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Luto não é doença, mas precisa ser vivido

7 de março de 2018

Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade indica necessidade de atenção para aqueles que perderam familiares e pessoas de convívio para melhor aceitação da morte sem prejuízos à saúde física e mental

Muitos familiares e cuidadores precisam de abordagem e cuidado especial para passarem pelo luto da melhor forma possível. Esse processo pode prejudicar a saúde física e mental da pessoa enlutada, que muitas vezes, não recebe preparação para a perda de um ente em casos de doenças graves terminais e também morte imprevisível. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) indica a necessidade de atenção aos familiares e pessoas próximas, como os cuidadores, que também merecem cuidados nesse momento.

Na maioria dos casos graves de saúde e doenças terminais, a atenção médica e psicológica é voltada integralmente ao paciente e não há uma preparação adequada dos familiares e cuidadores. Esses merecem também uma atenção especial para enfrentar o momento de perda de forma sadia. “O luto acontece e precisa ser vivido. Cada pessoa reage a essa perda de uma forma diferente, alguns têm sintomas psicológicos e até físicos relacionados ao luto e precisam ter um claro entendimento do médico. Um alerta é que, em muitos casos, esse momento é diagnosticado como depressão, o que não deve ser feito”, explica André Silva, médico de família e comunidade e diretor da SBMFC. Existe a necessidade da vivência do luto, pois se não acontece após a morte, poderá voltar em qualquer outra fase da vida da pessoa. Cada processo é individual, assim como suas reações, além disso, o luto é o “preço do amor” e nos leva a uma revisão de valores.

Os sentimentos mais comuns no luto são tristeza, raiva, culpa e auto-recriminação, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio, emancipação, alívio, estarrecimento. Ainda com as  sensações físicas de vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, hipersensibilidade ao barulho, sensação de despersonalização, falta de ar, sentindo-se com respiração curta, fraqueza muscular, falta de energia e boca seca. Existem também comportamentos característicos como distúrbios do sono; distúrbios do apetite; comportamento “aéreo”, que tende a esquecer as coisas; isolamento social; sonhos com a pessoa que faleceu;  evitando coisas que lembrem a pessoa que faleceu; procurando e chamando pela pessoa.

Papel do médico no luto

Independentemente do problema apresentado, o cuidado centrado na pessoa deve estar presente dia a dia do médico. Quando a pessoa enlutada está com problemas que impactam a saúde, o médico precisa ter a sensibilidade de entrar no mundo dela e não ter receio em falar de ideias religiosas, mesmo que sejas de outra religião, seja ateu ou agnóstico. Outros tópicos que auxiliam no atendimento é ajudar a pessoa que ficou a se dar conta da perda, identificar e expressar os sentimentos dela, auxiliar a viver sem a pessoa falecida, facilitar o reposicionamento emocional da pessoa que faleceu e fornecer tempo para o luto.  

Esse tempo deve ser analisado de pessoa para pessoa, principalmente quando o histórico de relacionamento é analisado. “Todos nós perdermos entes queridos e pessoas muito próximas. Algumas perdas são inesperadas e mesmo as já esperadas, de pacientes com graves doenças são difíceis de aceitar para algumas pessoas. Deixar-se viver esse luto é de certa maneira até saudável, pois a partir da notícia da morte, a convivência com aquela pessoa que estava ali. É preciso analisar todo um contexto familiar e social para proporcionar um luto saudável, sem danos à saúde e também sem confundi-lo com a depressão. A relação médico-paciente é fundamental nesse quesito”, finaliza Silva.