A SBMFC realizou nos dias 16 e 17 de dezembro, no Rio de Janeiro, o workshop “Vivenciando um Registro Médico Orientado para o Problema e Baseado em Episódio – com ênfase em Lista de Problemas, SOAP e Episódio de Cuidado” (Experiencing an Episode-Based and Problem Oriented Medical Record – Transition Project Brazil), que tem como objetivo promover a formação de uma rede de pesquisadores no Brasil para a utilização da Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP) na Atenção Primária à Saúde, em lugar da atual CID.
Na ocasião, os médicos foram treinados em codificação com a holandesa Inge Okkes, uma expert em CIAP, por meio de uma metodologia participativa e dinâmica, com simulação de consultas com os grupos. Será também realizado um treinamento no uso do TransHis (leia mais), considerado um dos melhores softwares para extração de análise dos dados de prontuários eletrônicos, desenvolvido por um grupo de 15 MFCs holandeses que já está traduzido para o português em fase de ajustes finais, para que esteja pronto para uso em dezembro.
O workshop foi dirigido pelo presidente da SBMFC, Gustavo Gusso, com o MFC e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de Classificações e Prontuário Eletrônico da Sociedade, Gustavo Landsberg, que atualmente reside na Espanha e da holandesa Inge Okkes.
Em entrevista a SBMFC News, Landsberg falou sobre a relevância do Workshop para os MFCs brasileiros.
SBMFC News – Qual o principal objetivo deste encontro?
Gustavo Landsberg – O evento tem como principal objetivo formar uma rede de pesquisadores em todo o país, que utilizarão o prontuário eletrônico em sua prática clínica diária e codificarão tudo o que fazem com a CIAP.
SBMFC News – E o que representa este encontro para a MFC e APS?
Landsberg – Essa oficina representa um passo concreto no rumo ao uso da CIAP no Brasil. A CIAP é em geral muito bem recebida pelos MFCs, que conseguem ver claramente as vantagens de se utilizar uma classificação focada nas pessoas e não na doença e que contempla os problemas mais frequentes no dia a dia da APS, fornecendo ainda informações não apenas sobre o diagnóstico, mas também a respeito do motivo que levou o paciente à consulta e qual foi a conduta adotada pelo profissional. Entretanto, a CIAP ainda não é adotada como padrão no Brasil.
SBMFC News – Como será a dinâmica da oficina?
Landsberg – Na oficina, médicos de todo o Brasil serão treinados em codificação com a holandesa Inge Okkes, uma expert em CIAP, por meio de uma metodologia participativa e dinâmica, com simulação de consultas com os grupos.
Será também realizado um treinamento no uso do TransHis, que já está traduzido para o português em fase de ajustes finais, para que esteja pronto para uso em dezembro.
SBMFC News – No âmbito da APS, qual a importância da adoção da CIAP?
Landsberg – É de grande relevância para a APS brasileira, pois os dados coletados nos permitirão conhecer melhor os motivos que levam os pacientes a buscarem uma consulta médica, os problemas (e não apenas doenças) mais frequentes em APS e qual a conduta mais comumente adotada pelos MFCs frente a estes agravos.
Assim, ao longo do tempo, a coleta de dados com CIAP (e utilizando o conceito de episódio de cuidado, como faz o TransHis) permitirá também que possamos aprender mais sobre o comportamento das doenças, nos ajudando a lidar melhor no manejo da incerteza.
E qual a aplicabilidade do TranHis?
Médicos que atuam na APS frequentemente se deparam com pessoas que apresentam sintomas inespecíficos (ex.: fadiga), que poderiam tanto representar condições benignas e autolimitadas, quanto doenças potencialmente graves em seu estágio inicial.
Nesse sentido, a base de dados reunida pelo TransHis pode fornecer informações importantes para auxiliar o profissional em suas decisões – que obviamente serão baseadas principalmente no conhecimento prévio a respeito do paciente e em seu juízo clínico. Vale lembrar que o TransHis já traz incorporado um mapeamento de CIAP a CID, permitindo assim o uso dos dois sistemas.
SBMFC News – Como está a parceria com a Europa dentro do processo de adaptação da ferramenta TranHis para o uso no Brasil (vide nota publicada no site da SBMFC em 11.04.11)
Landsberg – A parceria com os colegas do Transition Project holandês é essencial para a continuidade do projeto, pois eles detêm a tecnologia do software e têm mais de 20 anos de experiência em análise dos dados. No encontro de Amsterdam, por exemplo, Kees Van Boven nos apresentou interessante aula sobre a utilidade de se fazer o diagnóstico do sintoma (e não sempre tentar atribuí-lo a uma doença, como normalmente fazemos). Essa afirmação provém de um estudo do grupo, que observou que muitos sintomas permanecem como tal no decorrer do tempo, não chegando a se diagnosticar nenhuma enfermidade antes que o quadro se resolva por si só.