O acesso a saúde é um direito constitucional, isso muita gente sabe. Mas as populações que vivem em áreas rurais e remotas, como os indígenas tem dificuldades para exercer esse direito, principalmente devido à falta de serviços e profissionais. Além da dificuldade de provimento e fixação de médicos para atuar nesse tipo de território, devido a logística de transporte, do abastecimento de medicamentos e coleta de material para exames; os profissionais da saúde geralmente não possuem competência e humildade cultural para lidar adequadamente com essa população, suas crenças e valores. No Dia nacional de Luta dos Povos Indígenas, datado em 7 de fevereiro, o Grupo de Trabalho de Medicina Rural da SBMFC aponta as especificidades de saúde dessa população e as consequências na saúde dos povos indígenas brasileiros quando o acesso à saúde é restrito.
Segundo a Funai, atualmente, a população indígena no país é de 460 mil, número muito menor quando o Brasil foi descoberto. No ano de 1500, eram entre 4 e 5 milhões. O que levou a essa diminuição tão impactante? Além da violência e perseguição pela disputa territorial e a disparidade social, os índios foram vitimas de diversas doenças, a partir de surtos e epidemias em contato com os não-indígenas. Entre eles, estão sarampo, infecções, malária, diarreia, tuberculose, pneumonia e até mesmo gripe. Atualmente são cada vez mais preocupantes as taxas de suicídio(1), o “processo de alcoolização” (2) e o aumento da prevalência de hipertensão (3).
“São diversos desafios que reforçam a importância da data. Quando falamos em luta, é algo relacionado mais não só a sobrevivência, mas sim, ao reconhecimento e respeito das diferenças e especificidades. Mesmo com programas como o Mais Médicos, poucos médicos que se candidatam a atuarem em lugares remotos. Os motivos são diversos, ficar longe da família, as condições de trabalho também são mensuradas. É preciso ter criatividade e um rol de competências ampliadas para atuar em cenários, onde persistem barreiras sócio-organizacionais, culturais e geográficas no acesso à média e alta complexidades. O médico de atenção primária precisa ser bastante resolutivo e adaptar-se a situações que fogem do treinamento e dos protocolos dos grandes centros urbanos”, explica Magda Almeida, diretora de Medicina Rural e coordenadora do GT.
A falta de experiências prévias também contribui para que a área não seja atrativa desde a faculdade, já que no ensino a saúde indígena quase não é citado. Raríssimas universidades abordam o tema, e ainda o fazem porque tem programas externos e convênios próprios, como a Unifesp. Outro ponto é a falta de pesquisa e estudos que embasem a atuação médica com os indígenas. É preciso mais atenção e investimento na saúde indígena pra que essa população não sofra ou até mesmo desapareça e as futuras gerações a conheçam apenas em livros de historia e buscas na internet. “Estamos falando de vidas, e todas elas merecem atenção e cuidado à saúde com qualidade e redução de mortalidade ao máximo possível”, conclui.
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