Compartilhe sua história profissional com nossos leitores. Por que decidiu cursar medicina e se especializar em Medicina de Família e Comunidade?
Foram várias as motivações para escolher cursar medicina. Além de gostar de me relacionar com pessoas e ajudá-las, havia uma inspiração baseada em um bisavô meu, que não cheguei a conhecer pois nasci anos após ele falecer: o médico Frederico Guilherme Falk. Ele foi professor da atualmente denominada Faculdade de Medicina da UFRGS, desde sua inauguração até falecer em 1938, quando exercia o cargo de Diretor desta Faculdade. Dizem que meu bisavô era médico e professor competente e muito humanitário. Trabalhou na Santa Casa, como professor da Faculdade, por décadas e com muito destaque. De toda a minha família de origem, paterna, materna, e também da família da minha esposa, incluindo antepassados, tios, primos, etc., só houve dois médicos até hoje: meu bisavô Frederico e eu.
a) Trabalhar por quarenta dias na pequena cidade de São Miguel do Aleixo, no sertão de Sergipe, onde nunca havia estado um médico em sua história. O primeiro “médico” da cidade fui eu, um estudante que havia concluído o quinto ano de medicina e tinha 22 anos. Era uma equipe de doze estudantes, cada um de um curso de graduação diferente dos outros, atuando com uma população extremamente pobre, miserável mesmo, quase todos analfabetos e com grande número de filhos, alta mortalidade infantil e materna, muita desnutrição e sérias doenças.
b) Ser monitor da maior equipe que o Projeto Rondon havia tido no RS até então: éramos 21 estudantes, de diferentes cursos universitários, em operação de quarenta dias, na cidade de Cachoeira do Sul. Treinei a equipe de alunos antes e fui muito bem-sucedido nesta equipe e em outras atividades de liderança de equipes no Rondon.
Essas atividades no Projeto Rondon, assim como a experiência de trabalho voluntário de educação para a saúde que eu realizava em uma vila carente de Porto Alegre, provavelmente foram os aspectos que mais me estimularam a optar por concorrer na Residência Médica em Medicina Geral Comunitária na Unidade de Saúde Escola São José do Murialdo. Fui classificado em 1ª lugar na seleção e considerado como o melhor residente durante 1981.
Ao final deste ano, embora tendo gostado demais da área de Medicina Geral Comunitária (atualmente denominada Medicina de Família e Comunidade), considerei que a qualidade do ensino mais específico de clínica (diagnósticos, tratamentos, etc.) não estava suficiente. Então decidi tentar ingresso na mais concorrida dentre todas as residências no RS, na época: a Residência em Clínica Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Passei e a cursei durante 1982 e 1983, tendo a concluído.
No ano seguinte, pedi reingresso no Murialdo, quando concluí o segundo ano de Medicina Geral Comunitária, tornando-me especialista nesta área, por residência.
O senhor faz parte da história da SBMFC. Por que decidiu se tornar sócio e depois integrar a diretoria, sendo presidente de cinco gestões e diretor de Titulação em outras duas?
Desde os anos finais da graduação em Medicina eu vinha lutando muito pela redemocratização do Brasil, por melhor distribuição de renda e justiça social, assim como por melhores políticas de saúde e universalização da assistência à saúde no país. Animado por estas causas, em 1986 usei todas as economias que tinha para ir a Brasília, onde participei como delegado oficial (com direito a voz e voto) na 8ª Conferência Nacional de Saúde – depois considerado o mais importante evento da história da saúde no Brasil. Depois participei de várias outras Conferências Nacionais de Saúde, após a nona realizadas a cada quatro anos.
Em 1985, durante o “I Encontro Nacional de Residentes e Ex-residentes de Medicina Geral Comunitária (em Petrópolis – RJ) fui eleito coordenador da Comissão Pró-reativação da Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária, atuando intensamente até ser lograda tal reativação no ano seguinte. Esta entidade havia sido fundada em 05 de dezembro de 1981 (também em Petrópolis, RJ), inclusive com registros em cartórios de estatutos e de diretoria eleita, mas desde lá não havia realizado nenhuma atividade e sua diretoria nunca mais havia se reunido.
Durante cinco gestões, nem sempre consecutivas (entre 1986 e 2004) fui o Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária (SBMGC, que após 2000 passou a ser denominada Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade – SBMFC) e fui Diretor de Titulação e Certificação da SBMFC em duas gestões (de 2004 a 2008). Na primeira gestão fui eleito durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília. Nas primeiras três vezes em que fui presidente, o vice-presidente foi o dr. Airton Stein (RS – hoje professor titular da UFCSPA) e nas duas últimas a dra. Maria Inez Padula Anderson (RJ – professora da UERJ e atual presidente da Confederação Ibero-americana de Medicina Familiar).
Em 1986 participei da Fundação da Sociedade Gaúcha de Medicina Geral Comunitária (hoje denominada Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade).
No mesmo ano, liderei o processo que culminou com o reconhecimento, pelo Conselho Federal de Medicina, da Medicina Geral Comunitária como especialidade médica e da Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária (hoje SBMFC) como a legítima representante desta especialidade no Brasil. Ver parecer e Resolução do CFM, citando meu nome, em http://www.portalmedico.org.br/pareceres/cfm/1986/29_1986.htm
Também em 1986 houve minha primeira participação como palestrante em congresso fora do Brasil, na área de Medicina Geral e Familiar, na Argentina.
Em 1987 tive a iniciativa da criação da Revista Brasileira de Medicina Geral Comunitária, que só teve um número e a Direção que nos sucedeu da Sociedade não deu continuidade. Já em 2004 fui um dos fundadores da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, da qual faço parte do Conselho Editorial até hoje, sendo Editor Associado.
De 1989 a 1990 pela segunda vez coordenei os trabalhos para nova reativação da Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária (desta vez entidade sem atuação desde agosto de 1988), o que se logrou em setembro de 1990, quando fui eleito e assumi minha terceira gestão como Presidente da SBMGC. Mas ao final da gestão posterior a que fiz parte, em 1994, não houve candidatos para compor uma nova diretoria e essa sociedade novamente parou suas atividades. Lamentavelmente bem no ano em que, meses depois, foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF) pelo Ministério da Saúde, com potencial para ampliar o mercado de trabalho e valorizar esta especialidade, com a colaboração da SBMGC.
No ano 2000, ajudei a organizar e participei, na qualidade de conselheiro científico e debatedor, do I Encontro Luso-brasileiro de Medicina Geral, Familiar e Comunitária, no Rio de Janeiro, onde foi decidido ser reativada, pela terceira vez, a Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária. E esse evento reaqueceu o movimento desta especialidade no Brasil e em Portugal.
No mesmo ano, criei algo muito raro para a época – um grupo nacional de debates por e-mails sobre a Medicina Geral Comunitária. Este grupo mais tarde foi oficializado como a Lista de Discussão pela Internet da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Sou o moderador desta Lista de Discussão desde sua criação até hoje.
Um dos principais assuntos inicialmente debatidos nesta Lista de Discussão foi a possível mudança de nome da especialidade no Brasil. Oito nomes foram lançados, inclusive o que era o oficial desde 1981 (Medicina Geral Comunitária). Após os debates organizei uma votação nacional em dois turnos, onde para o segundo turno foram “Medicina Familiar e Comunitária” (nome em quase todos os países de língua espanhola) e “Medicina de Família e Comunidade”, tendo vencido este último.
Coordenei os trabalhos para a reativação da Sociedade Nacional desta especialidade (totalmente desativada desde 1994), o que ocorreu oficialmente em abril de 2001. Eu já havia liderado as duas reativações anteriores, em 1986 e em 1990, mas esta terceira se mostrou, enfim, definitiva.
Em abril de 2001, participei e palestrei no “Seminário Internacional sobre Saúde da Família” na Escola de Saúde Pública do Ceará, em Fortaleza. Ao final deste seminário houve uma assembleia dos médicos presentes, de vários estados do país, onde se decidiu reativar a SBMGC e se elegeu diretoria em que, pela quarta vez, fui eleito e tomei posse como Presidente.
Durante 2001, respeitando a decisão da já citada votação em dois turnos, liderei o processo de mudança de nome da especialidade e de sua sociedade nacional para “Medicina de Família e Comunidade” e alteração deste nome junto ao Conselho Federal de Medicina e à Comissão Nacional de Residência Médica.
Em 2001 fui o único brasileiro palestrante em dois eventos internacionais, no “III Encontro de Medicina Geral e Familiar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” em Coimbra, Portugal, e no “V Congresso de Medicina Familiar da Região Mercosul da Confederação Ibero-americana de Medicina Familiar”, em Santiago, Chile.
Alugamos e organizamos uma sala na AMRIGS, que foi a sede da SBMFC de 2001 a 2004 e depois sede da Diretoria de Titulação e Certificação da SBMFC de 2004 2008. Nesta sala se trabalhou em todo o processo de editais, homologação de inscrições, elaboração de provas e de análise de currículos dos primeiros oito concursos para obtenção de Título de Especialista em Medicina de Família e Comunidade (TEMFC).
Em 2003 liderei a filiação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) à Associação Médica Brasileira (AMB), à Confederação Ibero-Americana de Medicina de Família (CIMF) e à Organização Mundial de Médicos de Família (WONCA).
Para a filiação da sociedade nacional da especialidade junto à AMB foram 21 anos de tentativas frustradas, até uma intensificação desta luta de 2001 a 2003, quando eu voltei a ser o presidente da Sociedade (já denominada SBMFC). Culminou com um convite para eu fazer uma defesa oral de vinte minutos junto ao Conselho Científico da AMB e depois, junto com outros colegas da Diretoria da Sociedade, nos retirarmos do auditório, no qual foi realizada votação quase unânime decidindo pela filiação definitiva.
Sou a única pessoa que participou de todos os 14 Congressos Brasileiros de Medicina Geral Comunitária / Medicina de Família e Comunidade (de 1986 até hoje). Fui palestrante em todos esses congressos, tendo feito parte das comissões organizadoras de quase todos e presidido o congresso de Porto Alegre. Os congressos ocorreram, na ordem, em Sete Lagoas (MG, 1986), Florianópolis (SC, 1987), Ouro Preto (MG, 1988), Porto Alegre (RS, 1991), Curitiba (PR, 2002), Rio de Janeiro (RJ, 2004), Belo Horizonte (MG, 2005), São Paulo, 2006), Fortaleza (CE, 2008), Florianópolis (SC, 2009), Brasília (DF, 2011), Belém (PA, 2013), Natal (RN, 2015) e Curitiba (PR, 2017).
Estes congressos foram fundamentais para o desenvolvimento e a consolidação desta especialidade médica no Brasil, assim como para a qualificação científica e visibilidade social desta área de conhecimento, ampliação do mercado de trabalho e congregação dos profissionais. A cada nova edição, o número de participantes e de palestrantes (nacionais e internacionais) foi crescendo e a qualidade aumentado.
Destaco o 6º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade, em 2004 no Rio de Janeiro, que ocorreu quase ao final da minha última gestão como Presidente da SBMFC, por ser um marco na consolidação definitiva desta especialidade no Brasil. Entre outros fatos, no pré-congresso aconteceu a prova do primeiro concurso para obtenção de Título de Especialista em Medicina de Família e Comunidade no país. Neste congresso fui palestrante em várias mesas redondas. Considero que o discurso de abertura deste congresso foi a mais inspirada e emocionante fala que fiz em toda minha vida, ao final percebendo que todos os presentes me aplaudiam em pé e muitos estavam chorando.
Na cerimônia de abertura deste 6º Congresso, planejei, organizei e conduzi uma homenagem aos seis principais iniciadores desta especialidade no Brasil (Ellis D’Arrigo Busnello – RS, Ricardo Donato Rodrigues – RJ, Carlos Grossman – RS, Guilherme Montenegro Abath – PE (in memmorian), Kurt Kloetzel – RS e Dante Romanó Junior – PR), sendo uma das atividades que mais me emocionou e gratificou ter feito em toda minha vida. Logo após, fui surpreendido por um grupo de jovens membros da comissão de organização do Congresso, por terem incluído igual homenagem também a mim e à Presidente do Congresso, a estimada amiga Maria Inez Padula Anderson.
Sou o único brasileiro que participou de todas as sete Cumbres Ibero-americanas de Medicina Familiar até hoje realizadas, tendo a primeira delas ocorrido em Sevilha (Espanha, 2002), depois Santiago (Chile, 2005), Fortaleza (Brasil, 2008), Assunção (Paraguai, 2011), Quito (Equador, 2014), San Jose (Costa Rica, 2016) e em Cali (Colômbia, 2018).
As Cumbres (nome em espanhol), ou reuniões de cúpula (em português), são eventos internacionais onde somente participam lideranças oficialmente convidadas, sendo elas os ministros da saúde dos países da América Latina, Espanha e Portugal (ou seus representantes) e grandes lideranças de entidades tais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA), a Confederação Ibero-americana de Medicina Familiar (CIMF) e as associações ou sociedades nacionais de Medicina de Medicina de Família e Comunidade (especialidade com nomes diferentes conforme o país) das nações desta região.
Ao final de cada Cumbre é aprovada uma “ata / carta da respectiva cidade”, incluindo diagnóstico situacional, propostas, acordos, compromissos, diretrizes e estratégias para os anos seguintes em toda a região, enfocando o desenvolvimento da Medicina Familiar e da Atenção Primária à Saúde da região. Também são aprovados relatórios técnicos de grupos de trabalho, tais como de ensino e formação de recursos humanos em Medicina Familiar e em Atenção Primária à Saúde, pesquisas, organização dos sistemas nacionais de saúde e seus serviços, prevenção quaternária, certificação e acreditação de especialistas, etc.
Participei também, e fui palestrante, na “I Cumbre Mercosul da CIMF”, seguida do “Congresso de Saúde da Província de Córdoba” e “VI Congresso de Secretários de Saúde e Diretores de Hospitais”, em Córdoba – Argentina, em 2002.
Fui também palestrante ou participante de vários eventos internacionais, tais como em diversos Congressos Ibero-americanos de Medicina Familiar e Comunitária (organizados pela CIMF), Congresso Mundial de Medicina de Família da WONCA (Rio de Janeiro, 2016) e Congresso Europeu de Medicina de Família da WONCA Europa (Lisboa, 2014).
Há também muitos outros eventos em que participei, ajudei na organização e/ou palestrei.
Recentemente, o senhor foi promovido a Professor Titular na Faculdade de Medicina da UFRGS. Como iniciou sua atuação acadêmica?
Durante meu segundo ano de residência no Murialdo, o ex-Diretor do Murialdo e professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRGS, Ellis Busnello, me convidou a ajuda-lo em uma disciplina inovadora do curso de medicina, denominada “Acompanhamento de Famílias”, pois poucos professores da FAMED haviam aceito serem docentes desta disciplina e era preciso muitas turmas (de poucos alunos cada). Por três semestres assumi sozinho várias turmas desta disciplina, mesmo elas estando oficialmente em nome de professores da FAMED, que me chamavam de “professor clandestino bem-vindo”. Isso aumentou meu gosto por ensinar, me motivou a fazer um curso de especialização em Metodologia do Ensino Superior, para me aprimorar, e ter vontade de um dia vir a ser professor da Faculdade de Medicina onde me formei médico em 1980 e onde meu bisavô trabalhou e se destacou durante décadas.
Em 1995 fui aprovado em um processor seletivo para professor substituto no atualmente denominado de Departamento de Medicina Social da UFRGS. Pouco tempo depois houve um concurso, onde fui um dos aprovados, e passei de professor substituto para professor efetivo, na classe de Auxiliar 2 (pois já tinha duas residências e uma especialização). Nenhum dos aprovados era mestre ou doutor, raridades naquela época, quando uma minoria tinha residência ou especialização.
Assim, de 1985 até hoje, sou professor do Departamento de Medicina Social (DMS) da Faculdade de Medicina da UFRGS. Alterei meu regime de trabalho de 20h para Dedicação Exclusiva (DE) em julho de 1996, após me exonerar do meu cargo de médico na Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, onde eu era médico concursado desde 1984.
Como são 32 anos de trabalho na UFRGS, foram inúmeras as atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão, que não há como resumi-las aqui. Muitas destas atividades foram relatadas e devidamente comprovadas no extenso memorial que precisei escrever e apresentá-lo em defesa pública, no concurso de promoção para professor titular. Ao final de todas as etapas, cumpridas todas as exigências e alcançadas as pontuações exigidas, a comissão de avaliação deste concurso me aprovou, com o conceito máximo. Assim, consegui alcançar o topo da carreira de um professor universitário.
Na sua opinião, quais são os atributos que um médico precisa avaliar para se tornar especialista em Medicina de Família e Comunidade?
Trata-se de uma especialidade com altas exigências para quem a pratica, em conhecimentos, habilidades e atitudes. Esse profissional necessita ter uma formação consistente, pois lida com a verdadeira alta complexidade, que é a da vida das pessoas, famílias e comunidades, e não a alta complexidade tecnológica, nem sempre necessária em seu trabalho.
A SBMFC tem realizado um grande trabalho nos últimos anos a respeito disso, que, em grande parte, está consolidado no documento “Currículo Baseado em Competências para Medicina de Família e Comunidade”.
A especialidade já avançou muito e cada vez mais ganha espaço e notoriedade no país. Para o senhor, o que falta para que todo brasileiro tenha seu médico de família e comunidade?
Apesar dos grandes avanços que a Medicina de Família e Comunidade tem alcançado historicamente, em especial no atual século, ainda estamos longe de alcançar as metas que almejamos e que a população necessita. Precisamos de mais informação para a população sobre o que é essa especialidade e seus benefícios, políticas públicas que a valorizem mais, melhoras na formação na graduação e nas residências em MFC, no mercado de trabalho e nas condições de trabalho na atenção primária, nos serviços públicos e privados. Mas sou otimista e creio que o bom senso irá prevalecer e os avanços acontecerão, mesmo que precisemos seguir lutando muito e tendo paciência e persistência.
Como professor, gostaria de indicar bibliografia para estudos e consultas?
São tantas publicações importantes, da WONCA, da SBMFC, artigos nacionais e internacionais de autores MFC, etc., que fica difícil indicar algumas em especial. Mas todos deveriam ler os clássicos internacionais de Barbara Starfield e Ian McWhinney, assim como usar muito os livros nacionais “Tratado de Medicina de Família e Comunidade” e “Medicina Ambulatorial”.
Quer deixar um recado para os estudantes de medicina que desejam seguir a especialidade e aos residentes?
Procurem saber mais sobre o que é essa especialidade, acompanhar, o mais possível, médicos de família e comunidade, que sejam bons modelos, tanto professores quanto profissionais da rede em bons serviços de saúde. Percebam se tem vocação e saibam que precisarão estudar e aprender muito, ter dedicação, empatia, habilidades de comunicação, flexibilidade, paciência e persistência, para serem bons profissionais.
Gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Julgo importantes algumas das atividades de assessoria e outras, que realizei fora da UFRGS e da SBMFC, entre as quais saliento as abaixo.
Prestei assessoria à Secretaria Municipal de Saúde do Município de Venâncio Aires – RS, de 1989 a 1992. Neste período essa cidade se tornou o terceiro município do país a conseguir a municipalização da saúde, e cujas políticas e leis na área de saúde foram consideradas como “modelos” pelo, que criou cartilhas distribuídas a todos os municípios do Brasil, contendo as essas leis, normas e diretrizes de políticas de saúde, com prioridade para a Atenção Primária à Saúde. Fui assessor do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) de 1990 a 1992. Em 1990, participei como um dos redatores da Lei Federal 8.080 de 19 de setembro (a Lei Orgânica da Saúde) e da Lei Federal 8.142 de 28 de dezembro (a Lei do Controle Social e dos Fundos de Saúde), por solicitação CONASEMS. Em 1992, participei da 9ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, como assessor do CONSASEMS e colaborando na Comissão de Redação do Relatório Final desta Conferência.
Durante toda minha vida acadêmica, participei de muitas pesquisas e várias publicações, muitas das quais relacionadas à MFC e à APS. Essas e outros aspectos da minha carreira estão no meu Currículo Lattes em http://lattes.cnpq.br/4625474362936658