Cientistas planejam criar sangue artificial com células-tronco

16 de dezembro de 2009

O estudo, previsto para durar três anos, será coordenado pelo Serviço Nacional de Transfusão de Sangue da Escócia. Os pesquisadores afirmam que a pesquisa poderá abrir caminho para uma fonte ilimitada de sangue para transfusões de emergência. O sangue artificial seria livre de contaminações por doenças difíceis de serem detectadas em exames nos sangues de doadores, como o mal da vaca louca (vCJD, que é a variante humana da encefalopatia espongiforme bovina).

Os pesquisadores testarão embriões humanos descartados após tratamentos de fertilização in-vitro para encontrar aqueles destinados a se desenvolver no grupo sanguíneo O-negativo, o grupo de doadores universais. O sangue do tipo O-negativo pode ser doado para qualquer pessoa sem riscos de rejeição e é a única opção segura quando o tipo sanguíneo do paciente é desconhecido ou não pode ser determinado imediatamente.

Esse tipo de sangue tem uma fonte de doadores limitada, porque somente 7% da população está dentro desse grupo sanguíneo. O projeto será financiado pelos bancos de sangue da Escócia, da Inglaterra e do País de Gales, pelo governo da Irlanda e pela ONG médica Wellcome Trust. Segundo Marc Turner, da Universidade de Edimburgo, que está coordenando o projeto, as pesquisas deverão começar nas próximas semanas. As células-tronco são células capazes de se desenvolver para criar qualquer tipo de tecido humano.

Cientistas já demonstraram que é possível tomar uma única célula-tronco de um embrião humano em estágio inicial e levá-la a se desenvolver em células sanguíneas maduras em laboratório. Uma empresa americana também já conseguiu produzir bilhões de glóbulos vermelhos a partir de células de embriões, mas as pesquisas foram paralisadas após a proibição de pesquisas com células-tronco no governo George W. Bush, revista pelo novo governo americano.

O desafio dos cientistas agora é como produzir as células sanguíneas em grande escala e transportar a técnica do laboratório para a beira dos leitos hospitalares, o que pode levar vários anos. "Devemos ter alguma prova do princípio nos próximos anos, mas estamos provavelmente entre cinco e dez anos de distância de um tratamento realista", diz Turner. "Em princípio, poderíamos garantir um suprimento ilimitado de sangue desta maneira." Apesar do potencial, o estudo também é alvo de críticas de grupos contrários ao uso de embriões para pesquisas.

"Assim como várias das afirmações associadas com as céulas-tronco, estes são os primeiros passos de uma pesquisa, em vez de uma cura logo ali na esquina, e tão hipotética quanto o resto das afirmações que tentam justificar a destruição de um embrião humano pelo benefício da humanidade", afirma Josephine Quintavalle, da ONG Comment on Reproductive Ethics.Para Quintavalle, a associação de bancos de sangue britânicos à pesquisa pode ter um efeito contrário, ao levar pessoas "que defendem o direito à vida do embrião humano" a relutar em doar sangue.

Com informações da BBC Brasil