De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente dois bilhões de pessoas são vítimas do fumo passivo no mundo. No Brasil, as crianças são 40% das vítimas do fumo passivo.
Grave problema de saúde pública, o tabagismo é fator causal de quase 50 doenças que incapacitam e matam os fumantes. Quanto maior o tempo de exposição ao tabaco, maiores as chances do desenvolvimento das doenças relacionadas e maior risco de morte em consequência desses agravos. O Grupo de Trabalho de Doenças Respiratórias da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), com foco no Dia Mundial sem Tabaco, datado em 31 de maio, orienta a população sobre as doenças, incidência e necessidade de políticas públicas para prevenção e combate do tabagismo, terceira causa de morte no mundo.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente dois bilhões de pessoas são vítimas do fumo passivo no mundo, sendo que destas, 700 milhões são crianças, que sofrem com maior incidência de bronquites, pneumonia, infecções de ouvido, dentre outras doenças. No Brasil, as crianças são 40% das vítimas do fumo passivo. Essa população tem um risco 30% maior de ter câncer de pulmão do que alguém não exposto e 24% maior de ter infarto agudo do miocárdio. Em bebês, o risco de morte súbita é cinco vezes maior, além de um maior risco de doenças pulmonares até um ano de idade.
“O tabagismo passivo também pode causar morte, assim como fumante ativos, sendo considerada a terceira causa de morte evitável no mundo e o maior responsável pela poluição em ambientes fechados. Não existe sistema de ventilação para ambientes fechados que seja eficiente para eliminar a exposição às substâncias tóxicas da fumaça ambiental do tabaco nem os riscos. Embora os fumantes passivos inalem uma concentração menor de fumaça do que os tabagistas, eles estão sujeitos às mesmas doenças que os fumantes”, explica Jonatas Leônio, médico de família e comunidade, membro do GT.
Os problemas de saúde a que o fumante passivo está exposto são inúmeros: câncer de pulmão ou da face, doença cardiovascular, infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e enfisema pulmonar, dentre outros. O ar poluído pelo cigarro contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro.
Esse risco aumenta se a convivência com fumantes ocorrer em ambientes fechados. Em um ambiente poluído por fumaça de cigarro, os não-fumantes podem respirar o equivalente a 10 cigarros no decorrer de um dia. De imediato, os fumantes passivos podem apresentar irritação nos olhos, tosse. Mesmo as pessoas que não fumam correm sérios riscos. Quando submetidas ao tabagismo passivo em ambientes fechados, têm um risco 30% maior de desenvolverem câncer de pulmão, 25% maior de desenvolverem doenças cardiovasculares além de asma, pneumonia, sinusite, dentre outras.
Sonia Martins, médica de família, coordenadora do Grupo de Trabalho da SBMFC, explica que a literatura científica também descreve que o tabagismo passivo pode provocar a ocorrência de cefaleia, alergias e aumento da pressão arterial. Estudos revelam que crianças menores de dois anos expostas ao tabagismo passivo são mais vulneráveis à otite e às condições respiratórias diretas e indiretas, como coriza, sibilo e irritação ocular. Apresentam, ainda, maior número de doenças associadas, absenteísmo escolar, idas aos serviços de urgência e hospitalizações.
Doenças
Está comprovado que o tabagismo é responsável por 25% das mortes por angina e infarto do miocárdio, 90% dos casos de câncer no pulmão, 25% das doenças vasculares (entre elas, derrame cerebral) e 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer (de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero, leucemia) e 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em fumantes. Além de hipertensão, aneurismas arteriais, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias, trombose vascular, osteoporose, catarata, impotência sexual no homem, infertilidade na mulher, menopausa precoce, complicações na gravidez, entre outras. Além disso, o tabagismo é um fator de piora para os portadores de asma brônquica, tuberculose pulmonar e outras infecções respiratórias.
Tratamento
“O tratamento psicológico é fator fundamental no tratamento do tabagismo. Isso porque o hábito de fumar é uma combinação de três dependências: química, comportamental e psicológica. A dependência psicológica é de difícil manejo sem o auxílio de profissionais capacitados. Para uma grande parte dos tabagistas, o cigarro é entendido como um fator de tranquilidade e relaxamento, além de haver forte associação do hábito de fumar com o modo de reagir às emoções. Uma outra grande parte apresenta sintomas de ansiedade e depressão que podem ser ‘mascarados’ pelo cigarro e são potencializados com a cessação do tabagismo”, reforça Leônio.
Além disso, uma parte importante dos sintomas da abstinência são de ordem psíquica, como a irritabilidade, tristeza, humor lábil, insônia e o desânimo, que quando não manejados adequadamente, são considerados fatores limitantes para o sucesso do tratamento. Uma boa abordagem psicológica, através da terapia cognitivo-comportamental e do treinamento de habilidades comportamentais, bem como o suporte dos demais integrantes da equipe multiprofissional são fatores fundamentais para o sucesso do tratamento.
O apoio farmacológico é parte importante do tratamento do paciente tabagista, não devendo, porém, ser supervalorizado e encarado como a única parte dele. Os fumantes que poderão se beneficiar da utilização do apoio medicamentoso são os que, além de participarem da abordagem cognitivo-comportamental, apresentarem um grau elevado de dependência à nicotina: fumantes que fumam 20 ou mais cigarros por dia; fumantes que fumam o 1º cigarro até 30 minutos após acordar e fumam no mínimo 10 cigarros por dia.
Dicas para parar de fumar
ü Recomenda-se que, sempre que possível, os pacientes tabagistas em processo de cessação devem ser acompanhados por uma equipe de saúde para um suporte adequado, o que resulta em maior taxa de sucesso no tratamento.
ü Para pacientes que não têm acesso ao acompanhamento de uma equipe de saúde o mais importante é que sejam orientados quanto aos principais sintomas da síndrome de abstinência, a duração destes sintomas, e sobre o manejo das crises de fissura. A síndrome de abstinência é uma intensa resposta do organismo à ausência de nicotina. Esta reação é uma readaptação natural do organismo a novos hábitos de vida. Os principais sintomas são: irritabilidade, ansiedade, insônia, tremores, fadiga, dores de cabeça, tosse, sensação de garganta seca, constipação intestinal, azia, gastrite e coriza. As manifestações são individualizadas e podem variar de pessoa para pessoa.
ü A duração dos sintomas é variável, mas costuma ser mais intensa nas primeiras duas semanas e serem praticamente imperceptíveis após 6 meses. As crises de vontade intensa de fumar, chamadas de fissura, acontecem com frequência nos primeiros dias e vão ficando mais raras com o passar dos dias. É possível controlar as crises de vontade de fumar. A crise dura de 1 a 5 minutos, e a maior recomendação é lembrar que o desconforto vai durar apenas um curto período.
ü Existem algumas dicas para enfrentar esses momentos sem ceder à vontade de voltar a fumar: Beber bastante água, respirar profundamente e com os olhos fechados e manter sempre à mão um "kit fissura". Alguns alimentos podem ser utilizados, como: cravo, canela, uvas passas, semente de abóbora ou casca de laranja seca torradas no forno, legumes crus (cenoura, erva-doce ou pepino cortado em palito), frutas, cristais de gengibre, balas e chicletes dietéticos, bolachas de água e sal e barras de cereal light.
Combate por Políticas Públicas
O aumento dos impostos e preços dos cigarros é a medida mais efetiva – especialmente entre jovens e populações de camadas mais pobres – para a redução do consumo. Estudos indicam que um aumento de preços na ordem 10% é capaz de reduzir o consumo de produtos derivados do tabaco em cerca de 8% em países de baixa e média renda, como o Brasil. “As evidências científicas demonstram ainda que o aumento dos preços contribui para estimular os fumantes a deixarem de fumar, assim como para inibir a iniciação de crianças e adolescentes”, finaliza Sônia.