Por Guilherme Bruno Lima Júnior, médico de família, presidente da Associação Mineira de Medicina de Família e Comunidade (AMMFC) e membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)
Sempre me perguntei qual é o mais importante instrumento médico para ajudar nos diagnósticos. Seria o estetoscópio ou um exame de raio-X? Durante anos me convenci de que uma pequena maleta sortida deles me faria um bom médico. Mas existe um par que sempre esteve comigo: meus ouvidos. Pois um bom médico deve se capaz de ouvir a pessoa e ajudá-la no que necessita e espera, embora nem sempre o relógio, outra importante ferramenta médica, esteja a nosso favor.
Quem tem dor, por exemplo, pode ter pressa em ter alívio rápido. Outra pessoa que está com um problema intestinal crônico sem diagnóstico e sem melhora, não deve querer pressa para ser ouvida. Até quem está esperando por uma consulta do lado de fora, de olho no relógio, já tem expectativa sobre a duração de sua consulta. O tempo é precioso para todos os envolvidos e não pode ser desperdiçado.
Nesta corda bamba fica o médico, que tenta oferecer o melhor, equilibrando-se entre os desejos/expectativas/
Cada especialidade médica tem sua característica com relação ao tempo de consulta. Com o Médico de Família e Comunidade não poderia ser diferente, já que lida com uma população com as mais variadas necessidades em todos os ciclos de vida. Um Médico de Família que atende no Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, trabalha 40h (8h por dia, cinco dias na semana) por semana para acompanhar uma população, sendo otimista, em média de 3500 pessoas. Considerando uma agenda com vagas de 20 em 20 minutos para se oferecer a esta população, descontando o horário de 1h de almoço (é verdade, os médicos também almoçam!), são 21 consultas por dia, 105 por semana, 420 vagas de consulta por mês.
Alguns estudos de Atenção Primária buscam entender melhor este fenômeno da procura por atendimento médico ao longo do tempo. Outros mostram a variação dos tempos médios de consultas entre alguns países em que a Atenção Primária é forte. Na Alemanha, por exemplo, a média é de nove minutos por consulta. Na Holanda, já são 15 e na Suécia em torno de 29 minutos.
As necessidades individuais, desejos e expectativas dos pacientes são tão variados quanto o perfil dos especialistas médicos que eles procuram, seja de especialidades básicas seja das focais. Por mais flexíveis que sejam médico e paciente nos encontros, é necessário se pesar o coletivo a que se propõe a atender também. O equilíbrio não se atinge facilmente, é preciso tempo, habilidades de comunicação, uma abordagem centrada nas pessoas, as inovações tecnológicas e outras importantes ferramentas para maximizar e priorizar a relação humana.
Se você ou seu médico eventualmente se atrasarem para a consulta, não se culpem. O relógio pode escravizar, mas a infinita capacidade humana de ouvir o outro no seu tempo, liberta.