Saúde mental e doenças osteomusculares representam grande parte de casos e necessidade de proteção ao trabalhador deve ser discutida
No mês do trabalhador, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) alerta que cada profissão tem problemas de saúde relacionadas à área de atuação e que há necessidade de avaliação dos sintomas de acordo com o dia a dia de cada profissional. Atualmente, o grupo de doenças osteomusculares (problemas em músculos, nervos, articulações e ligamentos) ainda representa a grande maioria de casos atendidos relacionados ao trabalho, em todas as áreas.
“Porém, outro grupo tem crescido muito nos últimos anos em todo o mundo são os problemas relacionados à saúde mental, especialmente a depressão e as diversas reações à percepção de violência psicológica no trabalho. Esses problemas estão presentes nos mais variados grupos de trabalhadores. A síndrome de burnout (esgotamento profissional) entre os médicos tem sido, por exemplo, uma grande preocupação em todo o mundo”, explica Francisco Arsego, médico de família e membro da SBMFC.
Quando se fala em doenças que mais atingem os trabalhadores, é importante enfatizar que é sempre difícil generalizar o termo “trabalhadores”, pois sabe-se que os problemas de saúde estão diretamente relacionados ao tipo de atividade exercida e ao contexto onde ele é exercido. Arsego explica que, por exemplo, os trabalhadores da área de higienização apresentam muitos problemas osteomusculares, mas isso pode ser revertido ou, pelo menos minimizado, se forem feitos ajustes no processo de trabalho ou fornecidos equipamentos adequados para o desempenho das tarefas desses profissionais.
As orientações para a prevenção das doenças relacionadas ao trabalho dependem muito de cada contexto que se insere cada profissão. O que sabemos com certeza é que estão intimamente relacionadas a uma política institucional que valorize a proteção ao trabalhador. Isso será refletido por meio de uma postura de respeito ao indivíduo e de investimentos: equipamentos, processos de trabalho, participação dos trabalhadores diretamente envolvidos, etc.
Formalmente, a legislação estabelece que cada empresa deve ter o seu Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) cujo foco principal é a prevenção e o diagnóstico precoce de problemas de saúde decorrentes do trabalho. É nessa perspectiva que são realizados os exames admissionais, demissionais e os exames médicos periódicos, além das ações de vigilância interna
É importante salientar que as empresas também são obrigadas a elaborar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que aborda a questão dos riscos ambientais existentes. Ou seja, numa visão mais moderna, a preocupação para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais é ampliada. Por exemplo, se há uma situação de contaminação de produtos tóxicos de uma empresa num determinado local, ela afetará toda a comunidade, e não apenas os seus trabalhadores.
Sobre carga horária ideal, não como há pré-definir uma única devido a complexidade das atividades e das funções exercidas pelo trabalhador. “Não pode haver uma regra única! Idealmente, ninguém deveria adoecer em função do seu trabalho. Acredito que deva haver é uma real preocupação do empregador com o bem-estar dos seus trabalhadores, que se traduz através de uma postura de real reconhecimento pelo trabalho realizado, salários justos e um ambiente que permita, na medida do possível, o exercício da liberdade e da criatividade”, complementa.
Arsego ainda reforça que nem sempre os profissionais de saúde – mesmo na Atenção Primária – estão alertas sobre os problemas de saúde relacionados ao trabalho. Algumas vezes ajudaria muito se o Médico de Família simplesmente perguntasse ao paciente qual o seu trabalho e se ele está feliz ao desempenhá-lo. Isso talvez ajudasse na abordagem de uma série de queixas aparentemente inespecíficas, como dores musculares crônicas ou sintomas depressivos, o que traria benefícios importantes para todos.
“Por fim, saliento que não há como separar o ‘paciente’ do ‘trabalhador’. Assim considero que os Médicos de Família e Comunidade, por ter uma prática médica mais integral, podem ter participação muito importante nos serviços médicos destinados aos trabalhadores, junto com os Médicos do Trabalho nas empresas. Há espaço para uma série de atividades de promoção de saúde, como estímulo a atividades físicas e controle do peso. Isso pode contribuir para a diminuição da prevalência de diabetes, hipertensão arterial e mesmo de problemas osteomusculares”, completa.