçar as informações sobre seu corpo que possam aumentar a autonomia da pessoa. Aproveitar o exame para contextualizar os cuidados pertinentes, caso a caso.
Quanto a como chamar a pessoa, a regra é a de se referir pelo nome social da mesma, dessa forma garantido o respeito e integridade da mesma.
Referências: